18 Setembro 2019
Globo Rural acompanhou a viagem da equipe em uma região cercada por áreas de conservação ambiental e terras indígenas.
A mais alta das árvores gigantes da Amazônia está dentro de uma unidade de conservação estadual de uso sustentável, a Floresta Estadual do Parú (PA).
A reportagem é publicada por G1, 15-09-2019.
O Globo Rural acompanhou a viagem de 10 dias comandada pelo engenheiro florestal Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, de Minas Gerais, para encontrar as árvores gigantes na floresta.
Tudo partiu de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificou árvores com alturas muito acima do normal nesta região do estado.
“Em geral, as árvores atingem, em média, 45 a 50 metros de altura, mas a gente começou a perceber que muitas das árvores que a gente tinha identificado chegavam a 80 metros de altura, ou seja, o dobro do esperado para estrutura florestal como um todo”, explica Gorgens.
Com tantas dúvidas para serem solucionados, uma equipe formada por engenheiros florestais de universidades brasileiras e internacionais, como Cambridge e Oxford e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) decidiu encontrar essas raridades.
O pesquisador e a equipe ficaram um ano estudando e organizando para chegar às árvores gigantes do Vale do Jari. Logo no início da viagem, após 10 km de viagem, o primeiro obstáculo: uma cachoeira.
A equipe precisou descarregar os barcos e arrastá-los para prosseguir viagem. Foi necessário quase dia inteiro para passar, por terra, pelos 300 metros que separam a cachoeira do ponto de retomada da navegação.
“A gente ficou um pouco preocupado no início, quando nós tivemos a primeira transposição que levou bastante tempo, até um pouco mais do que a gente esperava, mas os dois dias que se seguiram foram excelentes, as viagens rendendo muito bem”, relata Eric Gorgens.
Após três dias, a expedição chegou bem perto do local. Mas, quando tudo pareceu estar tranquilo, surgiram as corredeiras.
Novamente os pesquisadores precisaram desembarcar e arrastar as embarcações. Um dia inteiro para transpor duas corredeiras.
No quinto dia, terminou a vigem de 300 km de barco e começou uma grande caminhada por dentro da floresta em busca das árvores gigantes.
Os pesquisadores começam a chegar cada vez mais perto do lugar que só conheciam pelo computador, uma recompensa após uma jornada tão longa.
“É a realização de um sonho a gente ter a oportunidade de encontrar um lugar tão especial, com árvores centenárias, onde nunca ninguém pisou antes. Então, com certeza, é uma emoção estar aqui”, disse Gorgens.
O santuário das grandes árvores fica na Floresta Estadual do Parú, no noroeste do Pará. A área protegida tem mais de 3,6 milhões de hectares, tamanho maior que todo o território da Bélgica.
As espécies gigantes são angelins, que estão presentes em todo o Norte do país, com registro também no Maranhão e na Guiana.
“Ela é uma espécie pioneira, que se desenvolve necessitando de sol e nas áreas mais altas, de maior altitude”, explica a engenheira florestal Wegliane Campelo.
A expedição encontrou 15 dessas árvores, que agora serão estudadas pelos pesquisadores, que mediram a circunferência, recolheram amostras do solo, das folhas, dos troncos e retiraram material genético para exames de DNA.
Dos angelins localizados, o menor tinha 70 metros e a média de altura é de 75 metros. O maior de todos tem 82 metros, a maior árvore já registrada na Amazônia.
As árvores gigantes têm entre 400 e 600 anos, afirma o pesquisador da Embrapa Marcus Vinicios D’Oliveira.
Esta riqueza escondida por séculos e que mostra o quanto a humanidade ainda tem a aprender com a Amazônia.
O físico inglês Toby Jackson ficou intrigado em como esses angelins conseguiram crescer e se manter em pé num topo de morro, sofrendo com a ação dos ventos.
“Quando eu estive na Malásia, vi que algumas das árvores mais altas do mundo, com 100 metros de altura. (Elas) estão na base de encostas, mais protegidas”, observa. “Aqui, esses angelins gigantes desafiam nossas teorias porque estão em áreas elevadas. No momento, não conseguimos explicar isso.”
As pessoas da comunidade de Iratapuru, que ajudaram os pesquisadores na jornada, reverenciaram as grandes árvores.
“A comunidade vive há anos na floresta, cuidando dela, vivendo dela, então isso aqui vai ser mais uma parte que vai ser abraçada pela comunidade e ser preservada. Já vimos muitas árvores grandes, mas desse tamanho… são as primeiras”, explica o guia Márcio Freitas.
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Pesquisadores encontram árvore mais alta da Amazônia, que pode ter mais de 400 anos de existência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU