Quatro das cinco usinas hidrelétricas que seriam erguidas no Peru por construtoras brasileiras e que exportariam o excedente de energia para o Brasil não sairão do papel por conta da oposição de populações indígenas e da pressão de grupos ambientalistas, disse uma fonte do governo brasileiro familiarizada com o tema. As empresas que estão envolvidas nesses projetos -
Eletrobras,
Odebrecht,
Engevix e
Andrade Gutierrez - confirmam a paralisação dos trabalhos e dizem aguardar a autorização de Brasília para retomar os contatos com o governo peruano.
A reportagem é de
Fabio Murakawa e publicada pelo jornal
Valor, 30-11-2011.
Os empreendimentos enfrentam forte oposição no país e uma repercussão negativa na mídia peruana por alagarem reservas nacionais e provocarem o deslocamento de povos nativos.
A primeira a jogar a toalha oficialmente foi a
Odebrecht, que na semana passada anunciou que não tem mais interesse em construir a hidrelétrica de Tambo 40, no centro do país, após reunião de membros da empresa com indígenas da
Central Ashaninka do Rio Ene, que vem liderando um movimento contra a construção das usinas.
Ontem, consultadas,
Eletrobras,
Andrade Gutierrez e
Engevix confirmaram a paralisação de outros três projetos:
Tambo 60,
Mainique 1 e
Paquitzapango, todos na Amazônia peruana.
"Esses quatro projetos vão rodar", disse ao Valor a fonte do governo brasileiro. "Em todos eles, as empresas estão jogando a toalha."
As cinco centrais hidrelétricas fazem parte de um acordo entre os dois países. Empreiteiras brasileiras e a Eletrobras construiriam e operariam as usinas no país vizinho, gerando um total estimado em cerca de 6.000 MW.
As empresas formaram um grupo para desenvolver os projetos, sob o guarda-chuva do acordo energético Brasil-Peru, assinado em 2010 pelos então presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e
Alan García. O tratado, explica a fonte do governo, "é um marco legal que permite que sejam construídas hidrelétricas para fornecer energia ao Peru e exportar o excedente ao Brasil", além de interligar os sistemas dos dois países.
"Estamos em `stand by`. Não somos nós que vamos resolver os problemas que o Peru enfrenta", disse
José Antunes Sobrinho, diretor-executivo Engevix. "Se continuar a indefinição, esse acordo vai morrer com o tempo."
Das cinco usinas previstas, apenas uma deve se concretizar: a
hidrelétrica de Inambari, cujas obras serão tocadas pela construtora brasileira
OAS. Esse é o único dos cinco projetos que conseguiu ultrapassar a etapa de estudos de pré-viabilidade, já tem técnicos em campo e uma previsão de custo - em torno de US$ 4,9 bilhões, segundo
Agusto César Uzêda, diretor da Área Internacional da OAS.
Uma outra fonte do governo brasileiro diz que esse projeto já está em análise no
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e que o banco de fomento brasileiro deve financiar entre 30% e 40% da obra. "Se levarmos em conta apenas a agenda técnica, podemos começar as obras já em 2012", disse
Uzêda. "A usina deve entrar em operação quatro anos depois disso."
Segundo
Uzêda, a geração de energia por 30 anos de concessão em
Inambari representa o equivalente à metade de todas as reservas de gás certificadas no Peru, em termos de potencial energético. Ele explica que a obra sofre menos resistência por ocupar uma área já degradada e onde não há grandes populações indígenas.
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Oposição indígena barra usinas brasileiras no Peru - Instituto Humanitas Unisinos - IHU