22 Dezembro 2011
Chegou ao Vaticano um texto da Fraternidade São Pio X: uma documentação, não uma resposta. Enquanto isso, na França, cresce a ala dura antirromana.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 21-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Era esperada nestes dias a resposta dos lefebvrianos ao "preâmbulo doutrinal" proposto pelas autoridades vaticanas. E ela chegou na última hora. Só que, com uma certa surpresa, a resposta... não responde. Isto é, não se trata da resposta que a Comissão Ecclesia Dei esperava (positiva, negativa ou com pedidos de esclarecimentos e de modificações do texto do preâmbulo em pontos específicos). O texto vindo da Fraternidade será agora estudado pela comissão presidida pelo cardeal William Levada e pelo secretário Guido Pozzo.
Em setembro passado, a Comissão Ecclesia Dei havia entregue nas mãos de Dom Fellay (foto) um preâmbulo doutrinal, fruto dos diálogos entre os lefebvrianos e a Santa Sé, pedindo-lhe que o aceitasse, tendo em vista o reconhecimento canônico da Fraternidade São Pio X: embora Bento XVI tenha revogado as excomunhões aos quatro bispos que Lefebvre havia consagrado sem o mandato pontifício, o grupo tradicionalista ainda está em uma situação irregular do ponto de vista canônico.
O preâmbulo, nunca publicado, não era um texto para "pegar ou largar". A Santa Sé tinha previsto a possibilidade de que os lefebvrianos pedissem esclarecimento e propusessem mais especificações. Em substância, porém, ele não poderia ser mudado, já que o Vaticano pedia – tendo em vista a regularização através da criação de uma prelazia pessoal dependente ao papa – que a Fraternidade aceitasse a "profissão de fé" exigida para qualquer pessoa que assuma um cargo eclesiástico. E pedia que reconhecesse ao magistério da Igreja a última palavra em caso de controvérsias doutrinais.
Fellay, mesmo não tendo publicado o texto (provisório) do preâmbulo, no entanto, antecipou em pelo menos duas ocasiões públicas – uma entrevista e uma homilia – as dificuldades que os lefebvrianos veem como inerentes aos preâmbulo, dizendo abertamente que, da forma como está, esse texto não pode ser aceito. Muitos, em Roma e fora de Roma, consideraram as palavras do superior como um sinal das dificuldades internas da Fraternidade: a linha de Fellay foi objeto de fortes críticas e de aberta discordância por parte dos superiores de vários distritos, contrários ao acordo com a Santa Sé.
Agora, um documento chegou, mas não era aquilo que o Vaticano esperava, porque se trata – explicam as fontes – de "uma documentação", não de uma resposta. Em suma, Dom Fellay parece querer ter mais tempo, adiar a decisão, evitar se pronunciar em um sentido ou outro, ou pedir esclarecimentos e eventuais modificações ao texto proposto pela Santa Sé.
Multiplicam-se, enquanto isso, rumores incontrolados sobre os dissídios internos da Fraternidade. Um boletim do site sedevacantista Virgo-Maria.org fala abertamente da possibilidade de que Fellay seja "deposto" antes do capítulo que, em julho de 2012, deverá renovar os cargos internos da Fraternidade. Mas o site é conhecido por ter dado, em outras ocasiões, informações sem fundamento.
Além das declarações delirantes contidas no boletim que fala da "apostasia" de Roma e do papa, é inegável que uma forte dissidência interna, contrária ao acordo com Roma, cresceu nos últimos anos no grupo lefebvriano. Agora, será preciso esperar para saber como a Santa Sé reagirá à "resposta que não responde".
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Os lefebvrianos respondem sem responder - Instituto Humanitas Unisinos - IHU