06 Dezembro 2019
Exibição especial de Uma vida oculta [A Hidden Life] do autor norte-americano, com a última aparição de Bruno Ganz e Michael Nyqvist. Ele acabou de rodar seu filme sobre Jesus, também gravado em Gravina di Puglia e Matera: "Estou muito satisfeito, mas levará um ano antes de poder vê-lo"
A reportagem é de Chiara Ugolini, publicada por La Repubblica, 04-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma tarde com Terrence Malick. O diretor norte-americano mais tímido e misterioso esteve hoje no Vaticano para uma exibição especial na Filmoteca da Santa Sé de seu último filme, Uma vida oculta, apresentado em Cannes em maio passado e nos cinemas italianos em 9 de abril, não por acaso na quinta-feira da Páscoa. Será a idade avançada, ele acabou de completar 76 anos, mas o diretor da Árvore da Vida e Days of Heaven está começando a aliviar sua proverbial privacidade: na Croisette, apareceu de surpresa na exibição de seu filme e hoje, convidado especial para os sessenta anos da Filmoteca, concordou em trocar algumas palavras com os repórteres que vieram encontrá-lo.
Uma vida oculta é a história do pastor austríaco Franz que, chamado às armas e a jurar lealdade ao Führer, é incapaz de conceber a violência e faz objeção de consciência. Preso por traição, é processado e condenado à morte em agosto de 1943. O filme também é a última interpretação de Bruno Ganz, que morreu em fevereiro passado, no papel de um nazista, e do ator sueco Michael Nyqvist, que morreu em junho de 2017, no papel de um bispo. Em quase três horas, o diretor nos leva ao mundo secreto de Franz e sua esposa Franziska, interpretados por August Diehl e Valerie Pachner, o quadro bucólico das montanhas austríacas feitas de muito trabalho nos campos, mas também beleza da natureza, felicidade e cumplicidade com as três filhas muito jovens, três anjinhos loiros com quem Franz brinca e se diverte. Mas, diante da dureza do regime nazista, diante de uma escolha de consciência, Franz não duvida e assim começa seu calvário: primeiro, as censuras dos vizinhos que temem atrair sobre si a atenção dos alemães, depois as ameaças dos nazistas, por fim a prisão, a tortura, a condenação.
"Franz é um mártir, porque escolheu ser fiel à sua consciência - diz Malick depois do filme - como seu sogro diz no filme, é melhor ser vítima de injustiça do que perpetrar uma injustiça. É um filme que eu queria contar há muito tempo, fiquei conhecendo o fato graças a um amigo meu historiador que escreveu sua história, inclusive na Áustria ninguém a conhecia, só voltou a ser falada anos 1970, muitos anos após sua morte. O que os nazistas dizem no filme estava prestes a acontecer: você morrerá, sua família sofrerá, mas ninguém perceberá". Na realidade, graças também ao filme de Malick, a história desse pastor cruzou o mundo, mas o diretor deseja enfatizar a coragem da esposa de Franz: "Ela é tão mártir quanto ele: foi maravilhoso ler as cartas que eles escreveram enquanto ele estava na prisão, incluímos algumas no filme, mas certamente não todas, e convido vocês a lê-las. Ela o apoiou até o fim, apesar da dor".
Terrence Malick acaba de filmar seu último filme, o título provisório The last planet, uma história de alguns episódios da vida de Jesus que ele escolheu ambientar em diferentes locais, incluindo Gravina, na Puglia e Matera. "Acabamos de filmar, estou muito feliz - disse o diretor - Alguns dias atrás, terminamos as cenas no deserto da Jordânia, um filme multicultural com um elenco que reúne atores do Oriente Médio, uma trupe alemã e até artistas italianos no departamento de figurinos e cenografia (figurinista Carlo Poggioli e cenógrafo Stefano Maria Ortolani). Agora, voltando ao Texas para editar o filme, levará pelo menos um ano porque temos muito material. Desde que começamos a usar o sistema digital, acabamos tendo muito mais imagens, o meu momento favorito do trabalho é a edição, não há mais a pressão do set, a incerteza do tempo meteorológico sobre as filmagens. Estou muito feliz por estar aqui no final dessa longa viagem, gostaria de poder ficar mais tempo em Roma. Nós temos um avião pronto para nos levar a Austin”. Nada poderia ter sido mais propício do que a última etapa no Vaticano para a viagem do filme sobre Jesus de Nazaré; no elenco estão Géza Röhrig no papel de Jesus, Matthias Schoenaerts no de Pedro e Tawfeek Barhom no de João.
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Terrence Malick, o diretor do mistério no Vaticano: "O meu Franz, um mártir da liberdade" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU