09 Fevereiro 2021
O presidente do Pontifício Comitê das Ciências Históricas aplaude os Papas Francisco e Bento XVI por “quebrarem com o silêncio” sobre o destino dos filhos de clérigos.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 04-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Padre Bernard Ardura, presidente do Pontifício Comitê das Ciências Históricas, admitiu que a Igreja Católica cometeu um “erro” no passado por tentar esconder o problema de padres que tiveram filhos.
“A Igreja, no período anterior ao nosso, assim como outras instituições de nossa sociedade, cuidadosamente evitavam tornar público qualquer coisa que envolvesse o comportamento de seus membros, comportamento que certamente repudiavam, mas sobre o qual mantinham o silêncio, certamente envergonhados, mas também por medo de perder a confiança”, escreveu Ardura em uma análise de três páginas sobre a atitude da Igreja em relação aos filhos dos padres, que foi publicada com discrição no meio de janeiro.
“Isso foi um erro, o qual pode ser explicado pelo contexto, mas que permanece sendo um erro”, admite o padre norbertino francês que lidera o comitê de ciências históricas do Vaticano desde 2009.
O documento está disponível somente em francês. Ele foi publicado no site “Coping International”, um grupo que facilitava apoio psicológico e pastoral gratuito para filhos de padres e de religiosos católicos, e defender os direitos dessas crianças.
O padre Ardura, de 72 anos, respondeu seis questões que líderes do grupo levaram a ele.
Ele admite que, “objetivamente, o silêncio em torno dessas crianças e suas origens, assim como os padres e religiosos envolvidos nessas situações, tem causado consequências prejudiciais nas pessoas, tanto nas crianças quanto nos adultos”.
Mas o historiador, que trabalhou de 1992-2009 como chefe do Conselho Pontifício para Cultura, disse que Bento XVI e Francisco tentaram “quebrar com o silêncio” sobre esse assunto.
“Evitar o quanto for possível as ‘questões que perturbam’ é uma reação humana que nós todos vivemos uma ou outra vez, mas isso é frequentemente resultado de um erro de discernimento”, afirmou o oficial do Vaticano.
Perguntado se a Igreja Católica “sabia que os filhos de ordenados eram uma realidade”, mas escolhia ignorá-los, padre Ardura responde que “a Igreja seguiu o caminho de todas as outras instituições, as quais cuidadosamente evitam revelar publicamente as graves falhas de seus membros”.
“Essa escolha foi guiada pela convicção que escândalos devem ser evitados o quanto for possível e pelo medo de que a confiança no clero fosse erodida”, apontou.
Ele repetiu muito claramente que esse era um “erro”, mas disse “o historiado precisa levar em conta os fatos do passado em seus contextos históricos, culturais, sociológicos, etc. e abster-se de qualquer anacronismo”.
No entanto, ele também aponta que muitas dioceses e instituições religiosas “interveem regularmente para assumir a responsabilidade, pelo menos materialmente, por essas crianças”.
“Infelizmente, isso não retira o sofrimento que sentiram, mas demonstra compaixão”, insistiu.
“Esta é a primeira vez que consultamos sobre este assunto específico”, disse o padre Ardura ao La Croix.
“Que eu saiba, não existe uma obra histórica. O silêncio que envolveu essas crianças durante anos, de fato, tornou isso impossível”, acrescentou.
O cardeal Beniamino Stella, prefeito da Congregação para o Clero, confirmou em uma entrevista de fevereiro de 2019 à mídia oficial do Vaticano que existe um guia interno para lidar com essas situações desde 2017.
Ele prevê um procedimento administrativo acelerado para permitir que um padre com um filho seja dispensado dentro de “alguns meses” das obrigações do sacerdócio.
Se um padre não quiser pedir dispensa, contra a vontade de seu bispo ou superior, Roma decide a favor das responsabilidades parentais.
Não está claro como os bispos em vários países ao redor do mundo lidaram com a questão. Mas os franceses organizaram um encontro com filhos de padres pela primeira vez em junho de 2019.
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Membro do Vaticano diz que a Igreja estava errada em ficar em silêncio sobre os filhos de padres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU