Bolívia: “É inaceitável o ataque à democracia em nome de Deus”

Manifestações contra a nova presidente provisória da Bolívia. Imagem publicada no twitter de Nicolas Maduro | Fotos Públicas

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20 Novembro 2019

"A bandeira de Whipala é um dos símbolos da plurinacionalidade boliviana. Levar a Bíblia ao Parlamento e usar a violência contra os pobres e a população indígena, em nome do Deus cristão, significa recuperar as práticas colonialistas do passado. A diferença é que desta vez o colonialismo é neoliberal e o Deus por trás do qual essa prática se esconde é aquele do mercado, não o Deus amoroso e misericordioso que conhecemos no Evangelho".

O texto foi publicado no editorial do "Riforma", semanal das igrejas evangélicas batistas metodistas e valdenses, 22-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Um grupo de organizações condena a exploração de símbolos religiosos cristãos em toda a América latina. A Agência Ecumênica de Comunicação (Alc), o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a Coordenação do Serviço Ecumênico (Cease), o Act Fórum Ecumênico do Brasil (Fe), a Diaconia Luterana (Fld) e Koinonia (Presença e serviço ecumênico) divulgaram uma declaração expressando preocupação com a situação na Bolívia e pela exploração de símbolos religiosos cristãos em toda a América Latina: "Na América Latina, estamos testemunhando a exploração do cristianismo como um meio pelo qual grupos das antigas oligarquias retornam aos espaços políticos e implementam programas autoritários e neoliberais em detrimento do povo. O ingresso com a Bíblia no Palácio do Governo do grupo que obrigou Evo Morales a renunciar estigmatiza o perigoso vínculo entre a política autoritária e a exploração da religião".

Na Bolívia, após a renúncia forçada do ex-presidente Evo Morales, que agora está no México, onde recebeu asilo, a oposição nomeou a senadora Jeanine Áñez presidente interina, apesar de não ser alcançado na Câmara e no Senado o quórum necessário para prosseguir com uma eleição devido à ausência de parlamentares do Movimento ao socialismo (Mas), maioria nas duas casas do Parlamento.

"A Bolívia é um país multinacional, formado por uma população indígena que mantém a sua cultura e as suas tradições de maneira vibrante - continua o texto. A bandeira de Whipala é um dos símbolos da plurinacionalidade boliviana. Levar a Bíblia ao Parlamento e usar a violência contra os pobres e a população indígena, em nome do Deus cristão, significa recuperar as práticas colonialistas do passado. A diferença é que desta vez o colonialismo é neoliberal e o Deus por trás do qual essa prática se esconde é aquele do mercado, não o Deus amoroso e misericordioso que conhecemos no Evangelho".

Durante os tumultos que estão desestabilizando o país, a Whipala - a bandeira das nacionalidades indígenas da Bolívia - foi incendiada e removida do Palácio do Governo e dos uniformes dos agentes da polícia.

A feminista María Galindo, do coletivo Mujeres Creando, descreveu, em um artigo publicado no jornal argentino La Vaca, o que ela viveu na noite de 10 de novembro, na qual Evo Morales e Álvaro García Linera apresentaram suas demissões: "Entrar no Palácio do Governo, com uma Bíblia e uma carta na mão para ajoelhar-se diante das câmeras sem ter sido legitimados por um mandato popular, é uma ação fascista e golpista. Queimar as casas dos membros do governo de Evo Morales é fascismo - continua ela. O revanchismo foi às ruas em busca de sangue, em busca de inimigos".

"O Deus do Evangelho não ataca nem viola as múltiplas formas de espiritualidade de um povo - continuam os signatários da declaração. É um Deus que reconhece apenas a linguagem do amor. Como pessoas que desejam manter uma coerência mínima com a fé em Jesus Cristo, não podemos aceitar o ataque à democracia e à violência em nome de Deus na Bolívia, no Brasil e em qualquer parte do mundo". "Pedimos que a ordem democrática, firmemente baseada no secularismo, no plurinacionalismo que respeite a diversidade cultural e religiosa, retorne à Bolívia. Ao povo boliviano, a nossa solidariedade.

Que a Whipala volte a tremular”, concluem as organizações.

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