15 Julho 2011
O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, descreveu hoje como "vergonhosa" a atuação do Vaticano nos casos de abuso sexual contra menores cometidos por sacerdotes católicos no país. "Acredito que é absolutamente vergonhoso que o Vaticano tenha se posicionado da forma como fez sobre algo tão delicado e pessoal, algo que deixa marcada a pessoa afetada por toda a vida. A lei deste país não vai se deter perante uma batina ou um clergyman", disse Kenny.
A reportagem é da agência Efe, 14-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Taoiseach (primeiro-ministro) fez essas declarações em resposta a um relatório divulgado nesta quarta-feira sobre abusos sexuais cometidos por sacerdotes católicos na diocese irlandesa de Cloyne, no sul do país, que acusa seus responsáveis de "ignorar" e "mentir" sobre as denúncias apresentadas há apenas três anos.
Nesse sentido, Kenny anunciou que seu governo irá redigir uma nova legislação para penalizar a ocultação de informação em casos de abuso sexual.
Ele também confirmou que o vice-primeiro-ministro e titular dos Assuntos Exteriores, Eamon Gilmore, se reuniu hoje com o núncio apostólico da Irlanda, Giuseppe Leanza, para lhe pedir explicações.
O relatório citado eleva suas críticas até as mais altas instâncias da Igreja Católica, qualificando de "totalmente inútil" a posição de Roma acerca das diretrizes estabelecidas em 1996 para abordar os casos de abusos.
O texto revela que o Vaticano aconselhou as autoridades eclesiástica irlandesas a lidar com essas diretrizes como "mero material de leitura" .
Em uma carta secreta enviada por Leanza a todos os bispos irlandeses em 1997, o representante do Papa no país escreveu: "Em particular, a questão da `denúncia obrigatória` dá margem a sérias reservas de natureza moral e canônica" .
O relatório sobre a diocese de Cloyne, de 400 páginas, destaca a figura de seu ex-bispo John Magee, de quem se afirma que "abordou com pouco ou nenhum interesse os casos de abuso sexual contra menores até 2008".
Essa investigação, que concluiu em dezembro passado, foi encomendada pelo Executivo de Dublin há três anos, depois que um órgão de supervisão da Igreja reconheceu que Magee atrasou e, de alguma forma, impediu as investigações sobre supostos casos de pedofilia denunciados em sua diocese entre 1996 e 2009.
O prelado, que renunciou a seu cargo no ano passado, foi secretário particular dos papas Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II.
O relatório, elaborado pela juíza Yvonne Murphy , também critica o "número dois" dessa diocese, Dom Denis O`Callahan, por "bloquear" as denúncias e não seguir as diretrizes definidas em 1996 pelo Vaticano para abordá-las, particularmente a que recomenda alertar a polícia e as autoridades competentes.
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Primeiro-ministro irlandês considera "vergonhosa" a atuação do Vaticano nos abusos do clero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU