É preciso “mexer” a Filosofia e integrá-la no debate do espaço público, defende Ricardo Terra

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06 Abril 2022

 

Vivemos uma crise de proposta de sociedade. A pergunta é como a Filosofia participará desse debate. A participação no espaço público está em aberto, frisou o professor Dr. Ricardo Terra, da Universidade de São Paulo (USP), na aula inaugural do curso de Filosofia da Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), realizada em 4 de abril, e que versou sobre “A Universidade no Brasil pós-Bolsonaro e os desafios postos aos cursos de Filosofia”.

 

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

 

Qualquer que seja o resultado das urnas, o ano que vem será difícil, vaticinou o palestrante. “O clima está tão perverso que a gente corre o risco de não saber mais discutir”, alertou. Ele não vislumbra, no plano nacional, o debate sobre o papel da Universidade e o papel da Filosofia. “O ‘filósofo’ brasileiro mais conhecido (Olavo de Carvalho) fazia horóscopo”, ironizou.

 

Cabe perguntar qual tipo de Universidade o Brasil precisa e como a Universidade pode se inserir nos projetos de desenvolvimento do país. Kantiano declarado, Ricardo Terra entende que “filosofamos a partir das ruínas de outras filosofias”.

 

Assim, é importante estudar filósofos do passado para abarcar a compreensão que desenvolveram sobre o papel da Universidade, algumas dessas ideias em conflito. Kant, com sua proposta cosmopolita, Humboldt e a ênfase na pesquisa, Jaspers e o neo-humanismo, Neumann e a discussão filosófica, e tantos outros, deram sua contribuição para o debate sobre o papel da Universidade. E hoje?

 

Guerra defendeu a recuperação de autores que foram apagados da história, por serem negros, mulheres ou outras razões, como é o caso do antropólogo haitiano Anténor Firmin. Preconizou também a ampliação do cânone ocidental da Filosofia trazendo saberes de outras civilizações.

 

Feminismo e racismo é a pauta nacional, que é importante para a reflexão”. Mas a Filosofia deve ir além. “O que estamos fazendo na Filosofia para discutir o papel da Universidade?”- indagou Terra. Também instigou docentes que têm ou tiveram função política a trazerem suas experiências para o campo da Filosofia. “O Haddad deveria fazer isso, uma reflexão sobre o espaço público trazendo-a para a Filosofia”, propôs.

 

O impacto da Universidade na sociedade não se restringe ao científico, mas também ao cultural, social e econômico. A articulação das humanidades com a cultura e as artes é parte fundamental da Universidade, ainda mais quando ela se apresenta como “de excelência”.

 

A Universidade, defendeu, tem que estabelecer relações com a política pública, com o sistema produtivo. Tem que definir o que entende por “excelência”, que não se limita a resultados quantitativos, mas que responda ao que a Uni entende por sua missão na sociedade, na comunidade local. Se uma pesquisa auxiliar na resolução de uma necessidade restrita a um município, ela está exercendo sua excelência, arrolou.

 

Guerra admite que não há clareza ainda quanto aos grandes desafios para a Filosofia em 2023. Mas tem certeza de que a Filosofia não pode ser abster desse debate e de trazer propostas. Propõe, para tanto, a criação de uma rede que “mexa a área” e que reflita sobre o papel da Universidade e da Filosofia no quadrante pós-Bolsonaro

 

 

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