08 Mai 2019
"Bolsonaro e sua equipe de pessoas, na maioria desequilibradas e ditatoriais - afirmam que a propriedade particular é um direito “sagrado” (verdadeira blasfêmia!); que os Movimentos de Trabalhadores e Trabalhadoras - que lutam pelo direito à terra (um direito de todos e não só de alguns) e que organizam ocupações de latifúndios improdutivos - são movimentos de criminosos; e que os “proprietários” podem defender suas terras com armas de fogo, matando - se necessário - os ocupantes. Em caso de morte, os “proprietários” poderão ser chamados a depor em juízo, mas - garante o presidente - por serem “pessoas de bem”, não serão condenados. Que loucura! Que barbárie!", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Depois da aprovação do projeto da “Reforma” da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o presidente Bolsonaro agradeceu o empenho do presidente da Câmara Rodrigo Maia e dos demais parlamentares e afirmou: o governo continua a contar com o espírito patriótico dos deputados. Que hipocrisia! Que desfaçatez!
Cortar - com frieza e crueldade - os poucos diretos que os trabalhadores e trabalhadoras pobres conquistaram com muita luta e a duras penas, é espírito diabólico e não espírito patriótico.
Disse ainda o presidente que se nada for feito, o País não terá recursos para garantir uma aposentadoria para todos os brasileiros. Mentira! Enganação do povo! Bolsonaro sabe disso e, mesmo assim, trata os trabalhadores e as trabalhadoras como se fossem idiotas!
Por que o governo desvia dinheiro da Previdência para pagar juros aos banqueiros? Por que não cobra as estrondosas dívidas para com a Previdência das empresas? Por que não taxa as grandes fortunas?
Os governantes e parlamentares que apoiam essa “Reforma” (ou melhor, Antirreforma) perversa e iníqua, são os demônios de hoje. Para obter vantagens pessoais, eles aderem a uma prática política covardemente submissa aos interesses dos poderosos, que se enriquecem sempre mais com a exploração dos pobres. Os ricos e seus asseclas, terão de prestar conta a Deus. Aguardem!
“Agora, vocês, ricos, chorem e gritem por causa das desgraças que cairão sobre vocês. Suas riquezas estão podres e suas roupas foram roídas pelas traças. O ouro e a prata de vocês estão enferrujados e a ferrugem deles será testemunha contra vocês” (Tg 5,1-3).
Outro absurdo de Bolsonaro e seu governo é o menosprezo pela sociologia e filosofia nas escolas e nas universidades, que - infelizmente - faz parte da lógica de um governo ditatorial, disfarçado de democrático. Esse governo quer que os trabalhadores e as trabalhadoras sejam meras máquinas de produção para enriquecer os detentores do poder econômico. Se forem pessoas conscientes que pensam e exigem seus direitos atrapalham os objetivos do governo.
A filosofia - além de ser parte integrante da formação do ser humano enquanto ser racional - é também uma dimensão de profundidade de todas as ciências: exatas, biológicas e humanas (aliás, do ponto de vista do sujeito do conhecimento, todas as ciências são humanas). Por exemplo, um verdadeiro físico é também filósofo da física; um verdadeiro matemático é também filósofo da matemática; um verdadeiro biólogo é também filósofo da vida; um verdadeiro educador é também filósofo da educação; um verdadeiro historiador é também filósofo da história; um verdadeiro jurista é também filósofo do direito. E assim por diante.
Enfim, entre os muitos que ainda poderiam ser lembrados, cito mais um absurdo desse governo, que representa um inimaginável atraso cultural e ético. Bolsonaro e sua equipe de pessoas, na maioria desequilibradas e ditatoriais - afirmam que a propriedade particular é um direito “sagrado” (verdadeira blasfêmia!); que os Movimentos de Trabalhadores e Trabalhadoras - que lutam pelo direito à terra (um direito de todos e não só de alguns) e que organizam ocupações de latifúndios improdutivos - são movimentos de criminosos; e que os “proprietários” podem defender suas terras com armas de fogo, matando - se necessário - os ocupantes. Em caso de morte, os “proprietários” poderão ser chamados a depor em juízo, mas - garante o presidente - por serem “pessoas de bem”, não serão condenados. Que loucura! Que barbárie!
Bolsonaro e sua equipe esquecem - ou fingem de esquecer - que toda propriedade particular, para ser legítima, deve ter uma função social; que (como diz São Tomás de Aquino, cujo pensamento foi assumido pelo Ensino Social da Igreja) a destinação dos bens para o uso de todos os seres humanos é um direito primário e a propriedade particular, um direito secundário (que nunca pode prejudicar o primário).
Ah, se os governantes e políticos - que, com tanta facilidade, usam o nome de Deus em vão - refletissem sobre o projeto de vida, radicalmente revolucionário, de Jesus de Nazaré! Ele é também - ao menos como ideal a ser perseguido - o projeto de seus seguidores e seguidoras. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum. (...) Entre eles ninguém passava necessidade. (...) O dinheiro era distribuído a cada um conforme sua necessidade” (At 4,32-35).
Dia do Trabalhador e Trabalhadora! 1º de Maio Unificado, rumo à Greve Geral (14 de junho)! A luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras é justa e Deus está do seu lado!
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Espírito patriótico ou espírito diabólico? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU