11 Outubro 2019
As impressões sobre o Sínodo são diversas, dependem de muitos fatores, do lugar que cada um ocupa na assembleia, da realidade local de onde vem e da própria formação. Entre os Padres sinodais está Dom José Adalberto Jiménez, bispo do Vicariato Apostólico de Aguarico, no Equador.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Dom José Adalberto Jiménez
Quando perguntado sobre sua impressão nesses primeiros dias do Sínodo, o prelado capuchinho respondeu que "é muita alegria que sinto, é a primeira vez que estou em um sínodo, mas acho que realmente é um Kairos". Na verdade, não são questões novas, porque "os temas estão de alguma forma no Instrumentum Laboris". Dentre essas questões, destaca-se o clamor da terra, o grito do clamor dos povos amazônicos, a dor que está presente nas comunidades".
Dom Adalberto se referiu às palavras do Papa Francisco no final da congregação geral na quarta-feira, onde disse que “o que chamou a atenção é a violência que está presente no mundo, a violência também na terra, a poluição da água, todas essas empresas petroleiras, mineração, estamos vendo uma destruição muito grande”. Para o bispo de Aguarico, é importante “que essa voz saia, porque estar aqui os padres sinodais é a voz de toda a Amazônia, porque estamos representando uma determinada área da Amazônia e, no final, todos fazemos a Amazônia toda. Não viemos para falar com nossa própria voz”.
Referindo-se ao Instrumentum Laboris, ele enfatiza que "ele já percebeu o sentimento do que trabalhamos nas assembleias, nas reuniões que realizamos e naquele clamor da Terra". Por todas essas razões, ele sugere que "para a comunidade mundial, também para todos nós, deve sair um manifesto, no qual seja feita uma chamada a todos os presidentes das nações". Segundo o bispo, “houve boatos de que esse extrativismo também está atingindo, por exemplo, o Canadá, outros países estão sofrendo, onde a destruição está sendo séria. As empresas de mineração que estão, por exemplo, no Equador, que são do Canadá e as empresas de mineração que são chinesas, que já estão envolvidas no país e estão causando tanto, tanto, tanto dano. ”
Para Dom Adalberto: “Se nós, como evangelizadores, temos que falar sobre a vida, sobre aquela vida em abundância que Jesus traz, e essa vida em abundância está sendo destruída por pessoas que vêm de fora, de que lado devemos estar, devemos estar dos pobres e do lado dos fracos”. Junto com isso, o prelado sentiu como destacado “a questão da formação dos indígenas, que deve ser uma formação missionária, uma formação missionária onde apelamos a todos, à Igreja, tanto leigos como sacerdotes, consagrados, bispos”.
Para isso, é importante, na opinião dele, que “todos temos que acrescentar, é uma região especial, a região da Pan-Amazônia é uma região peculiar e, portanto, também temos que fazer um trabalho formativo completo”. Repetiu-se muito que “eles não nos vejam como visitantes que vamos, celebramos uma Eucaristia e corremos, e não ficamos com o povo”, insistindo que, segundo os indígenas, “não queremos uma pastoral da visita, mas uma pastoral do acompanhamento, não ver ao missionário, como turista que chega e sai da comunidade. Que eles não nos vejam assim, mas como quem acompanha os processos”.
Para isso, “fazer ênfase no apoio aos líderes, apoiar todos os ministérios leigos, sem medo dos ministérios ordenados, mas também apoiando ministérios leigos, catequese, formação, celebração de sacramentos, tudo isso deixar os líderes da própria comunidade, para que ela nasça de dentro e tenha essa característica de acompanhamento”, afirma o bispo de Aguarico. O bispo diz que “nesta manhã estávamos conversando sobre como as comunidades indígenas da Amazônia têm um presente de Deus que é a comunidade. O individualismo não está presente neles, o eu como pessoa não é como no mundo ocidental, uma pessoa solitária. Porque o indígena se concebe em comunidade, como um casal, como um grupo, é a comunidade, é o encontro. Também a interação entre os outros povos que também são comunitários, esse diálogo”.
Junto com isso, “outro aspecto que também é importante é a interculturalidade, mas isso é um diálogo, vamos de fora, vamos de outra cultura, da cultura mestiça, vamos da cultura branca, vamos até eles, mas precisamos perguntar a eles, quem são os primeiros, quem recebe esta mensagem, que seja o porta-voz de sua própria mensagem de salvação”, enfatiza Dom Adalberto.
No primeiro dia de trabalho em grupos linguísticos, que o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação do Sínodo, definiu em seu discurso na sala Stampa, como “momento de troca de ideias, em que cada grupo contribui com seu granito de areia, algo fundamental para que o processo avance”. Nesse sentido, monsenhor Adalberto reconhece que “o que se pretende é que possamos dar linhas mais concretas a todas essas ideias que às vezes permanecem no ar, que chegam a propostas muito específicas, para que possamos apresentá-las à assembleia para que haja uma seleção delas e, se possível, o que é discernido pelos grupos, onde há coincidência, que possa ser aprovada, aquilo que é como o sentimento geral disso”.
Dada a situação que o Equador está enfrentando, em um estado de exceção e toque de recolher, o prelado disse que “quero enviar, também de meus outros irmãos bispos, saudações a todo o Equador, que está passando por esses momentos de agitação na sociedade, de todo o movimento indígena que também se levantou contra o governo”. Ele reconhece que "rejeitamos os movimentos de vandalismo, mas congratulamo-nos com as propostas que são feitas de maneira sensata diante de uma situação de pobreza; tantas pessoas que foram expulsas de seus empregos, há cerca de 30.000 pessoas nos últimos tempos". Diante dessa situação, o bispo afirma que “pedimos ao governo nacional, também pedimos à Assembleia Nacional, uma congruência, uma proximidade com os pobres, ao jornalismo do Equador que não confunda, seja claro, e como Igreja, de aqui, do Sínodo, apoiamos a unidade, apoiamos a paz, mas a paz que resta da justiça”.
Dom José Adalberto Jiménez
Diante de certas situações que estão sendo vividas, o bispo de Aguarico diz que “pedimos ao exército, à polícia, para não reprimir, que sejam os primeiros a estar com o povo também. Que seja controlado de maneira forte, tudo o que é vandalismo, mas que não há excessos”. Também faz "um apelo a todo o país para unir forças em favor da união, que também é hora de orar nestes tempos difíceis pelo Equador". Por todas essas razões, ele afirma que “queremos somar pela justiça e bondade”, ele envia “cumprimentos a todos os equatorianos, nossa bênção daqui, e saibam também que estamos com vocês e esperamos que, mais cedo do que tarde, a ordem seja restaurada, a democracia, a paz no país, já que o Equador é um país de paz, é um país pacífico”.
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“Nestes primeiros dias, destaco o clamor da terra, dos povos amazônicos, a dor presente nas comunidades”, afirma Dom Adalberto Jiménez, bispo equatoriano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU