12 Mai 2020
Os efeitos da pandemia nos menores. Um em cada dez não foi alcançado pelo ensino a distância. Sem escola e esporte, o risco é o isolamento.
A reportagem é de Ilaria Venturi, publicada por La Repubblica, 11-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como estão as crianças e os jovens que também foram atingidos pela pandemia? Eles estão presos pela crise econômica - um milhão de crianças na Itália vivem na pobreza - e correm o risco de isolamento. O alarme vem da Save the Children em seu último relatório que acompanha o lançamento da campanha "Vamos reescrever o futuro", para a qual já aderiram mais de cem personalidades famosas do mundo da cultura e entretenimento, música e jornalismo, negócios e esportes, para apoiar o percurso educacional de crianças e adolescentes que vivem nos contextos mais carentes. O objetivo da ONG é "combater imediatamente a perda de aprendizado, causada pelo fechamento prolongado das escolas, e recuperar a motivação para o estudo para evitar o abandono da escola".
O Relatório contém um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa 40dB para a Save the Children on-line, de 22 a 27 de abril, em uma amostra de 1.003 menores, de oito a 17 anos, utilizando um questionário para observar o impacto das restrições devidas à emergência sanitária sobre crianças e adolescentes italianos e espanhóis. O levantamento inclui uma parcela de 39,9% do total, que está em condições de fragilidade socioeconômica, também devido à crise de Covid19. Uma fotografia da pobreza educacional que se alimenta, em um círculo vicioso, com aquela da crise econômica que empobreceu ainda mais as famílias.
"Não podemos permitir que a epidemia em poucos meses prive crianças e adolescentes na Itália de oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Devemos agir imediatamente para não os privar de seu futuro", declara Daniela Fatarella, diretora geral da Save the Children Italy. Três intervenções sugeridas que dizem respeito à lacuna de aprendizado causada pela suspensão das aulas nas escolas, o apoio necessário às famílias e às escolas. "Para enfrentar o impacto da crise, deve ser lançado com urgência e determinação um plano extraordinário para crianças e adolescentes, com atenção especial aos grupos mais vulneráveis", reforça Raffaela Milano, diretora dos programas Itália-Europa da Save the Children.
Dos aproximadamente 9,5 milhões de trabalhadores que não puderam trabalhar em março, 3,7 milhões vivem em famílias de renda única, metade das quais têm filhos dependentes, onde, portanto, acabou faltando a única entrada econômica. Um impacto esmagador pelo qual, ressalta o relatório da Save the Children, hoje mais um milhão de crianças correm o risco de cair na pobreza absoluta, aumentando assim os atuais 1,2 milhão de menores atualmente certificados em condições de pobreza absoluta e aumentando a porcentagem dos atuais 12% a 20%.
Em particular, a pesquisa realizada pela Organização mostra o quanto são concretas as consequências econômicas do Covid-19 na vida das famílias: quase metade de todas as famílias com crianças com idades entre oito e 17 anos (44,7%) teve que reduzir as despesas com alimentos e o consumo de carne e peixe (41,3%). Um número ainda mais alarmante, considerando que antes do confinamento 41,3% das famílias mais frágeis se beneficiavam do serviço de merenda escolar para seus filhos e para quase todos (40,3%) esse serviço estava isento, ou quase, de pagamentos. Uma em cada três famílias (32,7%) teve que adiar o pagamento de suas contas e uma em cada quatro (26,3%) também do aluguel ou hipoteca. 21,5% das famílias não conseguiram comprar os medicamentos necessários ou tiveram que desistir dos tratamentos médicos devido à falta de dinheiro. Uma em cada cinco famílias teve que recorrer a empréstimos com familiares ou amigos e 15,5% tiveram que contar com ajudas alimentares.
Sempre de acordo com a pesquisa, para as famílias mais frágeis do ponto de vista socioeconômico, o auxílio estatal quase dobrou: 18,6% dos pais se beneficiavam desse recurso antes das restrições devido ao Covid e 32,3 % durante o bloqueio, um dado que inclui a renda de cidadania e outros projetos de ajuda da administrações públicas.
Os níveis de pobreza educacional com a emergência Covid-19 se estendem do sul ao restante da Itália. E para rastrear esse risco, a Save the Children desenvolveu uma série de mapas do risco educacional, com o objetivo de identificar as províncias italianas em que o impacto socioeconômico da emergência em curso sobre os menores poderia ser ainda mais grave. Se é especialmente no sul que se concentram as maiores porcentagens de estudantes em condições de maior desvantagem socioeconômica e cultural, com as províncias de Taranto, Nápoles, Barletta-Andria-Trani que apresentam percentuais superiores a 30%, de um dos mapas elaborados pela Organização, destacam-se algumas províncias do centro e norte, como Prato com 28% e Vercelli com 24,4%.
No que diz respeito à cobertura de creches e serviços para a primeira infância, se é verdade que províncias como Caserta, Crotone e a cidade metropolitana de Reggio Calabria apresentam percentagens inferiores a 2%, em comparação com uma média nacional de 13,5 %, no entanto, foram evidenciadas situações, mesmo no norte, bem abaixo da média nacional, como Treviso, Belluno, Sondrio e Lodi (abaixo de 10%) ou a cidade metropolitana de Veneza, que supera por pouco o 11% .
O desafio do ensino a distância exacerbou as desvantagens e lacunas sociais e territoriais. Na Itália, de acordo com os dados mais recentes disponíveis do Istat, mais de quatro em cada dez crianças vivem em casas superlotadas, sem espaço adequado para o estudo e 12,3% não têm computador ou tablet em casa para acompanhar as aulas a distância, percentual que chega a 20% no sul. Entre crianças e jovens que podem ter essas ferramentas, 57% são obrigadas a compartilhá-las com outros membros da família. No entanto, apenas 30% dos jovens envolvidos no ensino a distância apresenta competências digitais elevadas e adequadas para usar as plataformas online.
É nesse cenário inicial que o ensino a distância encontrou dificuldades objetivas que emergem do levantamento realizado com as famílias da Save the Children: segundo os pais na Itália, o ensino a distância piorou o ritmo escolar de seus filhos em 39,9% dos casos. Em particular, entre os pais em maior dificuldade socioeconômica na Itália, muitos são aqueles que gostariam de uma ajuda mais substancial dos professores (72,4%) e um acesso mais fácil ao ensino a distância (71,5%) porque consideram as atividades escolares mais pesadas para seus filhos (63,4%), difíceis (53,9%), excessivas (46,7%).
Cerca de um em cada 20 pais teme que seus filhos tenham que repetir o ano ou que possam abandonar a escola, taxas que, entre as famílias com maiores dificuldades econômicas, passam para quase um em cada dez e um em doze, respectivamente. Seis em cada dez pais (60, 3%) acreditam que seus filhos precisarão de reforço quando retornarem à escola, devido à perda de aprendizado dos últimos meses.
Ao ouvir a opinião de crianças e jovens, a pesquisa da Save the Children mostra que uma em cada cinco crianças, nesses meses de isolamento em casa e de ensino à distância, tem maiores dificuldades em fazer a lição de casa e 22,4%, entre aqueles que vivem em ambientes familiares com privações socioeconômicas consideram que precisam de mais reforço porque não se sentem seguros nas matérias escolares. Além disso, entre menores de oito a 11 anos de idade, quase um em cada dez nunca assiste aulas ou menos que uma vez por semana, percentual que cai para 3% para estudantes de 12 a 14 anos e para 1,3% para jovens entre 15 e 17 anos, refletindo o fato de que o ensino a distância representa um obstáculo principalmente para os menores.
A falta de oportunidades extracurriculares, a impossibilidade de praticar esportes, atividades artísticas e sair com os colegas, além disso, fecha cada vez mais crianças e jovens em um isolamento social: metade dos garotos entrevistados (51%), de fato, prefere se divertir navegando na internet, 37% nas mídias sociais e 18% jogando online com pessoas que não conhece.
"Temos que agir rapidamente, proteger meninas, meninos e adolescentes da privação econômica e da pobreza educacional. Em um momento tão difícil, não devemos deixar ninguém para trás. E todos se devem engajar que isso não aconteça". Esse é o apelo do Manifesto da campanha Vamos reescrever o futuro lançada pela Save the Children.
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Alarme da Save the Children: mais de um milhão de crianças em risco de pobreza absoluta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU