18 Novembro 2020
Grupos que representam mais de 1,5 milhão de católicos alemães reiteraram a “urgente necessidade de mudança” na Igreja para reverter a “perda de credibilidade da instituição”.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 17-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Diálogo construtivo e debate sobre reformas necessárias são absolutamente essenciais” nessa altura da vida da Igreja a fim de “estar apta a reconstruir a confiança” na instituição, os líderes de cinco das maiores organizações católicas enfatizaram em uma declaração conjunta em 13 de novembro.
Os líderes da Federação de Jovens Católicos Alemães (BDKJ), o Movimento dos Trabalhadores Católicos da Alemanha (KAB), a Associação de Mulheres Católicas da Alemanha (KDFB) e a Obra Kolping da Alemanha insistiram na necessidade de hoje “de uma evangelização que vai ao encontro do povo e transmite a eles a Boa Nova e a vida de fé que pode ser enriquecida”.
Mas para além do amplo entendimento da necessidade de uma nova evangelização, os grupos católicos alemães referem-se à necessidade que a Igreja alemã tem em continuar, sem titubear, o “Caminho Sinodal”.
Esse processo de reforma foi compromissado em março de 2019, a fim de examinar criticamente as estruturas da Igreja – incluindo o celibato clerical obrigatório, a marginalização de mulheres, rígida moralidade sexual e o duro exercício de poder e autoridade – que podem contribuir com a crise de abusos sexuais do clero.
Enquanto os grupos faziam a convocação, em junho de 2019 o papa Francisco escreveu uma carta para os católicos na Alemanha sobre o Caminho Sinodal, na qual ele dizia compartilhar de suas “preocupações com o futuro da Igreja” e reconhecia que esse era um “ponto de virada na história” que levantava “novas e velhas questões” sobre a vida da Igreja “ante um debate que é justificado e necessário”.
Longe das críticas ao Caminho Sinodal que alguns na Igreja consideram, as associações católicas alemãs afirmam que a carta do Papa contém uma motivação “orientadora e encorajadora” para trabalhar para fazer da Igreja “uma forte força espiritual e pastoral que comunica o Evangelho na sociedade e o proclama com credibilidade”.
Esse objetivo do Papa “requer uma orientação espiritual, conhecimento teológico, uma nova forma de ouvir uns aos outros e um diálogo aberto”, acrescentaram os grupos.
Os grupos católicos relembraram o estímulo que levou a Igreja alemã a seguir o Caminho Sinodal – o estudo MHG 2018 por pesquisadores universitários que descobriu que 3.677 crianças e jovens foram abusados por 1.670 clérigos entre 1946-2014.
A “massiva” quantidade de casos de pedofilia sacerdotal desenterrados pelo estudo MHG sublinha a “necessidade urgente” de “mudanças e reformas estruturais” na Igreja que devem estar “no centro do Caminho Sinodal”, que agora também deve levar em conta relato dos “desenvolvimentos relacionados com a pandemia na vida da Igreja”, destacaram as associações.
Os grupos católicos alemães encerraram sua declaração lembrando que os mais de 1,5 milhão de crentes que eles representam “esperam” que os tópicos e questões levantadas pelas conclusões do estudo MHG “sejam seriamente considerados, discutidos e decididos” no Caminho Sinodal.
Por isso, as associações voltaram a se comprometer com os objetivos do Caminho Sinodal de reforma, transparência e responsabilidade, e exortaram os participantes a continuar “com coragem, força, confiança e abertura”.
“Aos que têm dúvidas e preocupações, clamamos: Confiem que o Espírito de Deus está agindo na assembleia sinodal!”, concluíram os grupos.
O apelo das associações por um novo compromisso com o Caminho Sinodal veio quando Marc Frings – o secretário-geral do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZDK), o corpo leigo que organiza o Caminho Sinodal junto com os bispos alemães – advertiu que com o constante aparecimento de “novos” casos de abuso, “encobrimentos e desculpas”, a Igreja entrou em “constante estado de alerta”.
“Conversão e renovação” só podem se tornar uma realidade se os participantes do Caminho Sinodal “entrarem na casa das máquinas” e sujarem as mãos com a mudança prática, Frings insistiu, pedindo que o Caminho Sinodal não degenere em apenas “mais um marco na história processos de renovação fracassados na Igreja Católica na Alemanha”.
Alegando que a sinodalidade “deve ser transformada em um estado permanente” na Igreja, o secretário-geral do ZDK alertou:
“Sem superar o clericalismo, uma compreensão ultrapassada de acesso ao ministério ordenado, a exclusão das mulheres – sem cujo compromisso – muitas vezes voluntário – a vida da Igreja na Alemanha não funcionaria – e a sincronização com a compreensão atual de amor, relacionamento e sexualidade entre as pessoas, a Igreja como instituição passará por momentos difíceis. Ela vai acabar com ela mesmo”.
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Grupos representando 1,5 milhão de católicos alemães reiteram “a urgente necessidade de mudança” na Igreja para reverter “a perda de credibilidade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU