23 Abril 2021
"O Brasil é uma potência submergente, enquanto a China é uma potência emergente, já disputa a hegemonia global com os EUA e se prepara para liderar o mundo na Quarta Revolução Industrial", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 22-04-2021.
Brasil e China tem em comum o fato de serem dois países com grande extensão territorial e grande volume de população. São duas “potências” demoeconômicas do grupo BRICS e dois grandes degradadores do meio ambiente. Todavia, o maior país da América do Sul está em processo de encolhimento geral e o maior país da Ásia está em processo de engrandecimento econômico e social (mas não ambiental).
O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 2,3% em 2020, enquanto no Brasil a queda foi de 4,1%. No primeiro trimestre de 2021 a economia brasileira cambaleia, enquanto o PIB da China cresceu 18,3% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano anterior. Olhando para as últimas décadas, desde as reformas levadas a cabo por Deng Xiaoping, as diferenças são marcantes.
O gráfico abaixo mostra a renda per capita (US$ a preços constantes em poder de paridade de compra – ppp) do Brasil e da China, segundo dados do relatório WEO, do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado no dia 06 de abril de 2021, que apresenta uma série de estatísticas nacionais e internacionais de 1980 até 2020, com projeções até 2026. O Brasil tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil em 1980, enquanto a China tinha uma renda de US$ 674 (A renda brasileira era 17 vezes maior). Em 2013 o Brasil ainda tinha uma renda 40% maior, mas em 2017 houve empate e em 2020 a China já tinha uma renda de US$ 16,3 mil contra US$ 14,1 mil do Brasil. Ou seja, o Brasil tem uma renda estagnada por mais de uma década (2010 a 2020) enquanto a China marcha celeremente rumo ao grupo de países de renda alta.
Evidentemente, as razões para o avanço asiático e a estagnação latino-americana são muitas e fogem do escopo deste artigo. Mas cabe ressaltar que a Ásia tem conseguido combater a pandemia com muito mais sucesso. Especialmente no leste asiático, onde a maioria dos países apresentam baixos coeficientes de incidência e de mortalidade. A estratégia de desenvolvimento da China e dos países do leste asiático – baseado na promoção das exportações (“Export-Led Growth”) tem mostrado melhores resultados práticos do que a estratégia dos países latino-americanos baseada na substituição de importações.
O gráfico abaixo, com dados da Organização Mundial do Comércio, mostra que até 1984 o Brasil (com exportações de US$ 27 bilhões e 1,4% das exportações globais) exportava mais do que a China (com US$ 26 bilhões e 1,3% das exportações globais). Mas a história mudou completamente nos anos seguintes e em 2011, enquanto o Brasil chegou no auge das suas exportações US$ 256 bilhões (1,4% das exportações globais) a China chegou a US$ 1,89 trilhão (10,4% das exportações globais). Em 2020, o Brasil exportou US$ 209 bilhões (1,2% das exportações globais), enquanto a China exportou US$ 2,6 trilhões (16% das exportações globais). Ou seja, em menos de 40 anos a China que exportava menos do que o Brasil passou a exportar 12,4 vezes mais, mostrando que a estratégia de “Export-Led Growth” foi um sucesso.
O melhor desempenho econômico da China fica claro na análise do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O gráfico abaixo mostra que em 1990 o IDH do Brasil era de 0,613 contra apenas 0,4999 da China. Mas em 2010 os valores tinham passado para 0,727 e 0,731, respectivamente. Em 2019, houve praticamente empate com os dois países com IDH na casa de 0,76. A perspectiva para 2020 é de que o IDH da China supere o IDH brasileiro, pois o país asiático melhorou nos 3 indicadores do Índice, já que avançou na renda per capita, na esperança de vida e na educação, enquanto o Brasil regrediu nos três aspectos.
Em síntese, o Brasil está preso na “armadilha da renda média”, possui alto déficit fiscal, elevada dívida pública, baixa produtividade, pequena competitividade no comércio internacional e está desperdiçando a janela de oportunidade demográfica, pois tem mais de 32 milhões de pessoas desempregadas ou desalentadas. Já a China implantou uma política de pleno emprego, possui altas taxas de poupança e investimento, alta produtividade dos fatores de produção, elevadíssima competitividade internacional e avança rapidamente para o topo dos países mais avançados tecnologicamente.
Isto é, o Brasil é uma potência submergente, enquanto a China é uma potência emergente, já disputa a hegemonia global com os EUA e se prepara para liderar o mundo na Quarta Revolução Industrial.
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China potência emergente e Brasil potência submergente. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU