29 Julho 2020
Com o objetivo de entender os debates em curso sobre o Antropoceno, não basta apenas conhecer a palavra, criada pelo biólogo norte-americano Eugene F. Stoermer, em 1980, e popularizada pelo cientista atmosférico holandês Paul Crutzen no início dos anos 2000. Apresentamos aqui uma visão geral de alguns termos técnicos fundamentais.
A reportagem é publicada por UNESCO e reproduzida por EcoDebate, 28-07-2020.
Este conceito foi inicialmente apresentado no início da década de 1990 pelo defensor da sustentabilidade, o suíço Mathis Wackernagel, e pelo ecologista canadense William Rees. Sua pesquisa sobre a capacidade biológica do planeta, necessária para determinada atividade humana, levou ambos a definir dois indicadores: a biocapacidade e a pegada ecológica (ver abaixo). Desde 2003, esses dois indicadores são calculados e desenvolvidos pela Global Footprint Network, que define biocapacidade como “a capacidade dos ecossistemas de produzir materiais biológicos utilizados pelas pessoas e de absorver os resíduos gerados pelos seres humanos, nos atuais regimes de gestão e com as atuais tecnologias de extração”.
Esse termo foi apresentado pelo historiador ambiental e geógrafo histórico, o norte-americano Jason W. Moore, que preferia usar o termo Capitaloceno em vez de Antropoceno. Segundo ele, foi o capitalismo que criou a crise ecológica global que está nos levando a uma mudança de era geológica. Uma variante do Capitaloceno, a noção de Ocidentaloceno, declarada particularmente pelo historiador francês Christophe Bonneuil, afirma que a responsabilidade pela mudança climática recai sobre as nações ocidentais industrializadas, não sobre os países mais pobres.
Segundo o sociobiologista norte-americano Edward O. Wilson, os genes tornaram possível o surgimento da mente e da cultura humanas (linguagem, parentesco, religião etc.) e, no sentido inverso, os traços culturais podem favorecer a evolução genética em contrapartida. Isso ocorre por meio da estabilização de determinados genes, que conferem uma vantagem seletiva aos membros do grupo em que o comportamento cultural é observado. Vários antropólogos e biólogos criticaram essa ideia de “coevolução” entre genes e cultura, argumentando que a transmissão de traços culturais é um fenômeno volátil que não obedece às leis da evolução darwiniana. Esses estudiosos também argumentam que, nos últimos 50 mil anos, a humanidade passou por transformações culturais significativas, enquanto o banco genético humano permaneceu inalterado – com apenas algumas exceções.
De acordo com a Global Footprint Network(, esta expressão é “uma medida de quanta área de terra biologicamente produtiva e quanta água um indivíduo, uma população ou uma atividade requer para produzir todos os recursos que consome e para absorver os resíduos que gera, utilizando a tecnologia e as práticas de gestão de recursos predominantes”.
A escala de tempo geológico é caracterizada por diferentes tipos de unidades, éons (períodos de tempo indefinidos, divididos em muitas eras), eras, períodos, épocas e idades (que dividem as épocas em partes menores). Para ser reconhecida como tal, cada subdivisão deve ter condições paleoambientais (características climáticas), paleontológicas (tipos de fósseis) e sedimentológicas (resultantes da erosão por seres vivos, solos, rochas, aluvião etc.), que sejam similares e homogêneas. A Comissão Internacional sobre Estratigrafia (International Commission of Stratigraphy) e a União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences – IUGS) estabelecem os padrões globais para as escalas de tempo geológico. Atualmente, nós vivemos na época do Holoceno, que é associada à sedentarização humana e à agricultura. Se todas as condições acima forem atendidas, o Antropoceno poderá, em breve, ser definido como uma nova época geológica.
Os cientistas concordam que, desde a década de 1950, os ecossistemas foram modificados de forma mais rápida e profunda do que jamais ocorreu – sob os efeitos combinados do aumento sem precedentes do consumo em massa – em países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD), –, do expressivo aumento populacional, do crescimento econômico e da urbanização. O químico norte-americano Will Steffen denominou esse fenômeno de “a grande aceleração”.
A expressão “grande divergência”, criada pelo historiador norte-americano Kenneth Pomeranz, designa a expansão industrial que separou a Europa da China desde o século XIX. Segundo Pomeranz, a distribuição geográfica desigual de recursos carboníferos e a conquista do Novo Mundo deram o impulso determinante para a economia europeia.
A pegada ecológica tem um “equivalente planetário”, ou o número de planetas necessários para sustentar as necessidades da humanidade em determinado momento. Com o objetivo de determinar a pegada ecológica de um país, medimos o número de planetas que seriam necessários pela população mundial se ela consumisse tanto quanto a população daquele país. De acordo com o World Wildlife Fund (WWF), “todos os anos, a humanidade consome o equivalente a 1,7 planeta para atender a suas necessidades”.
A “grande extinção” é a expressão dada a um breve evento em tempo geológico (vários milhões de anos) durante o qual pelo menos 75% das espécies de plantas e animais desaparecem da superfície terrestre e dos oceanos. Das cinco grandes extinções já registradas, a mais conhecida é a do Cretáceo-Terciário, há 66 milhões de anos, que incluiu a extinção dos dinossauros. O biólogo norte-americano Paul Ehrlich sugeriu que entramos agora na sexta grande extinção – embora, por enquanto, sua destruição em termos de números de espécies seja consideravelmente menor do que das outras cinco: 40% dos mamíferos do planeta terão visto a extensão de seus habitats serem reduzidos em 80% entre 1900 e 2015.
Para o mineralogista e geólogo russo Vladimir Vernadsky, que em 1926 desenvolveu o conceito de biosfera, o Planeta Terra é constituído pelo entrelaçamento de cinco esferas distintas – a litosfera, camada externa de rocha rígida; a biosfera, constituída por todos os seres vivos; a atmosfera, o invólucro de gases conhecido como ar; a tecnosfera, que resulta das atividades humanas; e a noosfera, a parte da biosfera ocupada pelo pensamento humano, incluindo todos os pensamentos e ideias. Desde então, outros autores adicionaram a essa lista as noções de hidrosfera (toda a água presente no planeta) e a criosfera (gelo).
O termo biodiversidade se refere à diversidade de ecossistemas, espécies e genes, e a interação desses três níveis, em determinado ambiente. Por analogia, a tecnodiversidade se refere à diversidade de objetos tecnológicos e de materiais utilizados para fazê-los.
Fósseis são os vestígios mineralizados de indivíduos que viveram no passado. Por analogia, os tecnofósseis são os vestígios de objetos tecnológicos.
A tecnosfera se refere à parte física do ambiente que é modificada pelas atividades humanas. É um sistema globalmente interligado, que abrange: seres humanos, animais domesticados, terras agrícolas, máquinas, cidades, fábricas, estradas e redes, aeroportos etc.
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Antropoceno: principais conceitos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU