EUA. O orçamento militar de Biden e do Congresso é uma afronta a Deus

O então vice-presidente Joe Biden em visita às tropas militares dos EUA no Iraque. Foto: Wikimedia Commons

18 Dezembro 2021

 

“O clero e os leigos da Igreja Católica e de todas as denominações devem seguir o exemplo do papa e apelar a todos os funcionários públicos para ajudar a criar seu fundo global proposto. Devemos agir em solidariedade com todos aqueles que trabalham pela transformação social não violenta, o que inclui a conversão da economia de guerra dos EUA em uma economia de paz”, escreve Art Laffin, membro do Movimento de Trabalhadores Católicos Dorothy Day, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 16-12-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis o artigo.

 

Neste Advento, enquanto nos preparamos para celebrar o nascimento de Jesus nosso salvador, que fala aos seus seguidores para descartarem a espada e amarem uns aos outros, para renunciarem à morte e serem promotores da paz, o Congresso dos EUA recentemente aprovou um projeto que prepara o caminho para mais sofrimento, morte e destruição.

Em 15 de dezembro, o Senado aprovou a Lei de Autorização de Defesa Nacional 2022, ou NDAA, sigla em inglês, que autoriza 768 bilhões de dólares para gastos militares, incluindo 28 bilhões para o fundo dos programas de Departamento de Energia Nuclear. Esse foi um aumento de 25 bilhões no orçamento requisitado pelo presidente Joe Biden para 2022, de acordo com o portal Democracy Now, e o maior orçamento militar desde a Segunda Guerra Mundial.

No início da votação de 07 de dezembro, a Câmara de Deputados aprovou a lei por 364-70 votos, com apenas 51 Democratas e 19 Republicanos votando contra. Biden agora deve assinar a medida nos próximos dias.

Neste tempo de pandemia e perigo, quando as fileiras dos pobres e desabrigados estão aumentando; quando há cerca de 140 milhões de americanos pobres e de baixa renda, de acordo com a nova Campanha dos Pobres; quando os serviços humanos básicos para atender às necessidades humanas urgentes estão sendo cortados; quando medidas inadequadas estão sendo tomadas para conter a crise climática; quando milhões de pessoas em todo o mundo carecem das necessidades básicas da vida e, como resultado, morrem prematuramente, esses gastos militares exorbitantes são uma abominação – uma afronta a Deus e um crime colossal contra os pobres.

Além disso, o NDAA serve para reforçar um sistema de supremacia branca e dominação nacional e globalmente, enquanto beneficia e aumenta os lucros de empreiteiros e negociantes de armas.

Ameaças à segurança nacional fabricadas pela Rússia e China estão sendo promulgadas por funcionários dos EUA para justificar este aumento dramático nos gastos. A verdade é que o Pentágono está comprometido com o domínio militar na Terra e no espaço, e gastará o que for necessário e usará toda a força militar necessária para atingir seus objetivos imperiais.

Exemplos recentes incluem guerras e ocupação prolongadas dos EUA no Iraque, Afeganistão e intervenção em outros países que, nos últimos 20 anos, resultaram em mais de 900 mil mortes e um custo estimado de 8 trilhões de dólares. Que Deus nos perdoe!

Isso é ainda mais evidenciado pela recusa dos Estados Unidos em adotar uma política nuclear de distensão, seu projeto de 30 anos de um programa de modernização nuclear a custo de 1,7 trilhão de dólares está em andamento, uma nova Força Espacial, cerca de 800 bases em todo o mundo e um orçamento militar maior que os próximos dez países combinados, incluindo os rivais China e Rússia e aliados como a Arábia Saudita, o Reino Unido e a França.

Os 70 parlamentares que votaram contra este projeto de lei devem ser elogiados, junto com as muitas comunidades religiosas e grupos e organizações de base que estão trabalhando ativamente para converter a economia de guerra e trazer justiça racial, econômica, ambiental e social e a abolição da guerra e todas as armas.

Mas onde está o massivo clamor público em relação a essa apropriação indébita de dinheiro e recursos? Por que os bispos dos EUA, líderes de todas as denominações religiosas e o povo de Deus em todos os lugares não denunciaram inequivocamente esse projeto de lei de gastos militares imoral? Quantas mais pessoas terão que sofrer e morrer por causa da idolatria do militarismo e do nuclearismo?

Há mais de cinco décadas, Martin Luther King Jr. declarou: “Uma nação que continua ano após ano gastando mais dinheiro em defesa militar do que em programas de elevação social está se aproximando da morte espiritual”. Podemos evitar a morte espiritual exigindo que esses fundos e todos os outros fundos do governo sejam usados para servir ao bem comum e à vida, não à destruição!

O Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021 com o tema “Uma cultura do cuidado como caminho para a paz”, ofereceu esse apelo. Ele escreveu: “Quantos recursos são gastos em armamentos, especialmente armas nucleares, que poderiam ser usados para prioridades mais significativas, como garantir a segurança dos indivíduos, a promoção da paz e do desenvolvimento humano integral, a luta contra a pobreza e o fornecimento de assistência médica”.

Francisco também repetiu seu apelo anterior para a criação de um novo fundo internacional que reapropriaria “o dinheiro gasto em armas e outras despesas militares, a fim de eliminar permanentemente a fome e contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres”.

Agora é a hora de todos os seguidores de Jesus abraçarem a não violência do Evangelho, resistir a toda violência e matança e defender a vida e a criação onde quer que sejam ameaçados. Agora é a hora de se levantar e exigir o fim deste mau uso pecaminoso de recursos para armas, guerra, a exploração dos recursos da terra, a destruição do meio ambiente para o lucro e a dominação política e econômica!

O clero e os leigos da Igreja Católica e de todas as denominações devem seguir o exemplo do papa e apelar a todos os funcionários públicos para ajudar a criar seu fundo global proposto. Devemos agir em solidariedade com todos aqueles que trabalham pela transformação social não violenta, o que inclui a conversão da economia de guerra dos EUA em uma economia de paz; acabar com a desigualdade econômica, erradicando o que King descreveu como os males triplos da pobreza, racismo e militarismo; ratificar o Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares, promulgando o Green New Deal; proibição da tortura e assassinatos sancionados pelo Estado; e defender os direitos humanos de todas as pessoas.

Eu agradeço a Deus pelas muitas pessoas e grupos de todo o espectro religioso e político que estão trabalhando incansavelmente para desafiar e resistir a uma estrutura de poder enraizada no racismo, opressão e violência sistêmicos, e que estão comprometidos tornar a Palavra carne, estabelecer o Reino de Deus de justiça e amor, e formar a comunidade amada.

Durante este tempo sagrado, sigamos o mandato pacificador de Jesus e ajamos na esperança que ele prescreve: “Todas as coisas são possíveis para quem tem fé”.

 

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