14 Setembro 2020
“Dado surpreendente: proporcionalmente, a favela doou mais do que o asfalto, mais do que as classes A e B. É nas periferias que encontramos um senso arraigado de comunidade, uma lógica de reciprocidade. ‘Se um vizinho tem comida, ninguém passa fome”. Essa foi uma frase que escutamos muito nas pesquisas” – Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
“Dado estarrecedor: um terço das classes A e B – ou seja, gente que pertence aos 25% mais ricos do Brasil – pediram auxílio emergencial e, pasme, 69% deles conseguiram. Proporcionalmente, mais ricos receberam o auxílio emergencial do que aqueles que realmente precisavam, as classes D e E. Sem dúvida alguma, o Brasil tem muito a aprender com a favela” – Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
“Mas tem coisa boa surgindo. Não me lembro de um movimento tão grande e tão abrangente liderado por grandes empresários, por parte da elite, com o objetivo de minorar o sofrimento da população menos favorecida. De um lado tivemos empresários doando, do outro, encontramos organizações como a Central única das Favelas e o Gerando Falcões, que conseguiram escoar essas doações de forma mais rápida e efetiva do que o poder público. Foi essa parceria que salvou o Brasil de uma convulsão social” – Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
“Antes que a flecha chegasse ao peito de Rieli Franciscato e o matasse, já era conhecido o autor original da morte desse indigenista com mais de 30 anos de proteção aos indígenas. Já na campanha Bolsonaro falara contra a existência da Funai. No governo, faz a sua demolição. A Coordenação-Geral de Índios Isolados foi entregue a um pastor, Ricardo Lopes Dias, um dos obcecados com a "evangelização" forçada dos índios. Rieli, sem o número necessário de auxiliares, foi morto na tentativa de evitar um confronto de brancos e índios isolados. Mais uma realização de Bolsonaro” – Janio de Freitas, jornalista – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“Vivemos de novo regime climático: não trata apenas de retirar carbono da atmosfera mas de todas as outras condições da existência. Agora a crise é tamanha que já se entende que o mundo todo vai ser impactado, mas que os mais impactados são aqueles que sofrem com as desigualdades. Fiquei espantado quando soube que seu presidente respondeu que não se importava ou que não podia fazer nada sobre as mortes por coronavírus. Sempre foi básico, até para neandertais, que, se você é um líder, terá que cuidar do seu povo, não pode apenas dizer “que pena, pessoal”. O escapismo é a principal ameaça no mundo. E, comparada a essa ameaça, todas as outras lutas convergem” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
"Há menos de cinco anos o inimigo para os ecologistas era ainda o modelo de desenvolvimento que ignora os limites planetários. Agora nós percebemos que o modernismo implicava na existência de outro planeta para além deste em que vivemos. Mas o modernismo tratava de desenvolvimento, e ainda tentava liderar o mundo. Suas atitudes hipócritas nunca disseram explicitamente “eu não me importo, dê o fora” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“Essa é a tempestade perfeita: quando há a mais forte virada na política, que é o novo regime climático, é também quando há a maior catástrofe na política. Ambos estão relacionados: se a política se tornou tão maluca é porque a crise é muito profunda e ela é sobre o clima. Sobre o horizonte para o Brasil, é muito importante para o resto do mundo que vocês encontrem respostas para essa crise” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“Se vocês (brasileiros) administrarem uma solução, vocês salvam o resto do mundo. Porque em nenhum lugar há a mesma intensidade das duas tempestades se juntando, a ecológica e a política, como há no Brasil. O Brasil é hoje como a Espanha era em 1936, durante a Guerra Civil: é onde tudo que vai ser importante nas próximas décadas está visível” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“O que eu chamo de pólo terrestre é uma mudança de horizonte. Minha obsessão é definir o que é essa direção do terrestre” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“Não há forma de desenvolver o mundo com a ideia modernista dos anos 1970. Não há Terra para isso” – Bruno Latour, filósofo da natureza e da ecologia política – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
"O prazer de comer serve para manter uma boa saúde, da mesma forma que o prazer sexual serve para embelezar o amor e garantir a continuidade da espécie (...) O prazer de comer e o prazer sexual vem de Deus" – Papa Francisco – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
"Nós temos hoje no Brasil, motivados creio eu, meu diagnóstico, por essa quebra de absolutos e de certezas, verdadeiros zumbis existenciais. Os jovens não acreditam mais em nada, desde Deus a política" – Milton Ribeiro, pastor presbiteriano, ministro da Educação – Folha de S. Paulo, 13-09-2020.
“São duas visões (do Papa Francisco e Milton Ribeiro) de mundo antagônicas, que vale a pena comparar. (...) Os dois falam de Deus, mas o Deus de um nada tem a ver com o do outro” – Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho, portal Uol, 13-09-2020.
“Enquanto o papa fala dos prazeres da vida que vem de Deus, apontando para o futuro, o pastor Ribeiro chama os jovens de zumbis que não acreditam em Deus, remetendo a um passado remoto. Zumbi é ele, que num país laico confunde Educação com Religião”– Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho, portal Uol, 13-09-2020.
“Há um discurso conservador, especialmente no Brasil, em que as elites dizem que a redistribuição de renda só poderá ser feita no futuro, quando o País for mais rico, e que, se feita agora, será um desastre até mesmo para os pobres. O que eu quero dizer para os brasileiros é que, pelas evidências internacionais e pelas evidências históricas, o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se desenvolver. Não estou sugerindo zerar a desigualdade e taxar as pessoas ricas em 100%. Mas, no Brasil, hoje você paga altos impostos indiretos — de 20%, 30%, na sua conta de eletricidade, por exemplo. E, se você herda uma herança imensa, você paga somente 1% ou 2% de impostos. Em muitos países, inclusive alguns dos mais ricos do mundo, as pessoas pagam menos impostos na conta de eletricidade e mais impostos sobre altas quantias de dinheiro” – Thomas Piketty, economista, autor do livro Capitalismo e Ideologia – O Estado de S. Paulo, 13-09-2020.
“Vocês (brasileiros) precisam de mais transparência sobre quem está pagando o que e sobre quem está recebendo o quê. No Brasil, é muito difícil de saber, em nível de bens econômicos, quem está pagando tais e tais impostos e quem está acessando tais e tais serviços. Para gerar confiança no Estado brasileiro e para aumentar a capacidade do governo de investir, essa transparência é fundamental. Supostamente, nós vivemos a era da bigdata, mas, na prática, a nossa bigdata é falsa, não passa de um grande monopólio privado das grandes empresas de tecnologia. Estamos, na verdade, na era da grande opacidade no que se refere à administração pública. Da capacidade do governo de rastrear a desigualdade, de rastrear dados de saúde pública, etc., tudo é muito mais restrito do que deveria ser. Acho importante municiar as pessoas, dar as informações, dar a possibilidade de as pessoas acompanharem e avaliarem o que o governo está fazendo, acompanhando os progressos e fracassos. Se você tem uma certa distribuição da carga tributária no Brasil em 2020 e 2021, é importante fixar uma meta para 2022, 2023, 2024, 2025, e divulgar isso publicamente para mostrar o que foi feito e o que não foi. Por enquanto, existe um grande discurso sobre justiça social, mas não os meios para rastrear e monitorar se estão realmente indo nessa direção” – Thomas Piketty, economista, autor do livro Capitalismo e Ideologia – O Estado de S. Paulo, 13-09-2020.
“Precisamos de um sistema tributário mais igualitário, com mais justiça fiscal, aumentando os impostos dos bilionários, dos milionários. O imposto de renda é importante, mas os impostos sobre as fortunas são mais importantes ainda. Porque o que acontece no topo da pirâmide social é que algumas pessoas concentram sua riqueza em empresas, sem caracterizá-la como renda — e sem serem devidamente taxadas, portanto. Nós vivemos numa época em que, em qualquer país, os bilionários aumentaram as suas fortunas, os seus lucros e os seus bens muito mais rapidamente do que a média das pessoas. Então é natural que em algum momento você peça mais a essas pessoas que cresceram mais o seu patrimônio. Tudo bem existirem pessoas ricas e pessoas pobres, contanto que a diferença não seja muito grande e que todos consigam crescer na mesma velocidade. Se você olha para dez anos atrás, as maiores fortunas eram de 30, 40 bilhões de dólares; hoje, elas são de 100, 150 ou quase 200 bilhões de dólares, como é o caso do Jeff Bezos (Amazon). E a economia norte-americana não cresceu nessa mesma velocidade. É importante deixar claro desde já que uma fatia maior vai ser cobrada desses grupos — em parte, para pagar pela nova infraestrutura e pelos novos investimentos e, em parte, para pagar as dívidas que aumentaram agora por causa da pandemia” – Thomas Piketty, economista, autor do livro Capitalismo e Ideologia – O Estado de S. Paulo, 13-09-2020.
"No momento em que o debate ambiental e sustentável cresce no mundo e pressiona o Brasil, a pauta verde, por enquanto e infelizmente, está fora das prioridades da maior parte dos candidatos nas eleições deste ano. A avaliação de políticos e analistas é de que a pandemia da covid-19 intensificou a preocupação com problemas imediatos como saúde e diminuição da renda. Além disso, há a percepção de que a preservação do meio ambiente é responsabilidade do governo federal e que sua discussão deve ser feita no nível nacional e internacional" – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
“As pautas ambientais eram fortes em 2012, mas entraram em declínio quando o Brasil começou a ter uma recessão econômica. As pessoas trouxeram a discussão para um aspecto mais urgente”, afirma o sócio do Instituto Travessia, Bruno Soller.
"Para o cientista político Creomar de Souza, os partidos não são estruturados em termos temáticos e têm a lógica de atender aos interesses do eleitorado nas situações de ocasião" – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
"Souza diz que, apesar dos temas urgentes, o diagnóstico é preocupante. “A maioria dos candidatos não consegue fazer a vinculação entre pauta ambiental e questões concretas, como saneamento básico e água tratada”, diz" – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
"Soller explica que a defesa da pauta verde até pode ser usada para referendar o posicionamento político de um candidato, mas não encontra eco nas vontades dos eleitores" – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
"Para o porta-voz da Rede, Pedro Ivo, a maioria dos partidos ainda pensa no “desenvolvimentismo pelo desenvolvimentismo”. “Eles ainda não incorporaram o desenvolvimento sustentável”, diz" – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 14-09-2020.
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Lógica de reciprocidade: a diferença entre a favela e o asfalto. Frases do dia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU