Por: André | 08 Dezembro 2011
Em um seminário em Buenos Aires, ao lado do ministro Amado Boudou e do prestigioso economista Bernardo Kliksberg, o Prêmio Nobel de Economia de 2001 Joseph Stiglitz questionou os planos de ajuste a advertiu que, com este rumo, o euro tende a desaparecer.
A reportagem é de Tomás Lukin e está publicada no jornal argentino Página/12, 07-12-2011. A tradução é do Cepat.
"A austeridade que a Europa está aplicando é um caminho suicida, não estimula o crescimento nem a criação de empregos e aprofunda o déficit", sentenciou o Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz. Em um salão abarrotado da Faculdade de Ciências Econômicas da UBA, o economista norte-americano fez uma conferência em que questionou os planos de ajuste fiscal, a crescente concentração do ingresso nos países centrais e considerou que o euro desaparecerá caso persistir a atual orientação da política econômica europeia. O professor da Universidade de Columbia reclamou uma expansão do gasto para reativar a economia global e destacou a necessidade de reestruturar as dívidas das economias europeias assim como as dos indivíduos hipotecados nos Estados Unidos. "Os custos sociais das receitas econômicas neoliberais são pavorosos", assinalou o economista Bernardo Kliksberg no mesmo encontro, chamando a atenção para o forte aumento no desemprego juvenil na Espanha, Grécia, Itália e entre a população negra nos Estados Unidos.
"Criar mais emprego é a única receita econômica possível e isso requer uma forte presença do Estado", enfatizou o ministro da Economia e vice-presidente eleito, Amado Boudou, encarregado de fazer o encerramento do evento, do qual participaram também o decano da Faculdade, Alberto Barbieri, e o economista Daniel Heyman. "A economia global enfrentará uma profunda crise e turbulência pelos próximos anos devido a uma má filosofia econômica; mas a boa notícia é que a América Latina foi muito bem na última década. Os governos da região aplicaram boas receitas, acreditaram nos estímulos fiscais keynesianos e diversificaram suas economias. Essas políticas permitiram a países como Argentina e Brasil começar a melhorar a elevada desigualdade de ingressos. Temos que aprender da América Latina", considerou Stiglitz. O Prêmio Nobel de Economia foi apresentado por Kliksberg, que destacou o compromisso e a coerência do professor da Universidade de Columbia desde o início da crise financeira internacional.
O Nobel de Economia manteve nesta terça-feira pela noite um breve encontro com a presidenta Cristina Fernández de Kirchner na Casa Rosada. Na quarta-feira teve outra participação em um seminário organizado pelo Banco Mundial, do qual participou também o secretário das Finanças e futuro ministro da Economia, Hernán Lorenzino. "Não tenho dúvidas de que as autoridades europeias estão comprometidas em salvar o euro, mas o fazem com uma filosofia econômica que o condena. A proposta de "união fiscal’ negociado pela Alemanha e a França vai fracassar porque se trata de mais austeridade. Dão ouvidos aos economistas ortodoxos da visão dominante", advertiu Stiglitz no salão de atos da UBA diante de 600 estudantes, professores e diretores dessa casa de estudos. Na primeira fila do auditório se sentaram o subsecretário de Financiamento, Adrián Cosentino, e parte da equipe de Lorenzino.
"Não foi o déficit fiscal que causou o estancamento. Pelo contrário, o estancamento causou esse déficit. Por isso, a austeridade não funciona. Os Estados Unidos fizeram esse experimento no começo da crise de 1929 e acabou com a Grande Depressão e a Argentina aplicou essas políticas nos anos 90 guiada pelo FMI. Mas na Zona do Euro não aprenderam a lição. O problema é revertido criando empregos e eliminando os recortes impositivos para os mais ricos. Há espaço para estimular a economia", considerou Stiglitz. Apesar do otimismo, o ex-diretor do Banco Mundial considerou que o estancamento econômico e a turbulência continuarão pelos próximos anos.
Tanto Stiglitz como Boudou destacaram a importância de reestruturar a dívida soberana dos países europeus e das pessoas com hipotecas nos Estados Unidos para fazer frente à crise. "A Argentina pode ser uma guia para a reestruturação das dívidas. A mensagem dessa experiência é que existe vida após a dívida, a Argentina pagou um custo, mas voltou a crescer", considerou Stiglitz. O vice-presidente eleito, por sua vez, advertiu que "há um duplo padrão em economia. Nos anos 90 diziam que não se devia resgatar os países porque isso causaria a crise do sistema financeiro. Agora dizem que os bancos são "muito grandes para falir’ e que é preciso salvá-los. É uma lógica muito difícil de romper, por isso necessitamos de novas ideias".
"A desigualdade e a concentração da renda debilitam o crescimento econômico. O sistema de mercado funcionou bem para o 1% mais rico da população, mas não para o resto da população. Esse sistema foi exportado e na América Latina muitos compraram esse produto que deu maus resultados. Mas, atualmente, muitos se deram conta de que esse modelo não serve", explicou Stiglitz. "Por trás de toda agenda econômica há uma agenda política que é determinante para conhecer as consequências dessas decisões", precisou Boudou. Nesse sentido, o Prêmio Nobel de Economia advertiu que "os bancos centrais independentes, na realidade nunca são independentes. Pelo contrário, costumam ter um programa político por trás que os guia a diminuir o Estado, baixar os impostos dos ricos e aumentar a desigualdade, como aconteceu no Federal Reserve dos Estados Unidos sob o comando de Alan Greenspan".
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"A austeridade que a Europa está aplicando é um caminho suicida", afirma Stiglitz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU