19 Novembro 2020
Moradores relatam pane em equipamentos eletrônicos e até casas que pegaram fogo por conta da oscilação de energia.
A reportagem é de Catarina Barbosa, publicada por Brasil de Fato, 17-11-2020.
Comunidade da 10ª Avenida do Congós, localizada em uma área de palafita, na periferia de Macapá, capital do Amapá. (Foto: Dayane Oliveira/Brasil de Fato)
O estado do Amapá completa nesta terça-feira (17), 15 dias do apagão de energia elétrica que atingiu 13 dos 16 municípios do estado. A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) mantém o sistema de rodízio com o prazo de 26 de novembro para a normalização da energia.
A população, sobretudo da periferia, relata prejuízos financeiros como equipamentos eletrônicos queimados e até residências que pegaram fogo.
Na última segunda-feira (16) cerca de 37 geradores termelétricos levados de Manaus, no Amazonas, chegaram ao Amapá, pelo Rio Amazonas como solução temporária para o problema. A medida definitiva virá com o transformador trazido de Laranjal do Jari, que ainda está em trânsito para Macapá, segundo informações da Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE).
Segundo Rozineide Cardoso, moradora da comunidade da 10ª Avenida do Congós, localizada em uma área de palafita, na periferia de Macapá, capital do estado, o racionamento de energia proposto pela CEA não cumpre o cronograma estipulado.
Ela, que é comerciante, e mora há mais de 20 anos no Congós relata ao Brasil de Fato que nunca imaginou viver uma situação como essa.
“A luz fica por três horas, depois ela vai embora e depois demora para voltar, principalmente à noite”, conta.
Cardoso afirma que sua renda caiu drasticamente tanto pela oscilação de energia, que impossibilita a venda de mercadorias, quanto pela insegurança já que não há clientes, porque os moradores se recolhem antes do anoitecer.
“Ficamos na escuridão, só na vela, e a gente tem que se recolher, porque somos obrigadas. Somos obrigadas a desligar tudo, porque a hora em que chega pode queimar os aparelhos e o prejuízo é para a gente. Ninguém faz nada. O povo amapaense está abandonado”, desabafa.
Comunidade da 10ª Avenida do Congós, área de palafita, na periferia de Macapá, capital do Amapá. (Foto: Sâmea Fernandes/Arquivo Pessoal)
Nas últimas duas semanas, os moradores fizeram diversos protestos pela cidade, sendo dois deles em frente ao Palácio do Setentrião, sede do governo do estado. Nesta quarta-feira (18) acontecem mais dois protestos na zona sul, onde mora boa parte das pessoas da periferia da capital Macapá e em Santana, segunda maior cidade do estado.
Marta da Silva, militante do Levante Popular da Juventude, diz que os locais foram escolhidos justamente porque o racionamento em Macapá não chega até eles. “A ideia é mobilizar a população nessas duas manifestações simultâneas”, diz.
Daniel Lima, um dos organizadores do Movimento SOS Amapá afirma que a população está esgotada e preocupada com os muitos prejuízos que estão amargando por conta do apagão. Morador de São Lázaro, bairro situado na zona norte de Macapá, ele diz que passou a última noite em claro.
“A energia simplesmente ia e voltava. Eu tava na casa de uma amiga anteontem no Buritizal, na zona sul, do outro lado da cidade e também durante o dia a energia ia e voltava. Então, existe uma instabilidade muito grande que gera uma aflição maior na população”, conta.
Ele afirma que tem acompanhado diversos relatos dos moradores e que os mais prejudicados são as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade, como os moradores de palafitas. “Inclusive houve uma casa que pegou fogo na semana passada, segundo a moradora, por causa da energia estar indo e voltando”, conta.
“É importante lembrar que eles colocaram umas chaves nos postes para evitar com que os eletrodomésticos das pessoas queimem, quando a energia voltar, o problema é que nem toda cobertura de energia é regular”, diz ele explicando que os moradores dessas áreas vivem diversas privações.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) sobre a queima de aparelhos eletrodomésticos. Eles informaram que as pessoas que se sentirem lesadas devem procurar o atendimento da CEA e fazer o registro de queima de equipamento. “A companhia vai seguir o regulamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de fazer inspeção, gerar laudo e, caso se confirme que houve de fato a queima por oscilação, providenciaremos o ressarcimento”, diz a assessoria.
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Apagão no Amapá completa 15 dias: estado mantém rodízio e periferia amarga prejuízos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU