02 Abril 2011
Sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ivaldo Gehlen dedica-se a estudar temas como os movimentos sociais ligados ao campo, a luta por reforma agrária e a situação dos assentamentos.
A entrevista é de Marcelo Gonzatto e publicada pelo jornal Zero Hora, 03-04-2011.
Eis a entrevista.
Por que a reforma agrária empacou no RS?
Em parte, pela diminuição da pressão. Há uma espécie de esgotamento ou cansaço desse processo. Há menos demanda de terra, menos gente envolvida. A gurizada foi crescendo, buscando outras profissões. A agricultura familiar foi reorganizada e vem ganhando estímulo graças a recursos como os do Pronaf. Também se esgotaram as possibilidades de adquirir terras, pelo menos por desapropriação, inclusive pela organização dos proprietários.
A pressão política entre sem-terra e ruralistas foi equilibrada?
A luta que era levada à frente pela reforma agrária passou a ser reproduzida pelos proprietários, com força inclusive no Judiciário. A maior parte das decisões tende a ser favorável aos proprietários.
As alternativas são melhores do que assentamentos?
O Incra fez uma pesquisa que confirmou uma melhora na vida de quem foi assentado. Mas, na prática, permanece a situação de pobreza, de dificuldade. Há uma melhora, mas não tão significativa a ponto de servir de exemplo. No norte do Estado, os assentamentos tiveram mais sucesso. No sul, não servem como modelo de atração.
Qual o futuro da reforma agrária no Estado?
Entram novas variáveis. As questões ambientais começam a ter mais interferência. O próximo passo, talvez, será reassentar famílias que hoje estão em locais não recomendáveis. Poderá nem se chamar reforma agrária, mas reordenamento da questão fundiária e do uso da terra.
A reforma agrária não voltará aos ritmos anteriores?
Não deverá voltar, pelo menos da forma como se fez até agora. A reforma fica pouco justificada quando não garante melhor escolarização, boas condições de vida. A própria reforma agrária se tornou reprodutora de sem-terra.
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"A reforma agrária se tornou reprodutora de sem-terra" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU