07 Dezembro 2011
Um resultado obtido pelo LHC, maior acelerador de partículas do mundo, ameaça abalar as fundações da ciência sobre esses componentes elementares do Universo. E com muito charme.
A reportagem é de Salvador Nogueira e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 07-12-2011.
Não, não rolou um desfile fashion dos tijolos básicos da matéria pelos longos corredores subterrâneos do acelerador, instalado entre a França e a Suíça. Mas a partícula que os físicos investigaram foi batizada, anos atrás, de quark charm.
Os quarks são os componentes básicos das partículas que estão no coração dos átomos: os prótons e nêutrons.
Eles também podem ser combinados para produzir várias outras partículas, muitas vezes instáveis.
Em colisões bombásticas de partículas, o LHC fabricou toneladas de tijolos elementares conhecidos como mésons D, compostos por um quark charm e outro chamado up.
Instáveis, eles se desintegram tão rápido que os detectores do acelerador nem conseguem vê-los. Mas, ao se desintegrar, os mésons D disparam partículas mais estáveis, estas sim detectáveis. A partir delas, os físicos reconstruíram características das entidades que as precederam.
No experimento, foram produzidos mésons D de dois tipos. Uns usavam um quark charm, enquanto outros usavam um antiquark charm.
Para toda partícula, existe uma versão "espelhada" dela mesma. São as antipartículas, que têm características semelhantes às contrapartes, mas com carga oposta.
Um exemplo é o pósitron, usado nas tomografias. Ele é uma versão "alternativa" do elétron, igualzinho em tudo, mas com carga positiva. O fato de ser possível criar antimatéria em laboratório já traz um enigma: por que o Universo é feito só de matéria?
Os cientistas desconfiam que há uma diferença sutil entre matéria e antimatéria -uma seria um pouco mais fabricada que a outra. Essa sobra de matéria seria a base de tudo que vemos hoje no Cosmos (o resto teria se aniquilado, uma vez que partículas e antipartículas, quando se encontram, desintegram-se em energia pura).
A teoria que explica o comportamento das partículas, o Modelo Padrão, consegue comportar uma pequena variação. Mas o que os cientistas encontraram no LHC foi uma variação de 0,8%, bem maior que a esperada.
"Isso significa que pode estar faltando alguma coisa no Modelo Padrão. Algum tipo de física nova que a gente não tenha", afirma Miriam Gandelman, pesquisadora da UFRJ que trabalha no LHC.
Os resultados foram apresentados em Paris. Se confirmados, podem iluminar o caminho para uma nova etapa da física. Mas, segundo Gustavo Burdman, da USP, é cedo para presumir isso, porque esse resultado precisa passar por novos testes.
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Teste no LHC ameaça base teórica da física - Instituto Humanitas Unisinos - IHU