16 Outubro 2021
"Nesses tempos difíceis que estamos vivendo no Brasil e no mundo, espera-se com esta forma de abordagem dos temas aqui tratados que alguns deles possam estimular, modestamente, mentes e corações, na busca de um caminho mais esperançoso para o nosso país e para a maioria das pessoas", escreve Heraldo Campos, graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e Doutor em Ciências (1993) pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo - USP. Pós-doutor (2000) pelo Departamento de Ingeniería del Terreno y Cartográfica, Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo - USP.
Sabemos que remar contra a maré, para tentar atingir um objetivo, não é uma tarefa muito fácil. Há quase um ano atrás lembrei que “Um dia, no distante mês de julho de 2009, fui com um amigo na Feira do Livro de Ribeirão Preto (SP), para assistir a palestra do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. No auditório do Teatro Pedro II lotado, a jornalista mediadora perguntou por que ele, em meados dos anos 70, havia parado de escrever. A explicação foi que, como a época era dos anos de chumbo, em plena ditadura militar, os artigos escritos para os jornais não serviam para mais nada. Esse foi o motivo por que ele resolveu parar de escrever e começar a pintar.” [1]
A lembrança dessa palestra me levou a achar que seria melhor dar um tempo e não escrever mais porque não acontecia nada de diferente nesse nosso mal tratado país. Porém, como a habilidade para começar pintar é inexistente, a indignação permaneceu latente e outros artigos acabaram sendo escritos.
Desse modo, abandonada de vez a ideia da pintura de quadros, em uma data próxima do Natal de 2020, um indignado artigo fazia duas perguntas: “Quando vamos poder comemorar, de fato e de direito, o final dessa proto-ditadura (ou ditadura?) que se instalou no país pela triste obra de 57 milhões de brasileiros? Até quando vamos aguentar esse des-governo que está mais preocupado em promover a morte, com suas armas baratas e com suas cloroquinas caras, ou se isso não é uma descarada prática da eugenia, o que seria então?” [2]
Pouco tempo depois, antes de rolar o inicio da “CPI do Genocídio”, percebia-se que alguns caminhos poderiam ser seguidos para uma mudança do curso da história. “Os caminhos institucionais para que uma geração inteira não sofra com uma “nova” ditadura estão postos: o Congresso Nacional, o Tribunal Superior Eleitoral, o Supremo Tribunal Federal, somente para citar alguns desses caminhos mais conhecidos, dispõe de material suficiente para interromper esse processo autoritário. Aguardamos que se mexam.” [3]
Nesse sentido, parece que se mexeram e a “CPI do Genocídio” foi criada e está funcionando, com suas revelações diárias cada vez mais escabrosas.
“Por outro lado, espera-se que se torne uma realidade, também, a “CPI da Devastação”, que está em gestação na Câmara dos Deputados, pois se essa investigação correr em paralelo a “CPI do Genocídio” pode sedimentar as atrocidades de um processo destruidor em curso, sendo que a sua fase de execução foi iniciada desde o dia da posse em 01/01/2019.
Para essa “CPI da Devastação” gostaríamos de lembrar um assunto que deve ser abordado, obrigatoriamente, uma vez que a natureza o deixa de certa forma “escondido” e pode passar batido nas discussões: é o Aquífero Guarani. A relação desse mega reservatório de águas subterrâneas com a Floresta Amazônica não deve ser esquecida, por exemplo. “É muita cara de pau dessa gente de verde, de branco e de azul, vir com um discurso patriótico sem entender que a aniquilação da Amazônia, como eles vêm fazendo, vai acabar também com os “rios aéreos” ou os “rios voadores” que são as imensas massas de vapor água que se deslocam para a região sudeste e vão recarregar o Aquífero Guarani.”” [4]
Por isso a água, sempre esse precioso líquido, nos remete às palavras do poeta espanhol Joan Manuel Serrat que escreveu: “Se o Homem é um povo, a água é o mundo. Se o Homem é lembrança, a água é memória. Se o Homem está vivo, a água é a vida. Cuide dela, como ela cuida de ti.”
“Por onde a água passa produz modificações. Pode dissolver os minerais das rochas e arrastar seus componentes bem distantes para a deposição. Pode formar rios, lagos e oceanos, acumulando um volume considerável de espécies aquáticas. Pode tanto recarregar os aquíferos como transbordar em áreas de inundação e causar prejuízos econômicos em áreas urbanas.”
A introdução acima abria o e-book Por onde a água passa – coletânea de artigos e foi a primeira coletânea publicada pelo autor em 2019, que reunia 74 artigos em fac-símiles escritos para o jornal Gazeta de Ribeirão, entre os anos 2006 e 2012, e que procurou divulgar o tema relacionado às Ciências da Terra, com ênfase no Aquífero Guarani. Essa coletânea encontra-se disponível no repositório de documentos do CeReGAS - Centro Regional para la Gestión de Aguas Subterráneas (UNESCO) [5] e pode ser acessada, gratuitamente, também, através dos sites da Alumni USP [6] e do Instituto Humanitas Unisinos [7].
A segunda e recente coletânea Por onde a água passa – coletânea de artigos de antes e durante a quarentena que reúne 104 crônicas, escritas entre julho de 2019 e maio de 2021, foi motivada pela necessidade de se falar do nosso dia a dia, vivendo a maior parte do tempo em quarentena por causa da pandemia do coronavírus e abrange temas variados como geologia, política, futebol e muitas lembranças de um passado não muito distante. A sua publicação, em outro e-book, disponível no formato PDF, ISBN 978-65-88816-20-2, pode ser acessada, gratuita e diretamente, pela BASE ACERVUS - Sistema de Bibliotecas da UNICAMP [8].
Nesses tempos difíceis que estamos vivendo no Brasil e no mundo, espera-se com esta forma de abordagem dos temas aqui tratados que alguns deles possam estimular, modestamente, mentes e corações, na busca de um caminho mais esperançoso para o nosso país e para a maioria das pessoas. As águas passam e as pessoas também, mas não nos esqueçamos de que as memórias ficam registradas e elas nos movimentam de um lugar para o outro, mesmo que a maré, momentaneamente, seja contra a maioria.
“Cais do porto / Tenha pena de mim / Já é dia, nem vestígio sequer / Não será cais do porto / Aquela luzinha que lá longe apaga e acende / Fazendo sinal quem sabe pra mim”. (trecho de “Cais do Porto” de Capiba).
[1] Não acontece mais nada. Disponível aqui.
[2] Finalzinho de governo. Disponível aqui.
[3] Uma geração. Disponível aqui.
[4] Agora melou. Disponível aqui.
[5] CeReGAS - Centro Regional para la Gestión de Aguas Subterráneas (UNESCO). Disponível aqui.
[6] Alumni USP. Disponível aqui.
[7] Instituto Humanitas Unisinos. Disponível aqui.
[8] BASE ACERVUS - Sistema de Bibliotecas da UNICAMP. Disponível aqui.
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Por onde a água passa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU