09 Novembro 2021
Desde que eu escrevi sobre o metaverso e o futuro do digital nestas páginas (disponível em italiano aqui), eu recebi dezenas de mensagens que se moviam em três filões. O primeiro: “Você exagerou”. O segundo: “O metaverso não é tão diferente do Second Life”. O terceiro: “Não quero nada disso. Isso me assusta”.
O comentário é de Gigio Rancilio, jornalista italiano, em artigo publicado em Avvenire, 05-11-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Procedamos em ordem. Não sei se eu realmente exagerei (só o tempo dirá), mas sei que tentei dizer para onde vai o futuro da rede e não só o do Facebook. Embora apresentada por Zuckerberg, essa revolução tem diversos atores, muitos dos quais são quase tão ricos e poderosos quanto ele ou até mais.
Posso estar enganado, mas esse metaverso não será a cópia do Second Life (o mundo de replicantes digitais lançado em 2003, 11 anos depois do romance “Snow Crash” que o havia imaginado, chamando-o, aliás, de metaverso). Será algo maior e mais complexo. Não apenas um mundo povoado pelas nossas réplicas digitais e por pessoas criadas propositalmente por inteligências artificiais, mas também e sobretudo uma nova forma de estar em rede.
Quem se assustou tem razão. Porque um futuro assim, se não for bem governado, pode causar danos enormes (além dos das redes sociais). Mas nem tudo que ele trará (quando o fizer) será necessariamente negativo. Basta pensar na possibilidade de conectar familiares que moram a milhares de quilômetros de distância graças a encontros em 3D, tão verdadeiros (ou, melhor, verossímeis) a ponto de permitir uma comunicação bem mais profunda do que aquela com a qual estamos acostumados agora.
Mas a pergunta mais importante permanece: que espaço haverá para o ser humano no metaverso digital? Temo que o fato de pensar que essa pergunta pode ser evitada ou que não merece resposta o mais rápido possível pode acabar sendo um grave erro. Independentemente do que pensamos, não será possível fechar o metaverso – mas seria mais correto chamá-lo de o futuro próximo da internet – do lado de fora das nossas vidas. E mesmo que consigamos fazer isso por algum tempo por idade, hábito, atitude ou escolha, acredito que a primeira pergunta não perderá a sua relevância nem o seu sentido.
Digamos assim: o leitor poderá até ignorá-la por um tempo, mas todos aqueles que, por estudo e por papel, lidam com temas que giram em torno do ser humano devem colocá-la na agenda o mais rápido possível. São necessários debates, encontros, estudos e reflexões sobre tudo isso. São necessários momentos de discussão, amplos, honestos e francos. São necessários pensamentos profundos e palavras de sentido que nos ajudem a não cometer erros. A não nos deixar governar pelos tecnoentusiasmos, mas nem pelos tecnopessimismos.
O que temos diante de nós não é apenas o último truque de Zuckerberg. Ou, melhor, em parte é. Porque é verdade que o anúncio do metaverso serviu para desviar a atenção dos malfeitos do Facebook e para relançar o seu papel no mundo digital. Mas é igualmente verdade que essa revolução virá mesmo que o império de Zuckerberg não exista mais. Porque o mercado a quer. As empresas digitais a querem. Porque a web tem 30 anos, e as redes sociais como o Facebook, 17. Por quanto tempo elas poderão continuar satisfazendo plenamente um mundo, não só digital, que está mudando muito rapidamente?
Um impulso tão forte não pode ser acolhido apenas virando a cabeça para o outro lado ou dizendo: “Isso não me interessa”. É preciso regras e limites. Mas, acima de tudo, é preciso pessoas que tenham a coragem de se perguntar e de perguntar em voz alta: que espaço haverá para o ser humano no futuro digital?
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O metaverso, o futuro da internet e a pergunta sobre o ser humano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU