04 Setembro 2020
"Tradicionais na dieta brasileira, arroz e feijão tiveram queda brusca de consumo em 15 anos. Hoje, os ricos comem muito mais e melhor que todos: 187% mais hortaliças e 303% mais frutas que os 25% mais pobres", escreve Maister F. da Silva, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores e membro do FRONT – Instituto de Estudos Contemporâneos, em artigo publicado por Outras Palavras, 02-09-2020.
Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde e divulgados no último mês de abril, podem ter passado um tanto desapercebidos, no entanto são reveladores. Especialmente no que se refere ao tipo e quantidade de alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras. O arroz, o feijão e a farinha, bases de nossa alimentação cotidiana, tiveram o consumo diminuído consideravelmente. A pesquisa aponta que em 2003 o consumo per capta anual desses alimentos girava em torno de 52 kg, ao passo que em 2018 era de 28 kg.
Alimentos tradicionais na dieta alimentar dos brasileiros tiveram quedas significativas nos últimos 15 anos, para exemplificar: feijão (queda de 52%), arroz (queda de 37%), macarrão (queda de 27%), panificados (queda de 23%), carne (queda de 21%). Tiveram aumento no consumo o frango e o ovo, 56 e 94% respectivamente. O que pode explicar essa mudança repentina nos hábitos alimentares? A queda do poder aquisitivo é um dos fatores, mas também o forte lobby dos impérios alimentares.
A pesquisa confirma que os hábitos alimentares variam conforme o bolso, segundo o critério adotado pelo IBGE, classificou-se como pobres aquelas famílias que possuem renda de até 02 salários mínimos e ricas as famílias com renda superior à 15 salários mínimos. Ou seja, segundo esse critério temos quase ¼ da população na faixa da pobreza, caso tomássemos por base a pesquisa da OXFAM os dados seriam ainda mais desalentadores, segundo a ONG, no país aproximadamente 80% das famílias tem renda per capta inferior a 02 salários mínimos.
A diferença entre o tipo e a quantidade de alimentos adquiridos pelas famílias da base da pirâmide social e pelo andar de cima é abissal, em alguns casos mais que o dobro. O consumo por pessoa da base da pirâmide gira em torno de 199 kg de alimentos/ano, enquanto que uma pessoa considerada rica consome em média 429 kg de alimento/ano.
A tabela abaixo explica em números a diferença significativa no consumo entre as famílias pobres e ricas:
Fonte: IBGE
Nota-se que em alguns casos a diferença atinge percentuais exorbitantes, como: laticínios (176% maior), hortaliças (187% maior), bebidas e infusões (250% maior), frutas (313% maior), processados e ultraprocessados (688% maior). Importante ressaltar que em alguns (poucos) alimentos a relação é inversa: vísceras (46% menor), cereais e leguminosas (27% menor) e pescados (4% menor).
Outro fato que chama a atenção na pesquisa é que a participação de alimentos in natura e minimamente processados foi maior no meio rural do que no meio urbano (57,9% contra 47,7% das calorias totais), relação direta com a produção e disponibilidade de uma alimentação mais balanceada e saudável.
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A desigualdade brasileira posta à mesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU