01 Novembro 2021
Dois militantes comunistas, um garoto e uma garota, sacola de lona atravessada no corpo com a imagem de Antonio Gramsci e cheia de livros - um manifesto sobre o ecossocialismo e as teses do Congresso da Refundação Comunista - com a intenção de entrar no Vaticano. A Digos (polícia de estado), desconfiada, os segura na entrada. “Quem são vocês, o que estão fazendo aqui, para onde querem ir?”. Resposta: "Bem, realmente temos um encontro com o Papa". Feitas as verificações necessárias, consultada a secretaria do pontífice, era tudo verdade.
A reportagem é de Matteo Pucciarelli, publicada por Repubblica, 29-10-2021.
De fato, nos últimos meses, os Jovens Comunistas, a organização juvenil do Prc, encaminharam um pedido de audiência a Francisco. A ideia nasceu em dezembro passado, após um encontro de dois dias online com o título 'Construir o presente' e onde haviam participado do painel sobre a solidariedade internacional em tempos de pandemia - circundado por comunistas de meio mundo... - também membros do catolicismo progressista. Além disso, são bem conhecidas as afinidades de pensamento entre a mensagem social de Jorge Mario Bergoglio e as críticas ao modelo capitalista de esquerda radical.
“Conversamos alguns minutos - conta Andrea Ferroni, de Perugia e coordenador do Gc - agradecemos por suas palavras claras sobre o salário mínimo mundial e sobre a redução da jornada de trabalho. Dissemos a ele que por nosso lado estamos empenhados com o mutualismo e à luta contra a exploração”. Depois houve a entrega do material dentro da sacola de lona, e o Papa se deteve na imagem de Gramsci: “Vocês são realmente comunistas! Congratulações, continuem em frente”.
Ferroni explica: “Mesmo considerando as contradições que tem uma instituição como a Igreja, hoje para nós é impossível não apreciar o radicalismo de Francisco no questionamento, na revelação das injustiças e as desigualdades do sistema econômico”.
Satisfeito, o recém-reeleito secretário do Prc, Maurizio Acerbo, diz: “Esse encontro foi uma belíssima surpresa, no congresso de poucos dias atrás citei o Papa e agradeci por ter acolhido o nosso companheiro Eugenio Melandri (padre que foi eleito Eurodeputado pela Democracia proletária em 1989 e, portanto, suspenso a divinis, reintegrado por Francisco pouco antes de sua morte, ndr.) O paradoxo dos tempos atuais é que no Parlamento não há ninguém que pense como nós, fora o Papa que faz isso quando fala de redução de jornada de trabalho e de uma política de desarmamento. E isso, mesmo que como leigos, continuemos a ter visões diferentes sobre muitos temas como o aborto, a concordata, os direitos LGBTQi”.
Nos vários encontros que o Pontífice manteve com os movimentos populares nos últimos anos, tem repetidamente destacado que chegou o momento de pensar numa forma de retribuição universal das riquezas, vistos os desequilíbrios entre poucos super-ricos e uma multidão de pobre. No ano passado, ele elogiou os esforços dessas organizações pois "vocês reivindicam seus direitos em vez de se resignar a esperar para recolher algumas migalhas que caírem da mesa dos que detêm o poder econômico".
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Refundação. Os jovens comunistas recebidos pelo Papa: “Disse-nos para continuar em frente” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU