30 Abril 2021
"Apesar de o Aquífero Guarani ser muito mais velho do que o Corinthians, somente fui começar a ouvir falar dele, ainda como Aquífero Botucatu, como era chamado em território brasileiro, quando comecei a trabalhar com águas subterrâneas a partir da segunda metade da década de 70", escreve Heraldo Campos, graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e Doutor em Ciências (1993) pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo - USP. Pós-doutor (2000) pelo Departamento de Ingeniería del Terreno y Cartográfica, Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pelo Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo - USP.
Agora, com relação ao meu time do coração, aquele do Parque São Jorge, acho que comecei a ouvir falar dele desde o berço, no antigo bairro do Brás, onde nasci, na cidade de São Paulo, que era conhecida na época como a “terra da garoa”.
Lembro que passei todo o tempo de escola, passando pelo primário, ginásio, colegial e faculdade, ouvindo gozação sobre o Timão que não ganhava um titulo paulista desde 1954, quando foi o Campeão do Quarto Centenário.
Como o corintiano é duro de entregar a rapadura, foram tantos os jogos assistidos nos estádios do Pacaembu, do Morumbi, do Canindé e na acolhedora Fazendinha, onde as emoções sentidas por um torcedor dos alambrados nem sempre eram acompanhadas pela vitória do seu clube, ao final dos jogos. Ao contrário, não foram poucas vezes que o time saia derrotado em campo, mas a Fiel sempre corajosa e esperançosa estava aplaudindo os jogadores e aguardando dias melhores. A partir do histórico título paulista de 1977 o Coringão colecionou uma série de taças importantes e até um bi-campeonato mundial de clubes.
O Aquífero Guarani é da época dos dinossauros. Muito antigo. Esse mega reservatório de águas subterrâneas, que se estende na região do Cone Sul, distribuindo-se em área na Argentina, Brasil (oito estados), Paraguai e Uruguai, atende a demanda de abastecimento de água para milhares de pessoas, assim como supre a agricultura e a indústria com seu precioso líquido.
Principalmente nos últimos 30 anos passados, muito se discutiu nacional e internacionalmente, em vários eventos técnico-científicos, a sua gestão compartilhada, pelo fato da água se tratar de um bem público e pertencer aos povos que habitam essa região do planeta. Durante os acalorados debates nos fóruns de discussão sobre como o Aquífero Guarani deveria ser tratado e administrado pelos quatro países, nem sempre o tema da água como mercadoria ou como uma “commodity” era passado em branco, defendido por aqueles que querem sempre “levar uma vantagem em tudo, certo?”.
Nesses tempos difíceis, onde abrir a porteira para “passar a boiada” é um gesto autoritário e corriqueiro, tanto quanto aqueles que defendem a água como mercadoria, precisamos ficar super atentos para não sermos, mais uma vez, surpreendidos com o “patriotismo” dos governantes de plantão no seu exacerbado entreguismo. Todo o cuidado é pouco, mas alertamos que não somos poucos e vamos reagir.
O Sócrates foi o maior jogador do Corinthians que vi jogar em campo. Sempre dizia isso nas boas e velhas conversas de botequim. Por minha sorte e por causa do meu trabalho como geólogo sobre o Aquífero Guarani, pude desfrutar da sua amizade por uns três anos consecutivos, quase nos encontrando diariamente. Essa entrevista para o Sócrates, dada há 14 anos, para o programa “Papo com Dr.”, na cidade de Ribeirão Preto (SP), foi no tempo que avançávamos alguma coisa com o conhecimento e a gestão do Aquífero Guarani e, também, com o Corinthians ganhando quase tudo nos campos de futebol da vida:
Vai, Aquífero Guarani! Vai, Corinthians!
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Aquífero Guarani e Corinthians. Artigo de Heraldo Campos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU