25 Junho 2020
"Treze autores e autoras, atuantes nos Estados Unidos, abordam o problema das raízes cristãs do antissemitismo com a competência dos especialistas e a simplicidade necessária para um livro destinado ao grande público", escreve Marco Cassuto Morselli, em artigo publicado por Settimana News, 24-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
No ano em que se completa o 60º aniversário do encontro entre Jules Isaac e João XXIII, encontro que deu início o caminho que levou à aprovação do documento conciliar Nostra aetate, ainda precisamos novamente nos perguntar quem foi responsável pela morte de Yeshua/Jesus? Sim, precisamos, porque nem mesmo depois do Holocausto o antissemitismo desapareceu do mundo, e porque Isaac justamente mostrou a ligação entre antissemitismo e antijudaísmo.
J.M. Sweeney (editor),
Gesù non fu ucciso dagli ebrei.
Le radici cristiane dell’antisemitismo,
prefazione di E.E. Vetö, introduzione di A. Skorka,
Edizioni Terra Santa, Milano 2020, p. 208, € 15,00.
Treze autores e autoras, atuantes nos Estados Unidos, abordam o problema das raízes cristãs do antissemitismo com a competência dos especialistas e a simplicidade necessária para um livro destinado ao grande público.
Como Barbara Fabbrini escrevia com grande clareza: “Jesus foi condenado por lesa majestade, a pena da crucificação era precisamente aquela imposta por esse crime. [...] Estamos diante de um processo romano, uma sentença romana e uma execução da pena de morte pela autoridade romana, que era a única a ter o sumo poder de condenar à morte na província procuratória da Judeia”. Mas, além da reconstrução do que aconteceu na véspera da Pesah no ano 30, das corresponsabilidades das autoridades do Templo e do comportamento daqueles que estavam presentes na corte pretoriana, é justamente sobre os judeus, incluindo aqueles que estavam em outro lugar, na Galileia, em Alexandria, em Roma, ou daqueles que ainda não haviam nascido, que recaiu por séculos a acusação de "deicídio". E se, depois do Concílio, essa acusação não foi mais viável, ainda assim permaneceria a culpa de "ter rejeitado Jesus".
O padre Etienne Emmanuel Vetö, que dirige o Centro Cardeal Bea de Estudos Judaicos da Pontifícia Universidade Gregoriana, inverte a perspectiva: “De fato, antes de perguntar quem rejeitou e matou Jesus, é necessário perguntar quem o acolheu. [...] Quem então acolheu Jesus? São judeus que acolheram Jesus. São Maria e José, João Batista, Pedro e André, Tiago e João, os outros apóstolos, todos os primeiros discípulos, Ananias e Paulo e os milhares de membros da primeira comunidade judaico-cristã. Eles não seguem Jesus com a intenção de abandonar a fé de seus pais, mas, pelo contrário, com a convicção de estar em plena fidelidade à Aliança e às promessas feitas a Israel" (p. 20-21).
Segue a introdução de Rav Abraham Skorka, amigo do Papa Francisco desde os tempos em que foi arcebispo de Buenos Aires, que apresenta vários exemplos da confusão produzida pela difusão de uma mensagem contraditória de amor e ódio.
O curador do livro, Jon M. Sweeney, é um católico que se casou com uma rabina e, portanto, vive a dimensão inter-religiosa já na intimidade de sua vida familiar: “Existe uma história profunda e horrível de antissemitismo que se insinuou na Igreja cristã. [...] Vocês ouvirão falar de grandes figuras históricas, de teólogos e mestres da fé que inseriram em seus ensinamentos e pregações a difamação do povo judeu, até mesmo caracterizando os judeus como maus ou humanamente inferiores, quase como se a tradição cristã se embasasse nesse tipo de ideias"(p. 41).
A irmã Mary C. Boys, que leciona no Union Theological Seminary, em Nova York, fala da necessidade de um novo ponto de vista para a leitura das Escrituras, que possa dar "um significado mais profundo à nossa própria identidade cristã e abrir novas possibilidades de criar um diálogo com os judeus" (p. 69). Os leitores do NT devem estar cientes de que "as controvérsias do final do I século e início do II século acabaram entrando nas reconstruções do que Jesus havia dito e feito. A linguagem acalorada desses textos reflete as convenções retóricas típicas da antiguidade, nas quais a difamação do outro era uma forma de arte. O que as gerações subsequentes não conseguiram entender, em qualquer caso, é que se tratava de conflitos intrafamiliares, não de controvérsias entre "cristãos" opostos a "judeus" (p. 74).
Massimo Faggioli, professor da Universidade Villanova, na Filadélfia, repercorre as etapas do caminho que levou do "ensino do desprezo" à virada conciliar. “Nostra aetate é o mais curto dos dezesseis documentos finais do Vaticano II. No entanto, o comprimento é inversamente proporcional à sua enorme importância no desenvolvimento da doutrina eclesial" (p. 145). E mais: "A relação especial de alteridade entre judaísmo e cristianismo foi redescoberta pelo Vaticano II e continua sendo um dos legados mais importantes para nossa geração sobre as relações entre judaísmo e cristianismo" (p. 147).
O rabino Sandy Eisenberg Sasso, da Universidade de Indiana, questiona-se sobre a maneira como a relação entre judaísmo e cristianismo é geralmente apresentada às crianças: “O Novo Testamento é frequentemente lido e pregado em oposição ao judaísmo. Jesus é identificado com o perdão e o amor, enquanto os fariseus e os mestres rabínicos que moldaram as bases do judaísmo dois milênios atrás, são identificados com estrita adesão à justiça e às regras. É uma representação incorreta do judaísmo, que é uma fonte de preconceitos" (p. 177).
Outras contribuições são de Walter Brueggemann, "Israel é meu filho primogênito" (Êx 4,22). O pronunciamento de YHWH sobre os antigos israelitas; Nicholas King, O Novo Testamento foi inteiramente escrito por judeus; Richard C. Lux, A teoria da substituição; três textos de Sweeney sobre a liturgia da Semana Santa; Robert Ellsberg, O primeiro mandamento; Wes Howard-Brook, Porque devemos traduzir ioudaioi como "Judeans"; Richard J. Sklba, Diferenças entre os primeiros seguidores de Jesus: o aviso de Paulo aos tessalonicenses; Greg Garrett, "Por medo dos judeus": o antissemitismo nos tempos de João e nos nossos.
O posfácio é confiado a Amy-Jill Levine, de quem acaba de ser lançado em italiano As parábolas de Jesus. As histórias enigmáticas de um rabino controverso (em tradução livre, Effatà editrice).
O ódio mais longo é um ódio que ainda continua. Deve ser enfrentado e combatido com coragem e determinação, para ser transformado em respeito e amizade.
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Jesus não foi morto pelos judeus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU