14 Março 2011
O debate nuclear, nunca inteiramente esquecido em toda a Europa, se reabre agora que se viu a ameaça das centrais nucleares do Japão, como a de Fukushima. As plantas atômicas produzem aproximadamente um terço e 15% da energia consumida na União Europeia. Por isso, Bruxelas convocou uma reunião urgente de responsáveis pela segurança nuclear na União Europeia junto com fabricantes e operadores de centrais, "para avaliar as consequências do acidente de Fukushima e tomar nota das lições aprendidas".
A reportagem é de R. M. de Rituerto e J. Gómez e está publicada no jornal El País, 14-03-2011. A tradução é do Cepat.
Na Alemanha, foram convocadas neste domingo diversas marchas e concentrações de protesto contra a política atômica do Governo de centro-direita de Angela Merkel, que no final de 2010 adiou o fechamento das 17 centrais nucleares alemãs em média 12 anos. Em 2002, o ex-chanceler socialdemocrata Gerhard Schröder, que governava então junto com os Verdes, aprovou o desligamento de todas as centrais atômicas em 2021. Tanto a União Democrata Cristã (CDU) da chanceler como seus sócios de Governo do Partido Liberal (FDP) poderão pagar o polêmico adiamento do "apagão nuclear" nas três eleições regionais que acontecem neste mês de março na Alemanha.
A possível perda do land de Baden-Württemberg, feudo democrata-cristão e tradicional base política dos liberais, representaria um desastre político para Merkel e para seu vice-chanceler, o liberal Guido Westervelle. Antes do desastre do Japão, as pesquisas davam um empate entre o atual Governo regional de centro-direita e a coligação SPD-Verdes.
Stefan Mappus, primeiro-ministro do próspero Estado que a CDU governa desde 1953, anunciou neste domingo que irá revisar a segurança das quatro centrais nucleares em seu território. Além disso, se disse aberto a "debater sobre qualquer possibilidade" na política energética. No sábado, 60.000 pessoas haviam formado uma cadeia humana de 45 quilômetros entre a central nuclear de Neckarwestheim e o centro da capital do land, Stuttgart. Muitos revivem a lembrança da nuvem radioativa que chegou à Alemanha há 25 anos procedente de Chernobil.
Os ventos de protesto chegaram a Berlim, onde a chanceler fez, no sábado, uma reunião de crise com seus sócios liberais de Governo. O resultado foi uma entrevista coletiva típica de Merkel: falou da ameaça de Fukushima como "ponto de inflexão" no mundo e advertiu que "um dia como hoje [o da explosão na central] não é indicado para que simplesmente insistamos em que nossas centrais estão seguras". Ato contínuo, certificou justamente que "são seguras". Depois, anunciou que a segurança será revisada. Nada disto a impediu de empreender sua enésima defesa da energia nuclear como "tecnologia de transição". É o chavão do Governo para defender a postergação do "apagão nuclear", uma das decisões mais polêmicas desta legislatura.
A oposição de Verdes e social-democratas veem nisso, ao contrário, um afã de perpetuar o recurso à energia atômica menosprezando o uso de fontes de energia renováveis. A ameaça de Fukushima, independente de qual seja o seu desfecho, trouxe de volta o medo à agenda política alemã.
A primeira consequência sociopolítica esperável na Europa dos acidentes nas centrais nucleares japonesas é uma vigorosa ofensiva das forças antinucleares no continente, que estão há anos cedendo terreno aos partidários da nuclearização. Os riscos da energia, postos novamente em evidência um quarto de século depois de Chernobil, se haviam esfumaçado diante do tendão de Aquiles da dependência energética comunitária e das contínuas chamadas para combater a mudança climática às custas da redução de energia de origem fóssil.
A energia atômica é uma questão tão politicamente radiativa que a Comissão nunca quis se pronunciar, à exceção de vagas e pessoais declarações a favor realizadas por alguns Comissários de Energia, e insistiram sempre em que a participação dos diferentes elementos possíveis em uma política energética é uma atribuição própria dos Governos.
A reunião de especialistas convocada pela Comissão "tomará medidas preventivas em caso de necessidade", assinala o comunicado do Executivo comunitário. Também se tratará da situação em Fukushima na reunião desta segunda-feira em Paris dos Ministros de Exterior do G-8, onde o francês Alain Juppé oferecerá a Tóquio a experiência de seu país em segurança nuclear.
Os 27 estão divididos quase pela metade em relação à energia nuclear, com ligeira maioria dos nuclearizados: 15 dos sócios contam com centrais atômicas. A campeã imbatível é a França, que produz a partir de 58 centrais 75% de sua energia elétrica. O Reino Unido é a segunda potência nuclear comunitária e ambos os países têm ambiciosos planos de expansão.
Se na Alemanha, com 17 reatores em funcionamento, a política nuclear é controvertida, na Áustria foi tão intensa a recusa popular e política que o país é constitucionalmente não nuclearizável. Os austríacos veem com furor e impotência a política expansivamente nuclear da vizinha Eslováquia.
Atualmente, há seis plantas nucleares em construção na Europa (duas na Bulgária e outras duas na Eslováquia, uma na França e uma na Finlândia). A Itália, único país do G-8 que não produz energia nuclear, pretende somar-se ao grande clube nuclear. Sílvio Berlusconi quer que no futuro a quarta parte da eletricidade consumida pelos italianos seja de origem nuclear.
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O alarme nas centrais japonesas acende o debate nuclear na Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU