21 Março 2011
A construção da hidrelétrica de Jirau será retomada "em poucos dias", segundo disse ontem o presidente da Construtora Camargo Corrêa, Antonio Miguel Marques. Uma semana após os conflitos que paralisaram a principal obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o executivo disse que os trabalhos serão retomados pelas 2 mil pessoas que ainda se encontram no acampamento da margem esquerda do Rio Madeira, que não sofreu danos.
A entrevista é de Renato Andrade e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 22-03-2011.
Apesar da disposição, o executivo reconheceu que o cronograma da obra poderá sofrer atrasos. "Como houve quebra de ritmo, acho que um atraso hoje é inevitável."
Eis a entrevista.
Qual é a situação atual em Jirau e quando esperam retomar as obras?
A situação hoje é bastante tranquila, tanto no sítio das obras como em Porto Velho. As atenções agora se voltam para a retomada dos trabalhos.
Na verdade, temos duas obras separadas por um rio. Você tem um acampamento na margem direita, onde teve todo o alvoroço, e um acampamento na margem esquerda, que foi preservado.
Obviamente, a minha capacidade de tocar a obra ficou bastante prejudicada pela destruição que foi feita no acampamento da margem direita. Não há como atingir o pleno desenvolvimento da obra porque você não tem onde alojar tantas pessoas. Mas consigo retomar, discretamente eu diria, as obras em poucos dias.
Quais trabalhos podem ser retomados e quantas pessoas estão no local?
São cerca de 2 mil pessoas. Elas já estão lá e tenho condição de trazer, talvez, 10 mil pessoas de volta, num prazo que eu diria pequeno para as condições, em torno de duas semanas.
O ritmo da obra fica muito aquém do que vinha sendo feito?
Obra é ritmo. Uma vez atingido, você consegue mantê-lo. Mas é difícil conseguir atingir. Jirau vinha num ritmo de quebra de recorde toda semana. Podemos começar a retomar os trabalhos e vamos agregando mais gente, reconstruindo a infraestrutura em paralelo.
Em quanto tempo a Camargo terá condições de restabelecer a estrutura que tinha antes dos conflitos?
Formamos um grupo desde a semana passada, separado dessa avalanche toda, para replanejar a obra. No final desta semana terei muito mais condições de afirmar como retomaremos o ritmo. A distribuição de recursos vai ser para atender ações consideradas prioritárias. O vertedouro vai ser retomado praticamente de imediato. Ele está com 95% (das obras civis realizadas) e vamos completar os 100%. A ideia seria manter o desvio do rio para agosto, setembro deste ano.
O presidente da concessionária disse na semana passada que esperava fazer o desvio do rio em julho. Essa data então não será cumprida?
Não posso afirmar agora que não consigo fazer (o desvio do rio) em julho. Pode até ser que consiga, mas estou trabalhando com uma previsão um pouco mais segura.
Qual o atraso que os conflitos vão impor ao cronograma da obra?
Era um atraso recuperável. Como houve quebra de ritmo, acho que um atraso hoje é inevitável.
A Justiça determinou que os empregados que não quiserem retornar ao local devem receber todos os direitos garantidos aos demitidos. O que a Camargo vai fazer?
Ninguém vai obrigar ninguém a trabalhar. Os que quiserem voltar a trabalhar, vão ser recebidos de braços abertos. Os que não quiserem, faremos o acerto.
A reportagem do "Estado" ouviu relatos de maus tratos aos empregados da obra. A construtora tem conhecimento disso?
A Camargo Corrêa não tem conhecimento e repudia isso. A orientação é exatamente o contrário.
Há também reclamações sobre não pagamento de horas extras.
As horas extras são um grande motivo de insatisfação. A legislação brasileira prevê que o trabalhador pode fazer até 40 horas extras por mês. Regra geral, todos fazem isso. A Lei não permite mais e a empresa cumpre integralmente e literalmente a legislação.
A razão efetiva dos conflitos ainda não foi identificada. Vocês não temem que isso possa comprometer o retorno dos trabalhadores?
A Camargo Correa só vai retomar as obras se julgar que existem plenas condições de segurança para todos os seus empregados. Neste momento a Força Nacional se faz presente no acampamento, o que dá uma certa tranquilidade para a retomada.
De que maneira a situação de Jirau pode servir de exemplo para outras empresas que também irão tocar projetos em áreas remotas?
As fronteiras de energia elétrica no Brasil estão todas na Amazônia, em lugares que eu diria que Jirau é uma Nova York. O aprendizado da Camargo Corrêa, da sociedade e das autoridades tem que ser muito grande para que haja um processo de aprimoramento para o que vem pela frente.
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"A Camargo só vai retomar as obras se existirem condições de segurança" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU