03 Agosto 2011
O chamado do papa aos jovens do mundo também inclui os "indignados", os jovens que deram vida ao desesperado e confuso movimento do 15-M em Madri. O "povo" do protesto está convidado para a Jornada Mundial da Juventude, porque o diagnóstico negativo sobre a crise social também é compartilhado pelos católicos, assegurou Yago de la Cierva, diretor-executivo da JMJ.
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez, publicada no sítio Vatican Insider, 04-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com essas palavras, ele respondeu às dezenas de pessoas que, neste 2 de agosto, foram desalojados da Puerta del Sol, no centro da capital espanhola, onde tinham montado um acampamento de protesto desde o último dia 15 de março. Enquanto a polícia fechava a praça, os manifestantes infestaram as redes sociais com frases contra Bento XVI, a quem jogaram a culpa pela expulsão.
"Jogar a culpa ao papa de que, depois de três meses e meio, tanto o governo do Partido Socialista Operário Espanhol quanto o conselho do Partido Popular concordem em limpar uma praça pública é um exagero", afirmou De la Cierva.
"É como jogar a culpa ao papa pelo fato de prenderem uma pessoa que tenta fazer algo ilegal. Nós não temos pronunciamos nenhuma manifestação pública contra absolutamente ninguém. A JMJ não é contra ninguém nem qualquer coisa", disse.
A menos de 15 dias da chegada do líder máximo da Igreja Católica a Madri, as forças da ordem liberaram uma das principais áreas da cidade que irá acolher alguns atos públicos por ocasião da JMJ, programada para os dias 16 a 21 de agosto próximo.
Nesta semana, algumas associações ligadas ao 15-M anunciaram que irão aderir a uma manifestação convocada por grupos seculares para a tarde do dia 17 de agosto contra a viagem do bispo de Roma. Os demandantes utilizam como desculpa o custo da visita apostólica, apesar das muitas explicações dos organizadores: "A JMJ não vai custar dinheiro do erário público porque é um evento autofinanciável".
Mesmo assim, os "indignados" viram no encontro dos jovens uma oportunidade para revitalizar o movimento, em um contexto em que a Espanha padece uma profunda crise.
"Nós não temos nenhuma preocupação com as marchas de protesto. Preocupa-nos mais a questão da tensão, em que não estamos participando porque não somos contra ninguém nem nada. É mais: a convocatória do papa aos jovens do mundo também é dirigido a eles", disse Yago de la Cierva.
Ele reconheceu que "muitas das questões que os indignados defendem nós compartilhamos, por exemplo, a situação incômoda em que o país se encontra, não somente do ponto de vista econômico, mas também de crise de valores, de crise política, de corrupção nas instituições ou de falta de representatividade". Mas esclareceu que os católicos não compartilham o tratamento do problema, porque, embora advertem que os "indignados" têm razão em como descrevem a realidade, a postura cristã não é a de protestar, mas a de se perguntar o que fazer para sair das dificuldades, sempre a partir do âmbito constitucional.
Ele alertou que a resposta está em formar as pessoas para que exijam que os políticos cumpram a lei, animem os cidadãos a serem extremamente duros com os políticos que violaram a lei, os quais devem ser expulsos da política e, nessa linha, a serem muito mais radicais, porque a mensagem cristã é fomentar o pagamento dos impostos, respeitar a autoridade, mas, ao mesmo tempo, ser exigente com a autoridade.
"Achamos que a situação é muito dura, mas há uma saída. A JMJ quer destacar a necessidade do trabalho para tornar realidade a esperança, porque é possível sair do problema, mas não protestando, não pichando os bancos, mas sim transformando as instituições financeiras para que mudem seus critérios economicistas. Não se consegue isso com violência, impedindo que se trabalhe, muito pelo contrário", afirmou.
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O Papa e os "não indignados" da JMJ de Madri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU