24 Março 2011
Ainda é cedo para afirmar que a produção de energia nuclear esteja na berlinda.
Para Anthony Pietrangelo, vice-presidente do NEI (Instituto de Energia Nuclear dos EUA, na sigla em inglês), o acidente nas usinas atômicas de Fukushima (nordeste do Japão) foi causado, sobretudo, por "uma força extraordinária da natureza".
Mesmo assim, para o especialista, que trabalha há 30 anos com energia nuclear, o mundo todo deve tirar lições do acidente para melhorar a segurança das usinas.
"Quando entendermos o que rodeia o acidente no Japão, vamos trabalhar para que a produção de energia nuclear seja mais segura", declarou Pietrangelo.
A entrevista é de Sandra Righetti e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 25-03-2011.
Eis a entrevista.
A usina de Fukushima estava preparada para terremotos, mas não aguentou um tsunami. Isso foi uma falha de projeto?
O acidente de Fukushima foi causado, em parte, por uma força extraordinária da natureza, que certamente estava fora dos parâmetros da planta da usina.
Mas o acidente foi grave e pode mudar o que se pensa sobre energia nuclear...
Até conseguirmos entender exatamente o que aconteceu em Fukushima e suas reais consequências, é difícil especular sobre o impacto do acidente na produção de energia nuclear - e, no meu caso, sobre o programa nuclear dos EUA.
A indústria nuclear norte-americana, a Comissão Nuclear Regulatória dos EUA, o Instituto de Energia Nuclear e outras organizações norte-americanas e de todo o mundo irão produzir relatórios sobre o acidente, identificar lições a serem aprendidas [em termos da planta de operações da usina, por exemplo] e irão incorporar essas lições nas operações das usinas nucleares.
Quando entendermos completamente os fatos que rodeiam o acidente no Japão, vamos trabalhar para que a produção de energia nuclear seja ainda mais segura.
O armazenamento de combustíveis usados no mesmo prédio do reator [dentro da mesma estrutura], como acontece nos reatores de Fukushima, é seguro?
A usina de Fukushima tem um projeto seguro, incluindo o armazenamento de combustíveis usados.
Mas esse projeto recebeu críticas. O governo japonês também tem sido acusado de não ser transparente na divulgação de informações sobre o acidente em Fukushima...
Não temos como opinar sobre isso. Estamos preocupados com o que está acontecendo no Japão e oferecemos recursos e especialistas da nossa indústria, tanto para ajuda técnica quanto humanitária, para que a segurança na usina seja retomada.
Temos especialistas para lidar com esse tipo de acidente inédito no mundo?
Reatores nucleares dos EUA são projetados para resistir a sismos iguais aos do Japão [9,0 na escala Richter] ou mesmo a fenômenos mais significativos, como terremotos e tsunamis associados. Isso sem nenhuma violação dos sistemas de segurança -e nem na piscina [que resfria o combustível].
Mas as lições aprendidas com Fukushima devem ser revistas cuidadosamente, para verificarmos se alguma delas se aplica às centrais nucleares dos EUA.
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"Precisamos entender melhor o acidente no Japão", diz cientista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU