10 Julho 2020
"A Índia e a China têm uma longa fronteira no norte da Índia, ao longo do Himalaia. Quando os britânicos governaram a Índia, provavelmente devem ter traçado em um mapa uma linha chamada "linha MacMahon", que deveria separar os dois países", escreve Michael Amaladoss, teólogo, jesuíta, fundador e ex-diretor do Instituto de Diálogo com as Culturas e as Religiões, do Loyola College, em Chennai, na Índia, em artigo publicado por Settimana News, 04-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os conflitos nas fronteiras entre Índia e China são ações de distração. A China tem como objetivo controlar todo o sul da Ásia e ter saídas para os portos.
A Índia e a China têm uma longa fronteira no norte da Índia, ao longo do Himalaia. Quando os britânicos governaram a Índia, provavelmente devem ter traçado em um mapa uma linha chamada "linha MacMahon", que deveria separar os dois países.
Dadas as grandes altitudes, poderia haver marcos acordados, mas não indicações concretas, como um rio ou uma crista de montanha.
A China contestou essa linha. Mas a China e a Índia, ao longo dos anos, conversaram e concordaram sobre a que chamam de Linha de controle efetivo. Pelo menos em áreas onde se poderia ir de um país para outro, haveria um patrulhamento periódico.
Mas a China sempre fez reivindicações. Por exemplo, reivindicou todo o estado indiano de Arunachal Pradesh, localizado no canto norte-oriental da Índia como de seu pertencimento, chamando-o de “Tibete meridional".
No noroeste, existe um território chamado Aksai Chin disputado entre três países: Índia, China e Paquistão. Parte desse território era ocupada pela Caxemira. Durante a guerra indo-paquistanesa sobre à Caxemira, uma parte desse território foi ocupada pelo Paquistão. Ao longo dos anos, houve reivindicações e contrareivindicações sobre um ou outro pequeno território ao longo das fronteiras, onde circulavam patrulhas do exército ou se instalavam assentamentos militares provisórios.
Nas últimas décadas, nunca houve um confronto armado. Acredito que exista um acordo para não usar armas de fogo, embora patrulhas armadas possam circular pelas fronteiras. Ambos os lados tentarão de tempos em tempos ocupar pequenas áreas que podem ser militarmente significativas. Mas, no final, os comandantes locais dos dois países se encontrarão e chegarão a um acordo. Acredito que os governos apoiarão esse acordo e manterão suas equipes locais informadas.
Recentemente, os chineses atravessaram a linha de controle na parte indiana por cerca de 50 metros e estabeleceram uma pequena guarnição.
Quando as forças indianas descobriram, opuseram resistência e houve um embate físico, mas sem o uso de armas de fogo, com base em um acordo entre os dois países, no entanto suficientemente sério a ponto dos indianos perderam vinte de seus soldados, incluindo um oficial. Diz-se que a China tenha perdido 43 homens, embora não o tenham reconhecido oficialmente.
Mais tarde, porém, houve três encontros entre os comandantes indianos e chineses para resolver o problema de maneira amigável. Não parece que a China queira uma guerra justamente agora, mesmo que os dois exércitos tenham deslocado suas tropas para a área. As forças aéreas também estão prontas, provavelmente dos dois lados.
Essa área é normalmente coberta de neve. Mas agora é verão. As negociações estão em andamento, mas não acredito que haverá um conflito armado. Os jornais informaram hoje (2 de julho) que a Índia e a China começaram a retirar suas tropas terrestres, exceto no local em que as negociações ainda estão em andamento.
A China tentou ampliar suas fronteiras. Imediatamente após esse conflito nas montanhas do Himalaia, reivindicou um pequeno número de ilhas, ao sul do Japão, atualmente controladas pelos japoneses. Uma semana depois, houve também uma outra reivindicação sobre algumas ilhas próximas às Filipinas. Naturalmente, não são novas reivindicações, mas coisas que se repetem periodicamente.
A recente reivindicação de um determinado território em Aksai Chin pode ser significativa. A China cultivou amizade com o Paquistão, o que lhe permitiu o uso de seu porto no sudoeste do país, para o Mar Arábico. A China parece estar procurando um território no Aksai Chin que lhe permita a entrada direta no Paquistão. O objetivo é cercar todo o sul asiático.
A China promoveu uma "Belt and Road Initiative" (uma rota da seda) tentando alcançar numerosas cidades portuárias, nos pequenos países ao seu redor. Agora investe o dinheiro necessário, mas depois solicitará a devolução. Evidentemente, essas "vias" podem não ser úteis para esses países, mas oferecem um espaço permanente para a China. A Índia obviamente se recusou a participar desse plano.
Uma via desse tipo facilitará o comércio do Paquistão com a China, mas também ajudará o exército chinês a alcançar facilmente as fronteiras ocidentais da Índia, caso for necessário. Trata-se, portanto, também de um problema estratégico militar. De fato, o ministro do Interior da Índia declarou recentemente que procurará recuperar a Caxemira paquistanesa (à força, naturalmente), afirmando que todo o território lhe pertence. Isso bloqueará toda via chinesa naquela região.
O primeiro-ministro indiano, Modi, tentou cultivar a amizade com a China, visitando-a quase anualmente nos últimos seis anos. Também recebeu o presidente chinês na Índia algumas vezes. Também tem havido crescente colaboração econômica. Existem empresas chinesas que colaboram com aquelas indianas. Algumas unidades de montagem na Índia dependem de suprimentos chineses de custo mais acessível. Tudo isso agora está terminando. Há importações chinesas paradas em portos que aguardam liberação na alfândega. Cerca de 51 aplicativos no Whatsapp, como o Tik Tok, pertencentes a empresas chinesas, estão bloqueados para os usuários indianos.
Parece que foi decidido não permitir nenhum investimento chinês em empresas indianas. Os nacionalistas indianos parecem compartilhar entusiasticamente esse boicote. A colaboração entre universidades também pode diminuir.
No plano internacional, os EUA, a Grã-Bretanha e o Japão apoiaram abertamente a Índia. Uma iniciativa do Paquistão para levar o conflito ao Conselho de Segurança da ONU foi bloqueada pelos EUA e outros. Então, no momento, as tensões militares parecem diminuir. Mas qualquer manobra para aproximar as partes será bloqueada. A Índia e a China continuarão a ser rivais do ponto de vista econômico e político. Os países asiáticos menores estão assistindo.
Há também suspeita de que os setores civil e militar do governo chinês discordem. Mas nem a Índia nem a China estão prontas para uma grande guerra.
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O conflito entre China e Índia. Artigo de Michael Amaladoss - Instituto Humanitas Unisinos - IHU