28 Agosto 2011
Jesuítas brasileiros organizam um congresso internacional sobre a teologia da libertação, programado para se desenvolver entre os dias 8 a 11 de outubro de 2012, exatamente um ano antes da grande reunião mundial dos jovens.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 28-08-2011, com o título "Brasil: "duelo teológico" entre JMJ, Vaticano II e a teologia da libertação". A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há agitação no país com mais católicos do mundo. A sede da próxima Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro, 18 a 23 de julho de 2013) foi anunciada pelo Papa Bento XVI na conclusão do megaencontro de Madri. Enquanto a Santa Sé confere ao Brasil a Jornada Mundial da Juventude 2013, os jesuítas brasileiros organizam um congresso internacional sobre a teologia da libertação, programado para os dias 8 a 11 de outubro de 2012. Assim como na Espanha, o "Woodstock católico" no Brasil também será precedido por "jornadas diocesanas", isto é, por encontros entre as dioceses do país anfitrião e as dos países de origem dos jovens.
Enquanto isso, um ano antes da JMJ, os "adversários teológicos" de Joseph Ratzinger (que, como prefeito do ex-Santo Ofício, havia chamado à ordem os teólogos da libertação, inclinados pelo marxismo) voltam ao auge por meio de um congresso mundial dedicado à esquerda terceiro-mundista católica. A promoção, no sul do Brasil, é dos jesuítas do "Humanitas Unisinos", o instituto da Unisinos University [sic], especializados em diversas áreas de estudo: antropologia, direito, teologia, ciências sociais e políticas, filosofia e música.
A universidade jesuíta do Valle del Rio dos Sinos [sic] (40 mil estudantes) é um prestigiado centro difusor de cultura para toda a América do Sul e recentemente promoveu uma série de seminários internacionais para analisar o projeto de globalização desenvolvido pela Companhia de Jesus desde os primórdios e as suas repercussões ao longo dos séculos, até a época contemporânea. Com o objetivo, em particular, de focalizar a ação e a participação da ordem religiosa na formação e difusão da cultura moderna e o seu papel espiritual e cultural no Brasil e na América hispânica, mediante o apostolado missionário e o compromisso educacional.
O país com o maior número de católicos do mundo (140 milhões) encontra-se diante da situação de ter que acertar as contas com uma difícil convivência entre a Igreja Católica e as chamadas seitas de matriz cristã (em sua maioria pentecostais), que reúnem sempre mais prosélitos, sobretudo entre as camadas mais baixas da população. Em maio de 2007, o primeiro encontro do papa com os jovens evidenciou as dificuldades pelas quais atravessa a Igreja Católica do Brasil: os organizadores esperavam 70 mil jovens (40 mil no estádio e 30 mil do lado de fora). Na realidade, os números foram decisivamente menores: no estádio, restaram diversos espaços e assentos vazios, enquanto do lado de fora eram poucos os jovens. Ao todo, portanto, os participantes foram 35 mil, segundo os dados fornecidos pelos próprios organizadores: não muitos, se considerarmos que São Paulo conta com 11 milhões de habitantes.
Em todo caso, o estilo Ratzinger, sóbrio e essencial, se impôs também na viagem de 2007 no Brasil. O Papa não se importou com os números, mas se concentrou na mensagem. Não preocupado com as deserções, Bento XVI dirigiu aos jovens um longo e pesado discurso no qual convidou-os a deixar de lado seus medos e ter confiança em Cristo, guardar a castidade e defender o valor do matrimônio, reagir à violência e evitar toda forma de corrupção. Única concessão aos temas mais sentidos pelos jovens: o apelo para salvar a Amazônia, unido à oferta de 200 mil dólares doados pelo papa para salvar a floresta e os projetos de desenvolvimento das populações indígenas.
De resto, Bento XVI não buscou o consenso, mas se comprometeu a lançar mensagens claras. A visita incluiu a missa de canonização, em São Paulo, do Beato Frei Galvão (o primeiro santo nascido no Brasil) e a indicação do santuário mariano de Aparecida (170 km de São Paulo) para a inauguração da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que foi a principal razão da viagem do pontífice ao Brasil.
"Junto com várias outras organizações teológicas – explica Moisés Sbardelotto, porta-voz [sic] do Instituto "Humanitas Unisinos" –, a nossa universidade está organizando um Congresso Continental de Teologia em 2012, que será hospedado nas instalações da universidade para celebrar o 50º aniversário da convocação do Concílio Vaticano II e o 40° da publicação do livro de Gustavo Gutiérrez, Teologia da libertação. Perspectivas". Mas a ideia – evidencia Moisés Sbardelotto – "não é só a de celebrar uma memória, mas também propôr novas perspectivas para uma teologia progressista do continente americano".
Ontem ocorreu o lançamento oficial do sítio em inglês e em espanhol sobre o evento (www.unisinos.br/eventos/congresso-de-teologia/), e os organizadores estão planejando "reunir teólogos como o próprio Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff, Jon Sobrino e outros `pais` da Teologia da Libertação. "Será um momento muito especial para a nossa Igreja", afirma Moisés Sbardelotto. "E confiamos que também haja interesse na Europa para divulgar essa boa nova do Espírito".
Em maio de 2007, uma insólita batalha judiciária acompanhou o encontro de Bento XVI com os jovens brasileiros. Os organizadores haviam escolhido o pequeno estádio municipal do Pacaembu para esse encontro, um dos momentos mais significativos da visita do papa a São Paulo, no Brasil. Mas, apenas duas semanas antes, o mesmo estádio havia sido o palco de um grande encontro promovido por uma das Igrejas pentecostais que estão atraindo um número sempre crescente de fiéis arrebatados da Igreja Católica (nos últimos 30 anos, a porcentagem dos católicos brasileiros sobre o total da população diminuiu de 91,7% para 73,8%, enquanto apenas as Igrejas protestantes evangélicas subiram de 5,2% para 17,9%).
Os pentecostais haviam organizado um evento de música e de oração com um público enorme, que havia paralisado completamente a região. Por isso, os moradores recorreram à Justiça Federal, pedindo que o encontro com o papa fosse cancelado ou transferido para outra estrutura, para evitar que, em poucos dias, o bairro se encontrasse novamente no caos.
Nada foi feito: o governo interveio para reforçar que o encontro com o papa era de interesse nacional e seria realizado de qualquer maneira. Por outro lado, seria incrível se, a menos de dez dias da visita de Bento XVI, o encontro com os jovens fosse cancelado por causa de um comitê de bairro.
O episódio, porém, foi sintomático do clima difícil que se respira na Igreja e na sociedade brasileiras. Os cristãos de base atribuem a João Paulo II e ao seu guardião da ortodoxia, Joseph Ratzinger, a "normalização", na década de 1980 e 1990, do clero e do episcopado sul-americano e de tê-lo enchido de expoentes do Opus Dei e dos Legionários de Cristo, colocando à margem aqueles teólogos da libertação que haviam desviado muito para a esquerda o centro de gravidade da Igreja, dialogando com aquele comunismo que o Vaticano, ao contrário, estava combatendo no Leste Europeu.
E a atual e dramática hemorragia de fiéis em favor das seitas evangélicas também seria o fruto da marginalização dos padres que estão em contato mais próximo com as classes populares trabalhadoras e com as massas das favelas.
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Nota da IHU On-Line: Leia a "nota de esclarecimento" publicada nas Notícias do Dia de hoje a respeito dessa notícia.
A nota também foi publicada pelo blog de Giacomo Galeazzi, hoje, que é hospedado pelo Vatican Insider.
Sítio do Congresso Continental de Teologia é lançado. Veja aqui!
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Congresso Continental de Teologia é notícia na Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU