01 Julho 2019
Os movimentos direitistas que levaram meio Brasil às ruas para pressionar pela destituição de Dilma Rousseff em 2016 mobilizaram milhares de pessoas neste domingo em 88 cidades, segundo o site G1. As manifestações foram convocadas em defesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, ex-juiz e símbolo da luta contra a corrupção, que está sob pressão desde o início da divulgação de seus diálogos privados com procuradores. Mas os participantes aproveitaram a oportunidade para mostrar seu descontentamento. Sua indignação agora não é contra o Governo, liderado por Jair Bolsonaro, aliado de Moro, mas contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, que muitos acusam de dificultar as iniciativas legislativas governamentais. É a segunda vez em um mês que os bolsonaristas marcham contra outros poderes do Estado.
A reportagem é de Naiara Galarraga Gortázar, publicada por El País, 30-06-2019.
“Isto é uma ditadura do Congresso Nacional, é um Congresso de ditadores que busca seus próprios interesses ...", discursou um dos palestrantes, apresentado como empresário, para uma multidão na avenida Paulista, em São Paulo. As manifestações foram convocadas há três semanas, quando The Intercept começou a publicar as mensagens que semearam dúvidas sobre a imparcialidade de Moro, que ditou a primeira sentença contra Luiz Inácio Lula da Silva. "Vejo, ouço, agradeço", tuitou a seus seguidores o ministro mais popular do Governo. O STF deixou em suspenso, por causa do recesso, a análise de um recurso da defesa de Lula, que requer a suspeição de Moro por parcialidade.
O ministro de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, também clamou em favor de Moro em Brasília. "O ministro Moro teve a coragem de abandonar 22 anos de magistratura para se entregar à pátria sem ganhar nada. E esse homem está sendo colocado na parede para tirarem da cadeia um bando de canalhas que afundaram o país", discursou Heleno, tendo sido bastante exaltado pelo público presente.
O advogado Eduardo Figueiredo, 44 anos, explica que está na manifestação porque "quem rouba quer acabar com a (investigação) Lava Jato. A quem me refiro? Os políticos, os ricos, os poderosos. Imagino que alguns do Supremo, mas não tenho provas ... ". O conteúdo das conversas que The Intercept vem publicando há três semanas lhe parece "o normal entre o juiz e a promotoria" diante de um caso dessa envergadura que "transformou o Brasil". Para ele, o ilegal é divulgar as mensagens.
As mais recentes revelações, publicadas neste domingo em uma colaboração o site com a Folha de S. Paulo, indicam que os promotores inicialmente desconfiaram da principal testemunha contra Lula no chamado caso do triplex do Guarujá. Léo Pinheiro, dono da construtora OAS, mudou a versão ao longo dos meses até que, finalmente, incriminou o ex-presidente e afirmou que veio pedir que ele destruísse provas. Segundo sua versão final, aceita pelo Ministério Público, o apartamento do litoral foi um presente para Lula em troca de contratos com o Governo. Tanto Moro, como a força-tarefa sustentam que não há nenhuma irregularidade. O ministro considera que o vazamento é um ataque às conquistas do país na luta contra a corrupção.
Os brasileiros que responderam ao chamado do Vem pra Rua, Movimento Brasil Livre, Nas Ruas e outros grupos de direita, mais afinados com Bolsonaro —e que, inclusive, hostilizaram o MBL nos atos do Rio e de São Paulo— afirmaram estar ali em defesa do país. Descrevem o Brasil como corroído até as entranhas por uma corrupção que, embora tenha enviado à cadeia uma longa lista de homens antes poderosos, com Lula, ainda persiste. Os entrevistados concordavam em vários pontos: defesa da Lava Jato, que está sob pressão desde que começaram a ser divulgadas mensagens que incluem a aparente orientação de Moro aos procuradores, a defesa da permanência de Lula na prisão (está condenado em um segundo caso e é investigado em vários outros) e a defesa dos grandes projetos legislativos de Bolsonaro. Muitos criticaram duramente a mídia tradicional, apontando a Rede Globo como a grande vilã, e por isso agora dizem que confiam no Facebook e no WhatsApp.
Os manifestantes atribuem as dificuldades nas negociações do Governo com o Congresso para levar adiante a reforma vital das aposentadorias e o pacote de leis contra o crime, elaborado por Moro, a um boicote da Câmaras dos Deputados e do Senado, e não à coexistência comum dos poderes. "A força de Bolsonaro somos nós, o povo. O problema é que não o deixam trabalhar. O Congresso não aprova nada e enquanto isso o Supremo fica soltando gente", diz o dentista Israel Scarponi, 31 anos.
A aposentada Jueli Alvers, de 61 anos, ostenta em sua camiseta uma imensa foto do alinhado Moro. "Eu o amo. Ele é idealista, lutador, honesto. Isso me encanta e eu o respeito. Infelizmente, nossos governantes são corruptos e ele está sendo boicotado no Senado", afirma. Em sua opinião, "o Congresso não é totalmente representativo" e seu presidente, Rodrigo Maia, "é um cara corrupto". "Também estou desapontada com o Judiciário", afirma.
Vânia Belfort, de 36 anos, é mais específica. O que incomoda esta auxiliar de enfermagem é o "ativismo judicial, o fato de estar legislando, usurpando as tarefas do Congresso, em questões como a criminalização da homofobia", recentemente aprovada pelo STF.
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Em dia de novos vazamentos, manifestantes saem às ruas em defesa de Moro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU