09 Julho 2021
"A proposta é que a Igreja resista às tentações políticas e assuma 'um papel profético na sociedade'. De fato, embora fragilizada, 'ainda é o espaço relacional mais difundido do país e a Itália precisa mais do que nunca redescobrir a relação'", escreve Luigi Accattoli, vaticanista, em artigo publicado por Corriere della Sera, 08-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O rebanho perdido em vez da ovelha perdida: a atualização da parábola do Evangelho, já antecipada pelo Papa Francisco, é agora relançada por um grupo dos católicos para tentar entender o atual mal-estar da Igreja. “Temos apenas uma ovelha no redil e vocês precisam sair para encontrar as outras noventa e nove”, o Papa Bergoglio vem repetindo há oito anos, propondo a estratégia da saída como remédio. Giuseppe De Rita propõe agora algo muito semelhante em nome de um grupo de amigos que se autodenominam "Estar aqui" e se dizem movidos pela convicção de que a cultura católica ainda tem "muito a oferecer" desde que seus portadores saiam da autorreferencialidade e decidam "buscar a Igreja fora da Igreja".
Giuseppe De Rita é o presidente, Liliana Cavani a vice-presidente: e já fica claro que estamos longe das sacristias. O aroma de campo aberto é confirmado com a lista dos sócios, que vai de Ferruccio de Bortoli a Romano Prodi e Andrea Riccardi. E Gennaro Acquaviva, Renato Balduzzi, Carlo Borgomeo, Annamaria del Prete, Amalia Maione, Mario Marazziti, Mario Morcone, Alessandro Pajno, Massimo Naro. Seu livreto se apresenta como um "relatório de pesquisa" semelhante aos do Censis, do qual Giuseppe De Rita é o histórico pai e professor. Parte da fotografia da "prova" de que o ano da pandemia foi para a Igreja italiana e na qual "algumas questões críticas latentes há anos, como a desconexão com a sociedade real, a distância entre fiéis e pastores, a irrelevância no pensamento sócio-político, surgiram de forma decisiva”.
Irrelevância em primeiro lugar. O relatório indica que "para 39% dos italianos e 50% dos praticantes, a Igreja aceitou acriticamente demais as decisões do governo de primeiro suspender e depois limitar os serviços religiosos". E apenas 28,6% dos praticantes experimentaram a impossibilidade de ir à missa como uma "privação". O grupo admite que o Papa Francisco remediou "parcialmente" a incapacidade da comunidade de interpretar o estado pandêmico, mas a descrição da "Igreja em declínio" é implacável: a crise é admitida por 65,6% dos praticantes. 42,2% acreditam não ter conseguido enfrentar os desafios da modernidade.
50% reconhecem que “os párocos conhecem cada vez menos a realidade social das suas paróquias”. A perda da vertente sócio-política "enfraqueceu a cultura católica mais do que a tornou autônoma". Certamente persistem as inúmeras ações sociais da catolicidade, “mas sem que exista uma síntese e uma representação comum: o resultado é uma Igreja que fala sem contar e que age sem falar”.
O que fazer "para uma repartida"? O grupo foge das tentações fundamentalistas e considera que hoje, ao se barricar em defesa de valores não negociáveis, “fica-se marginalizado” e se perde “o diálogo construtivo com o resto da sociedade”. Que é, ao contrário, o caminho proposto: porque “a vida da Igreja está na relação”; e porque “colocar um pé fora de seu recinto a ajudará a não cair e permitirá que a sociedade a reconheça”.
A proposta é que a Igreja resista às tentações políticas e assuma "um papel profético na sociedade". De fato, embora fragilizada, “ainda é o espaço relacional mais difundido do país e a Itália precisa mais do que nunca redescobrir a relação”.
De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
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Católicos em busca do rebanho perdido da Igreja. Artigo de Luigi Accattoli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU