31 Agosto 2019
Para a vida toda e até sempre! Que amanheça! Expressa a carta dirigida às comunidades afetadas pelo extrativismo minerário na América Latina e o Caribe, com a conclusão da IV Assembleia da Rede Igrejas e Mineração, realizada na cidade de Buenos Aires, de 20 a 22 de agosto, de 2019.
O texto e a carta é da Rede Igrejas e Mineração, 22-08-2019. A tradução do texto é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Assembleia reuniu mais de 60 pessoas provenientes de 10 países da região. Estavam entre as pessoas participantes: religiosas, sacerdotes, bispos, pastoras e pastores, leigas e leigos, unidos pela fé e por seu compromisso com os povos e comunidades vítimas do extrativismo minerário.
“Pela memória dos mártires latino-americanos e caribenhos, com a dor, força e dignidade, gritamos: exigimos o esclarecimento dos assassinatos e massacres feitos por empresas, com omissão ou conivência de governos, contra habitantes de territórios, defensoras e defensores da Mãe-Terra, e contra a biodiversidade, nos diferentes países da região, e de maneira extremamente urgente no Brasil, Colômbia, Peru, Guatemala, Honduras e El Salvador”. Afirmam as instituições e pessoas que fazem parte da Rede Igrejas e Mineração, em sua carta final.
Do mesmo modo, levantam suas vozes frente aos incêndios provocados na Amazônia: “recebemos com indignação a notícia dos incêndios criminosos na Amazônia liderados pelo governo Bolsonaro, atentando de maneira direta contra a vida do planeta, dado que a Amazônia é a maior floresta, de cuja transpiração o clima de todo o planeta é dependente, e não somente a América do Sul”.
A IV Assembleia dessa entidade ecumênica mostrou também sua solidariedade com as vítimas e líderes que são criminalizados e perseguidos por defender o meio ambiente e a Mãe-Terra. “Exigimos dos governos dos distintos países da região adotarem as medidas de proteção requeridas para salvaguardar a vida de defensoras e defensores que se encontram ameaçados e exortamos aos povos para resgatar as garantias para o funcionamento pleno da democracia e o exercício de seus direitos”.
“Na celebração amorosa, unidas e unidos na alegria dos quais sabemos que, desde Cristo Jesus, a Vida vence a morte e a dor, faremos de cada luta uma festa: para a vida toda e até sempre! Que amanheça!”, conclui a Carta dirigida às comunidades afetadas pela mineração.
Queridas comunidades ameaçadas, criminalizadas, exploradas e devastadas pelo extrativismo minerário, mas que resistem esperançosas.
Reunidas e reunidos em Buenos Aires, Argentina, de 20 a 22 de agosto de 2019, sessenta leigos, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, pastoras e pastores de 10 países da Nossa América (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México e Peru) e do Reino Unido – compartilhamos com vocês, através desta sentida carta, nossas vozes e a rica experiência que vivemos nestes dias.
Internalizamos e assumimos como nossas as dores, alegrias e esperanças de vocês, que com fé e força intensa enfrentam os impactos, cada vez mais desastrosos, de atividades de mineração em seus territórios que matam pessoas e exterminam a natureza.
Analisamos profundamente as formas e implicações globais da expansão da mineração em todo o nosso subcontinente. Compreendemos que as mudanças climáticas são sintomas terminais do grande dano causado por este sistema capitalista – neoliberal e predatório. Sentimo-nos encorajados pela troca de múltiplas resistências de nossos povos e comunidades, enraizados em seus territórios, alentados em suas culturas e espiritualidades nativas, tradicionais e cristãs. Decidimos e encaminhamos ações para fortalecer essas lutas, sabendo que também delas depende a sobrevivência do nosso planeta, nossa Mãe Terra, Pachamama.
Iluminadas e iluminados pela Cruz Maia e pelas místicas indo-afro-americanas que nos convidaram a harmonizar os caminhos do ser humano com os caminhos de Deus e sua Criação; que nos convidaram a reconhecer as luzes e sombras dos diferentes pontos cardeais aos quais nos referenciamos e a cuja terra pertencemos – queremos dizer-lhes que o nosso coração comunitário se tornou uma cruz e se expandiu para o Oriente e o Ocidente, para o Norte e o Sul desta Terra Latino-Americana e toda a terra que somos e que grita.
Profundamente comovidas e comovidos, humanizadas e humanizados pelas lágrimas do povo de Brumadinho e de seu bispo dom Vicente Ferreira, homenageamos cada um dos nomes dos 272 mortos e 20 desaparecidos, os rios Córrego do Feijão e Paraopeba e toda a sua biodiversidade afetada, vítimas do crime cometido pela mineradora Vale contra essa comunidade.
Além disso, fazendo memória das mais de 60 pessoas assassinadas, das 218 criminalizadas nos últimos 10 anos por causa de conflitos de mineração e de todos os povos e comunidades em resistência na América Latina e no Caribe frente a esse modelo de crescimento infinito e capitalismo por expoliação dos mais vulneráveis, nos tornamos silêncio, indignação, raiva, lágrimas, oração e urgência.
Animadas e animados pelo encontro com as Mães da Praça de Maio e sua corajosa marcha pública que ilumina as marchas de toda a Nossa Casa Latino-Americana e Caribenha; animadas e animados pelo abraço da Madre Norita Cortiñas, que nos convidou a uma paciência persistente, esperançosa e comprometida com a memória, a justiça e a vida – nós nos tornamos em admiração por todas as comunidades que defendem os Direitos Humanos individuais e coletivos, da terra, do meio ambiente e dos bens comuns da Nossa América. Nos tornamos passos para caminhar ao seu lado.
Desde a memória dos mártires latino-americanos e caribenhos, com dor, força e dignidade, nós nos tornamos grito: exigimos o esclarecimento dos assassinatos e massacres cometidos pelas empresas, com omissão ou conluio de governos, contra habitantes de territórios, defensoras e defensores da Mãe Terra, e contra a biodiversidade, nos diferentes países da região, e com extrema urgência no Brasil, Colômbia, Peru, Guatemala, Honduras e El Salvador.
Recebemos com indignação as notícias dos incêndios criminosos na Amazônia liderados pelo governo Bolsonaro, ameaçando diretamente a vida do planeta, já que a Amazônia é a maior floresta de cuja transpiração depende o clima planetário, não apenas da América do Sul.
Exigimos a apuração de responsabilidades e a adoção de medidas de verdade, justiça e redignificação. Exigimos que os governos dos diferentes países da região adotem as medidas de proteção necessárias para salvaguardar as vidas das comunidades e suas defensoras e defensores ameaçados e instamos os povos a resgatar as garantias de pleno funcionamento da democracia e do exercício de seus direitos.
As ações prioritárias que propomos neste contexto nos levam à incidência da Rede nas empresas, Estados e nas Igrejas, à promoção do desinvestimento na mineração do Norte Global, à acolhida dialogante e intercâmbio entre eco-espiritualidades e ao fortalecimento de nossas comunicações.
Desde o nosso coração comunitário, feito cruz e abraço, em solidariedade com as mães latino-americanas que confortam e mantêm a marcha pela justiça e pela memória com toda a esperança, feito passo urgente e grito preciso, queremos ratificar que somos um/uma com vocês e a nossa Casa Comum.
Na celebração amorosa, unidos e unidas na alegria daqueles e daquelas que sabem que, desde Cristo Jesus, a Vida vence a morte e a dor, faremos de cada luta uma festa: pela vida toda e até sempre! Que amanheça!
Buenos Aires, 22 de agosto de 2019
IV Assembleia – Rede Igrejas e Mineração
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Que amanheça! Carta às comunidades afetadas pela mineração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU