08 Outubro 2020
O currículo do desembargador Kassio Nunes Marques, 48 anos, indicado pelo presidente Jair Messias Bolsonaro para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), traz um curso de pós-graduação de “Contratación Publica” que ele teria realizado na Universidade de La Coruña, na Espanha, mas que a instituição não reconhece, informou o jornal O Estado de S. Paulo.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Para complicar ainda mais as dúvidas a respeito do currículo de Kassio Nunes, a revista Crusoé revelou, com exclusividade, ontem, que o desembargador apresentou dissertação de mestrado à Universidade Autônoma de Lisboa com “trechos inteiros copiados de artigos publicados na internet” pelo advogado Saul Tourinho Leal.
Com o uso da ferramenta “Plagium”, Rodrigo Rangel e André Spigariol, segundo o portal de direita “O Antagonista”, passaram pelo programa as 127 páginas da dissertação de Kassio Nunes. Detectaram passagens inteiras idênticas a trechos do texto de Tourinho Leal, “muitas sem tirar nem pôr palavras”. Não há na dissertação qualquer referência a Leal.
O advogado Saul Taurinho Leal afirmou, nesta quarta, que as acusações de plágio são infundadas e que as semelhanças entre seus trabalhos e a dissertação de Kassio são “fruto de esforço mútuo dos autores”, noticiou o portal DCM. Taurinho Leal disse que tem “há anos uma relação acadêmica com o desembargador”.
A assessoria do desembargador Kassio Marques afirmou que em nenhum momento foi afirmado que o curso que realizou na Espanha corresponderia a uma pós-graduação no Brasil. “As nominações foram utilizadas conforme suas aplicações no país de origem. O curso ‘postgrado’ na Espanha não tem o mesmo significado acadêmico ao que corresponderia a sua literal tradução no Brasil (pós-graduação). Na Espanha, o ‘postgrado’ é um curso de aperfeiçoamento”, justifica a nota emitida ontem.
Ainda assim, o imbróglio serviu de “gancho” para que o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia, que é aliado do presidente Jair Messias Bolsonaro “mas não alienado”, voltasse a atacar o presidente da República.
Antes da matéria da Crusoé, Malafaia postara nas redes sociais: “TEM QUE DAR EXPLICAÇÃO! Como o indicado para o STF tem 2 pós doutorados, quando acaba de concluir um doutorado? A universidade espanhola nega a existência do curso de pós graduação q ele diz ter feito. Decotelli deixou de ser ministro da educação por muito menos. E AGORA? PIADA!”
Malafaia relatou, em vídeo, que há cerca de um mês ele entregou pessoalmente ao presidente da República, depois de ouvir deputados e outras lideranças, uma lista tríplice de candidatos “terrivelmente evangélicos” para a vaga no STF, aberta pela aposentação do ministro Celso de Mello.
Constavam da lista o desembargador eleitoral de 2017 a 2019, advogado Jackson Di Domenico; o membro do Ministério Público Federal de Brasília, José Eduardo Sabo Paes; o juiz federal, William Douglas, que teria, segundo Malafaia, o apoio de 95% dos evangélicos “topes” que referendaram a lista tríplice.
Na ocasião, Bolsonaro já informara a Malafaia que não seria desta vez que ele indicaria um candidato “terrivelmente evangélico” para a vaga, o que o pastor acabou entendendo. Mas o que o indignou foi a indicação de um candidato que tinha sido conduzido ao cargo de desembargador pelos “esquerdopatas do PT”. Ele esperava o indicativo de um candidato “terrivelmente de direita”.
Malafaia também classificou de “ridículo” o presidente da República ter que defender a escolha que fez para a vaga do STF. Segundo o pastor, Bolsonaro errou com Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, com Sérgio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública, que ocuparam cargos temporários. “O senhor não pode errar em cargos vitalícios”, aconselhou.
A escolha de Bolsonaro para a vaga do STF motivou um racha na ala evangélica. Malafaia diz continuar apoiando-o, mas não é “puxa-saco” e o criticou em diversas postagens. Já o deputado federal Marco Feliciano, pastor da Catedral do Avivamento, elogiou a escolha de Bolsonaro.
A Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) indicou, em nota pública, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o pastor evangélico André Luiz de Almeida Mendonça, para a vaga, que seria “um nome de consenso dentro do segmento evangélico”.
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) veio a público e apoiou a indicação de Kassio Nunes, pois acredita que ele “pode representar um acréscimo à nossa suprema corte, sempre no caminho do desejável equilíbrio que toda a sociedade brasileira demanda e espera do Poder Judiciário”.
Divulgado pelo site “O Antagonista” e confirmado pelo O Globo, a indicação de Kassio Marques chegou até a mesa da presidência da República pelas mãos do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do advogado Frederick Wassef. Em conversa preliminar com senadores, Kassio Marques assegurou que a indicação “foi exclusiva do presidente Bolsonaro”.
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Evangélicos apresentaram a Bolsonaro lista tríplice de candidatos à vaga no STF - Instituto Humanitas Unisinos - IHU