A Europa acusa as agências de classificação de risco de desestabilizar o mercado depois do rebaixamento de
Portugal e propõe novas medidas para restringir o poder dessas empresas.
A reportagem é de
Jamil Chade e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 07-07-2011.
O anúncio da ofensiva vem no momento em que a decisão da
Moody"s sobre a dívida de Lisboa reabriu os temores na Europa de que o contágio da situação na Grécia é inevitável.
Há dois dias, a agência passou a classificar os papéis da dívida de
Portugal de "junk" e alertou que, assim como no caso da
Grécia, o país também precisará de um segundo pacote de resgate.
Para a Comissão Europeia, a atitude da
Moody"s é "duvidosa", já que está baseada em cenários "altamente questionáveis". Com o objetivo de lidar com esse poder, a
União Europeia apresentará em setembro novas propostas para frear a atuação das agências. "É questionável se essas agências pensam sobre os esforços dos países para arrumar suas casas, para limitar os gastos públicos e fazer reformas", afirmou o comissário de Mercado Interno da UE,
Michel Barnier.
Ontem, a
Moody"s se defendeu, alegando ter levado em consideração o novo pacote de reformas de
Portugal. "O consenso político e as medidas recentemente anunciadas pelo governo foram levadas em conta", disse
Anthony Thomas, vice-presidente de risco soberano da Moody"s.
Pela proposta de
Bruxelas, a influência das agências diminuirá e será exigido maior transparência para que divulguem a base de suas decisões. Até lá, a
UE pede que elas atuem de forma objetiva. "Já tivemos graves erros no passado, com as agências seguindo os mercados, e não avaliando a situação", disse
Barnier.
Proposta
Uma das propostas foi apresentada pela nova diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI),
Christine Lagarde. Segundo ela, os países que estão sendo resgatados por pacotes internacionais não deveriam ser alvo de classificação de risco pelas agências. A proposta tem o apoio da UE.
Lagarde, ontem, ainda apontou
Portugal como exemplo para a Grécia no que se refere à união política diante da crise. "Espero que todos os partidos políticos possam justamente se inspirar nos exemplos dados pelos partidos políticos em Portugal e na Irlanda", disse
Lagarde.
Na ONU, o economista-chefe da Unctad, o ex-secretário de Estado de Finanças alemão,
Heiner Flassbeck, também criticou as agências, alertando que elas não deveriam ser autorizadas a avaliar Estados e só empresas.
José Manuel Durão Barroso, presidente da UE, questionou a objetividade das agências e o fato de todas serem dos Estados Unidos. "É estranho que esse mercado seja dominado por apenas três atores", disse, em referência à Moody"s, Fitch e Standard & Poor"s.
O primeiro-ministro de Portugal,
Pedro Passos Coelho, classificou a medida como um "murro no estômago".
Na
Grécia, o ministro de Relações Exteriores,
Stavros Lambrinidis, foi ainda mais longe e declarou que, com o rebaixamento de
Portugal, as agências demonstraram sua "loucura".
Contágio
Já outros tentaram se blindar. Esse foi o caso da
Espanha, cujo risco país teve seu pior dia em mais de três meses. "A Espanha tem uma situação econômica radicalmente diferente", disse o vice-presidente do governo espanhol,
Alfredo Pérez Rubalcaba. "Não somos Portugal, não somos Grecia", disse, acrescentando que tem confiança nas medidas adotadas em Lisboa.
Em
Berlim, o governo também atacou a agência, alertando que não está pensando em um segundo pacote de resgates para Portugal. "Estamos surpreendidos. Não compreendo o que está na base dessa avaliação", disse o ministro de Finanças alemão,
Wolfgang Schäuble. Segundo ele, o governo português prometeu fazer até mais do que exigiu a UE. Para ele, está na hora de "quebrar o oligopólio das agências de rating".
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Europa quer limitar poder das agências - Instituto Humanitas Unisinos - IHU