Trabalhando através do ativismo dos acionistas, a Província Jesuíta do Oeste dos Estados Unidos (Jesuits West) ajudou recentemente a aprovar uma resolução dos acionistas do Geo Group, um dos maiores grupos de prisões e centros de detenção com alto lucro nos Estados Unidos, para ser responsável pela sua adesão aos Direitos Humanos e ao trato digno dos detidos.
A entrevista é publicada por CPAL Social, 28-06-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Colaborando e trabalhando em associação com investidores e membros do Centro Inter-religioso de Responsabilidade Corporativa ou ICCR (pela sua sigla em inglês) os jesuítas solicitaram que o Geo Group “informe anualmente sobre como colocam em prática sua política de direitos humanos”, em suas 69 instalações prisionais nos Estados Unidos.
Os “Jesuítas do Oeste” foram uma das várias organizações religiosas que compraram há nove anos uma pequena quantidade das ações do Geo Group com a intenção de influenciar nas políticas e nos padrões corporativos: uma tática conhecida como incidência dos acionistas. A aprovação da resolução destinada a Geo é somente um exemplo de como pode ser utilizada a incidência dos acionistas como uma ferramenta poderosa no trabalho de justiça social da Companhia de Jesus.
Nessa entrevista, Pat Zerega, membro da junta diretiva de ICCR, e Nick Napolitano, presidente do Comitê Jesuíta de Responsabilidade de Investimento (JCIR), explicam um pouco mais sobre o ativismo dos acionistas.
Em uma ou duas frases, o que exatamente é o ativismo ou a incidência dos acionistas?
O ativismo dos acionistas utiliza os investimentos das províncias jesuítas para promover mudanças nas práticas corporativas, a fim de trabalhar pela justiça social e econômica, por um planeta sustentável ou "ecológico", e pelo bem comum. É um método para colocar nossos valores de fé para trabalhar de mãos dadas com (ou de acordo com) nossos investimentos.
Quais estratégias estão envolvidas?
A participação ou envolvimento pode variar, desde assinar cartas da comunidade religiosa até apresentar resoluções, participar de reuniões anuais de acionistas ou participar de um diálogo corporativo.
Por que as comunidades de fé estão envolvidas com essa prática?
O trabalho remonta historicamente ao ano de 1971, quando a Igreja Episcopal apresentou uma resolução sobre o apartheid na África do Sul e sobre a presença da General Motors no país. A preocupação e o interesse sempre foram de que os fundos da Igreja possam ser conectados, através de investimentos, a ganhar dinheiro em uma empresa cujas operações de negócios tenham um problema de fé e justiça.
Frequentemente, nossas comunidades de fé fazem contribuições diretas desde o início através de nossas igrejas parceiras, nossos próprios ministérios, membros de nossas congregações religiosas ou organizações com as quais trabalhamos regularmente.
Nossa esperança é ser capaz de ter voz na esfera corporativa — em salas de diretoria e com altos executivos — onde ela não é ouvida atualmente, e ver uma mudança corporativa a partir dessa presença.
Como é a linha do tempo para iniciar um diálogo com uma empresa como a GEO? Nos mostrem todo o processo.
Cada compromisso é diferente. Algumas empresas têm uma longa participação com nossos parceiros no ICCR, e podemos obter o nome da pessoa certa para conversar; Assim, os diálogos podem começar imediatamente.
Outras empresas são novas para nós e escrevemos uma carta solicitando nossa participação em um determinado tópico. Se isso não funcionar, apresentamos uma resolução de acionistas. Muitas vezes, isso faz com que as pessoas certas sejam chamadas na mesa de discussão, para que os compromissos de trabalho possam ser feitos.
Certas "solicitações" de algumas empresas são muito fáceis de converter na realidade, tais como: adicionar uma seção a uma determinada política ou desenvolver um programa de treinamento, como sobre o tráfico de pessoas, e estes podem basicamente ser alcançados em uma temporada de acionistas, com uma segunda temporada para verificar a implementação. Outros diálogos em que uma variedade de temas são apresentados continuam, no entanto, por décadas. Especialmente quando vemos corporações multinacionais com gigantescas cadeias de suprimentos. Parece que algumas dessas conversas durarão por muitos anos.
O tipo de envolvimento em que o JCIR prefere trabalhar ou participar é aquele em que é feito um pedido importante. O compromisso pode ser de 6 a 8 anos e o trabalho entra em uma fase final, quando a empresa mostra que sabe e está preparada para resolver o problema.
Existe alguma preocupação ética com a posse de ações em uma empresa que não lhes entusiasma? Por que não liderar um boicote contra uma empresa da qual você não é adepto?
Os boicotes exigem que um grande número de pessoas tenha um impacto econômico na empresa. Além disso, eles também não pretendem ter voz dentro do conselho de administração ou no de administração. Preocupações éticas sobre investimentos (às vezes chamadas de "lista sem compras") são geralmente tratadas por empresas de filtragem (geralmente chamadas de "lista sem compras").
Investimos nessas empresas o valor mínimo exigido pela SEC para apresentar uma resolução aos acionistas (2 mil dólares). E frequentemente mantemos esses investimentos em uma conta SRI de defesa, separada, para que os benefícios desses compromissos não contribuam à dotação geral de capital.
As empresas temem vocês?
No mundo de hoje, em geral, as empresas estabeleceram formas de se direcionar aos acionistas. É possível que desenvolvam programas de sustentabilidade que informam os acionistas sobre questões ambientais, sociais e governamentais (ESG, por sua sigla em inglês); que tenham "oficiais de escuta" para ouvir a comunidade e conversar com eles, inclusive nas redes sociais; e ter um processo oficial definido para que as relações com investidores possam abordar essas questões.
De tempos em tempos, há uma nova empresa em que os acionistas podem moldar bons modelos de envolvimento ou comprometimento e ensinar a empresa a lidar com essas preocupações.
Pessoas de todas as classes sociais que não são afiliadas ao JCIR/ICCR podem apoiar formalmente os esforços? E se sim, como?
Como a maioria dos investimentos pessoais em aposentadorias é feita em fundos mútuos administrados, não há oportunidades para que a maioria das pessoas participe diretamente de nossos diálogos. No entanto, cada um pode enviar aos gestores de fundos mútuos um guia anual sobre os poderes legais para votar, produzido pelo ICCR, e instruí-los de que essas são as questões importantes sobre as quais eles querem votar a favor.
Qualquer instituição jesuíta que tenha uma doação é bem-vinda para fazer parceria conosco neste trabalho, e essa seria uma maneira de envolvimento de um paroquiano, funcionário ou aluno jesuíta. Várias instituições jesuítas nos EUA mantêm portfólios de defesa que refletem seus interesses, e eles também participam em conjunto conosco na apresentação das resoluções.