04 Fevereiro 2010
Depois de ser adiado em função do avanço da gripe suína no RS, finalmente começou o Mutirão da Comunicação América Latina e Caribe, evento organizado pela CNBB que reúne, na PUCRS, de 03 a 07 de fevereiro, pessoas de 37 países dispostas a debater sobre comunicação, processos culturais, econômicos e políticos. A IHU On-Line conversou com o coordenador geral do evento, Pe. Marcelino Sivinski, por telefone. Ele nos contou, logo após a conferência do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, das primeiras questões levantadas no mutirão, do perfil do público participante e, ainda, sobre a relação com o debate realizado durante a primeira Conferência Nacional de Comunicação, que ocorreu em dezembro de 2009.
“Tanto a Conferência Nacional de Comunicação quanto o Mutirão da Comunicação são o início de debates públicos sobre esse tema tão importante para a América Latina, logo, são movimentos onde a sociedade está se organizando para discutir seus direitos. O debate não pode morrer, ele tem que ser retomado e aprofundado, e assim será”, afirmou.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que já podemos perceber do mutirão até o momento?
Marcelino Sivinski – O mutirão começou no dia 03 com dois momentos importantes: a conferência dopresidente do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais, Dom Claudio Maria Celli e depois um talk show com pessoas importantes da América Latina, entre as quais estavam o ministro das Comunicações do Paraguai, ministros das comunicações de Cuba e também o diretor da TV Cubana, além de outros conferencistas. O tema de fundo foi a situação sócio-político-cultural do nosso continente, quais as medidas que essa questão tem, ao mesmo tempo, questionamos se a comunicação que temos hoje está conseguindo valorizar esse patrimônio cultural e histórico.
Além disso, o debate tratou da comunicação no passado e as perspectivas para o futuro. No dia 4, tivemos a segunda conferência que discutiu os novos cenários da América Latina e os processos de comunicação onde se tentou mostrar as diferentes práticas de comunicação que existem, não apenas os populares, mas mesmo nas universidades, nos centros de pesquisa. E como isso, lentamente, está somando, está contribuindo para que tenhamos uma outra ideia de comunicação, para que a gente aprenda um outro jeito de fazer notícia. Tudo isso em função da pessoa humana, que não só merece dignidade de vida, o respeito à ecologia, o respeito ao trabalho, o respeito aos valores da pessoa, mas fundamentalmente para que essa pessoa se sinta sujeito participante, integrado na política, na economia e na construção da cultura solidária. Agora tivemos uma riqueza imensa de informações e reflexões que nos ajudaram a concretizar por onde vamos tentar prosseguir o nosso mutirão. Ainda temos mais algumas atividades, com grandes seminários que vão retomar as conferências que já foram realizadas.
IHU On-Line – Como é a participação do público no mutirão?
Marcelino Sivinski – O mutirão está recebendo dois públicos diferentes: aqueles que se inscreveram, que estão participando das conferências e dos seminários, é o grupo mais ligado à academia, aos profissionais da comunicação, professores e estudantes. O outro público é formado pelo povo, pelas comunidades que está participando das oficinas e apresentações artísticas.
IHU On-Line - Neste ano, o mutirão é latino-americano. Qual é a importância desta perspectiva?
Marcelino Sivinski – Até agora fizemos cinco mutirões nacionais e três congressos latino-americanos de Comunicação. Depois de mais de dez anos de experiência em realizar esses mutirões mais focados em um ou outro país, a ideia foi reunir, num único encontro, os 37 países do continente. Ou seja, este mutirão foi preparado em todos os países da América Latina. Aqui, no Brasil, 20 estados fizeram seu mutirão de preparação. Com isso, o pessoal trouxe uma reflexão interessante sobre os temários do evento, que é Comunicação e Cultura, Comunicação e Economia e Comunicação e Política, questões que foram apontadas durante as conferências locais, principalmente sobre como a comunicação que temos hoje está gerando uma cultura solidária, uma sociedade participativa e está ajudando a economia a formar uma aliança com a vida. Sentimos essa preparação nas perguntas feitas durante as conferências e nas participações e integrações firmadas nos plenários realizados no Mutirão. O pessoal sempre aponta para essas questões, sem esquecer da caminhada que temos no continente e do nosso povo.
IHU On-Line – Ao final do multirão será escrita uma Carta de Princípios. O senhor pode falar um pouco mais sobre isso?
Marcelino Sivinski – Essa carta tem três características: 1) ela já começou a ser escrita nos mutirões nacionais. O pessoal já começou a dar suas sugestões; 2) a equipe de coordenação do mutirão já foi recolhendo essas propostas; 3) E agora estamos vivendo o processo de elaboração da carta com a participação de todos. Ela vai fazer uma avaliação das conferências e destacar as principais ideias, vai analisar os seminários, o que foi discutido e o que pode nos levar a uma comunicação mais solidária. Nós não queremos simplesmente uma carta de princípios para repetir o óbvio, mas sim queremos perspectivas e, fundamentalmente, discutir estratégias, como podemos nos dar as mãos e construir, com todas as forças, algo novo, diferente, solidário para o bem da humanidade.
IHU On-Line – No final de 2010, o Brasil realizou sua primeira Conferência Nacional de Comunicação. Como o senhor, que faz parte da coordenação do Mutirão da Comunicação, vê os resultados dessa conferência e como os temas debatidos lá em Brasília estão sendo tratados neste evento agora?
Marcelino Sivinski – Muitos dos que estão participando do Mutirão também participaram da Conferência Nacional de Comunicação, os temas estão fortemente ligados. Na verdade, o mutirão deveria ter acontecido em julho do ano passado, mas teve que ser transferido, ele seria uma espécie de evento preparatório para a Confecom. Hoje (dia 04 de fevereiro de 2010), os temas da conferência foram retomados no mutirão com o objetivo de refletir sobre as estratégias montadas na Confecom para que, portanto, as discussões e soluções sejam viabilizadas. Tanto a Conferência Nacional de Comunicação quanto o Mutirão da Comunicação são o início de debates públicos sobre esse tema tão importante para a América Latina, logo, são movimentos onde a sociedade está se organizando para discutir seus direitos. O debate não pode morrer, ele tem que ser retomado e aprofundado, e assim será.
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Um mutirão por uma comunicação mais solidária. Entrevista especial com Marcelino Sivinski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU