21 Outubro 2021
Mais de 28 mil hectares foram destruídos na região em apenas um mês; Terra Indígena Apyterewa dispara no ranking das mais desmatadas.
A reportagem é de Sandra Silva, publicada pelo Instituto Socioambiental, 18-10-2021.
A destruição no Xingu não dá trégua. O monitoramento de julho e agosto do Sirad X, o sistema de monitoramento da Rede Xingu+, alertou para um aumento acelerado do desmatamento na região, principalmente em áreas protegidas legalmente.
Em agosto foram destruídos 28,7 mil hectares na bacia — o maior valor desde janeiro de 2018, data de início do monitoramento do Sirad X. O bimestre somou um crescimento de 39%, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Assim como nos últimos três anos, as maiores ameaças às áreas protegidas do Xingu seguem sendo o garimpo, a grilagem e o roubo de madeira. O desmatamento nesses territórios cresceu 53% em comparação com o mesmo período de 2020.
A Terra Indígena Apyterewa, a mais desmatada nos três anos de monitoramento Sirad X, continua sofrendo uma onda crescente de destruição. A TI teve 2,4 mil hectares desmatados no bimestre de julho e agosto. Homologada em 2007, ela está em processo de desintrusão desde 2011.
No período entre janeiro e agosto de 2021, o desmatamento na Apyterewa chegou a mais do que dobrar (123%). Além da grilagem de terras, a terra indígena sofre com o forte avanço do garimpo. Exemplo da certeza de impunidade, a Vila Renascer, povoado ilegal dentro da TI, funciona livremente com bares, igrejas, restaurantes, dentre outros comércios ilegais no território.
“Além dos impactos ambientais causados pela derrubada de floresta, o aumento crescente do desmatamento na TI Apyterewa ameaça os modos de vida do povo Parakanã e pressiona, cada vez mais, as TIs vizinhas, Araweté Igarapé Ipixuna e Trincheira Bacajá, por meio de invasões e a abertura de ramais [estradas] ilegais com origem na TI Apyterewa”, disse Thaise da Silva Rodrigues, analista de geoprocessamento do Instituto Socioambiental (ISA) e pesquisadora do Observatório de Olho no Xingu da Rede Xingu+.
A expectativa de regularização das terras griladas e os boicotes aos órgãos especializados em fiscalização ambiental pelo Governo Federal seguem potencializando a destruição no Xingu. Os municípios de Altamira e São Félix do Xingu lideram o desmatamento de toda a Amazônia Legal, mesmo com a atuação da Operação Samaúma das Forças Armadas.
“Altamira e São Félix do Xingu são os municípios que mais desmatam na Amazônia, e, por consequência, também são os que mais emitem CO2 no país, o principal gás do efeito estufa”, apontou a pesquisadora. “O aumento no desmatamento e a conversão da floresta em outros usos como pastagem não só está acelerando as mudanças climáticas, como também promovendo mudanças no regime das chuvas e nas condições da estação seca da região”, finalizou.
O aumento no desmatamento das terras indígenas na Bacia do Xingu cresceu 79% em comparação ao ano passado, parte por conta da Apyterewa. Em segundo lugar ficou a TI Trincheira Bacajá, com o registro de derrubada de mil hectares, um salto de 54% a mais que no mesmo período do ano passado. Ela é seguida pela TI Kayapó, que sofre com o garimpo e não possui nenhuma base de fiscalização permanente no território. Entre janeiro e agosto, o aumento no desmatamento foi de 42% em comparação ao mesmo período em 2020.
As Unidades de Conservação concentram, sozinhas, quase metade de todo o desmatamento da bacia (45%). Mais de 13 mil hectares foram desmatados no bimestre de julho e agosto, principalmente na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu.
A invasão desenfreada do território, junto ao crescente desmatamento da APA, pressionam os territórios vizinhos e colocam em risco a conectividade do corredor de áreas protegidas do Xingu, que hoje é a última barreira que protege a Amazônia Oriental do desmatamento.
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Alerta no Xingu! Agosto registrou pior desmatamento desde 2018 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU