14 Janeiro 2021
Na terça-feira, a Comissão Irlandesa de Investigação sobre Lares Materno-Infantis divulgou seu relatório sobre 18 casas de acolhimento de 1922 a 1998. Uma das descobertas do inquérito de seis anos é que 9.000 crianças morreram em tais casas.
A reportagem é publicada por Independent Catholic News, 12-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Cerca de 56.000 pessoas – de meninas de 12 anos a mulheres na casa dos 40 anos – foram enviadas para as instituições investigadas. Cerca de 57.000 crianças nasceram nelas, de acordo com o relatório.
Uma em cada sete dessas crianças (15%) não sobreviveu o suficiente a ponto de deixar as casas, mas nenhum alerta foi dado pelo Estado sobre as altas taxas de mortalidade, embora isso fosse “sabido pelas autoridades locais e nacionais” e estivesse “registrado em publicações oficiais”, constatou o relatório. O documento classifica as taxas de mortalidade infantil como a “característica mais inquietante dessas instituições”.
Falando nessa terça-feira, o Taoiseach da República da Irlanda, Micheál Martin, disse que o relatório “abre uma janela para uma cultura profundamente misógina na Irlanda ao longo de várias décadas” e que o relatório “revela falhas significativas do Estado e da sociedade”.
Em nota, o arcebispo Eamon Martin disse:
“Acolho a publicação do Relatório dos Lares Materno-Infantis. Como líder da Igreja hoje, aceito que a Igreja fez claramente parte daquela cultura em que as pessoas eram frequentemente estigmatizadas, julgadas e rejeitadas. Por isso, e pela ferida duradoura e pelo sofrimento emocional que daí resultou, peço desculpas sem reservas aos sobreviventes e a todos aqueles que são pessoalmente impactados pelas realidades que ele revela. Atentos ao Evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a proteger a vida e a dignidade e a tratar a todos – especialmente os menores e todos os vulneráveis – com amor, compaixão e misericórdia, eu acredito que a Igreja deve continuar a reconhecer diante do Senhor e dos outros a sua parte naquilo que o relatório descreve como uma ‘atmosfera severa (…) fria e indiferente’.
“Embora possa ser angustiante, é importante que todos nós passemos algum dia nos próximos dias refletindo sobre esse relatório, que toca a história pessoal e a experiência de muitas famílias na Irlanda. O relatório da comissão ajuda a trazer ainda mais à tona aquela que foi por muitos anos uma parte oculta da nossa história compartilhada e expõe a cultura de isolamento, sigilo e ostracismo social que as ‘mães solteiras’ e seus filhos enfrentaram nesse país.
“Peço a todos os que ocupam posições de liderança na Igreja que estudem cuidadosamente esse extenso relatório e, especialmente, passem algum tempo refletindo sobre os corajosos testemunhos das testemunhas à comissão. Juntos, devemos perguntar: ‘Como isso pôde acontecer?’. Devemos identificar, aceitar e responder às questões mais amplas que o relatório levanta sobre o nosso passado, presente e futuro.
“Acima de tudo, devemos continuar encontrando formas de ir ao encontro daqueles cujos testemunhos pessoais são centrais para esse relatório. Eles mostraram determinação em trazer à tona esse capítulo sombrio da vida da Igreja e da sociedade. Devemos a eles o fato de dedicar tempo para estudar e refletir sobre as conclusões e as recomendações do relatório e nos comprometer a fazer o que pudermos para ajudá-los e apoiá-los. O relatório deixa claro que muitos ainda estão aprendendo sobre as suas histórias pessoais e procurando por familiares. Os direitos de todos os sobreviventes de ter acesso às informações pessoais sobre si mesmos devem ser totalmente respeitados, e, mais uma vez, eu exorto o Estado a garantir que quaisquer obstáculos remanescentes à informação e ao rastreamento sejam superados.
“A comissão acredita que pode haver pessoas com mais informações sobre os locais de sepultamento que não se apresentaram. Apelo a qualquer pessoa que possa ajudar que o faça. Todos os locais de sepultamento devem ser identificados e devidamente marcados para que os falecidos e suas famílias sejam reconhecidos e nunca sejam esquecidos.
“Esperamos que esse relatório não fale apenas do nosso passado, mas também traga lições para hoje e para as gerações futuras. Como Igreja, Estado e sociedade em geral, devemos garantir juntos que, na Irlanda de hoje, todas as crianças e suas mães se sintam queridas, acolhidas e amadas. Também devemos continuar nos perguntando onde as pessoas hoje podem se sentir igualmente rejeitadas, abandonadas, esquecidas ou empurradas para as margens.
“Esse relatório vai despertar muitas emoções à medida que revela ainda mais verdades perturbadoras e dolorosas sobre o nosso passado. Louvo aqueles que lutaram para que essa história seja contada e agradeço aqueles que já apoiaram os sobreviventes através de várias organizações e forneceram uma plataforma para que suas vozes fossem ouvidas.”
Um resumo oficial do relatório está disponível aqui, em inglês.
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Irlanda: arcebispo Martin comenta relatório sobre lares materno-infantins - Instituto Humanitas Unisinos - IHU