07 Mai 2019
A China foi a líder mundial no II Fórum das Novas Rotas da Seda, que reuniu 150 países que acordaram 283 objetivos no valor de 64 bilhões de dólares. A Rota da Seda, conhecida como a Faixa e a Rota, é o plano-estrela lançado em 2013 pelo presidente chinês Xi Jinping para converter a China em líder mundial indiscutível.
A reportagem é de Luis Gonzalo Segura, publicada por RT, 02-05-2019. A tradução é do Cepat.
O plano já significou para a China um investimento de 460 bilhões de dólares, valor que superará, segundo estimativas, um trilhão de dólares e pode chegar a oito trilhões. Um trabalho faraônico para mostrar o esplendor de uma potência mundial que aspira dominar o mundo através da economia. A Rota da Seda é o arranha-céu chinês.
O gigante asiático pretende investir grandes somas de dinheiro em diferentes projetos em todo o mundo, embora seja verdade que inicialmente a Rota é um projeto essencialmente eurasiano que será usado para construir infraestruturas e serviços chineses, como navegação por satélite BeiDou ou redes 5G da Huawei.
Como esperado, este projeto encontrou desde seu nascimento a oposição dos Estados Unidos e de todos os seus aliados - subordinados -, o que fez com que a maioria dos países europeus não aderisse a ele no início. Nem o Japão, nem a Coreia do Sul. No entanto, a Rota da Seda está conseguindo abrir estradas na Europa, onde já tem parceiros como Grécia, Portugal e Itália, que aumentou o apoio de países ao redor do mundo, da América Latina à África, de tradicionais aliados chineses a países que em raras ocasiões estavam em sua órbita.
A Rota da Seda penetrou de maneira muito importante na América Latina e no Caribe, onde já somam vinte países, e Bolívia, Chile, Peru e Uruguai têm os chineses como seus principais parceiros comerciais.
As críticas ao projeto chinês não demoraram a ocorrer, pois levam em conta que as quantias e condições dos empréstimos chineses - por meio de instituições como o Banco de Desenvolvimento da China ou o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura - podem sufocar as economias dos países que os recebem. Três exemplos foram levantados: Paquistão, Montenegro e Djibuti.
Também se critica a ameaça ambiental representada por alguns dos projetos ou o excessivo controle chinês sobre os mesmos. No alvo dos protestos, podemos encontrar desde a represa Myitsone, em Myanmar, até uma ferrovia na Malásia e o porto de Hambantota, no Sri Lanka.
Essas críticas não são essencialmente legais, do ponto de vista ocidental e capitalista, se levarmos em conta que o programa chinês não é altruísta ou humanitário, mas, ao contrário, visa melhorar as conexões terrestres, marítimas e energéticas da Europa, da África e da Ásia (embora, como vimos, chegou à América Latina e Caribe) em benefício de todos os atores internacionais (estatais, públicos, privados) e isso está sendo feito pela lógica do mercado.
Uma lógica que permite que todos se beneficiem de forma inclusiva e que gera crescimento econômico. De fato, é um projeto que se encontra em termos de bondade a anos-luz da derrubada de regimes que os norte-americanos inventaram para perpetrar a pilhagem de grande parte dos recursos do mundo em favor de suas empresas.
A China é a potência mundial chamada a dominar o mundo após o fracasso do Ocidente, razão mais do que suficiente para tentar não repetir os erros dos americanos ou ceder aos desejos das elites. É verdade que as regras do mercado devem ser aplicadas, mas é necessário que o social e o ambiental tenham, pelo menos, a mesma importância, e que sob nenhuma circunstância os países fiquem sujeitos a dívidas que não podem pagar.
As palavras do presidente chinês a esse respeito são promissoras, pois considera necessário reduzir os custos dos canais de financiamento e promover um desenvolvimento sustentável de alta qualidade, que não esteja sujeito ao protecionismo.
A China é a principal potência do mundo e isso se deve a um papel privilegiado na economia, ninguém nega, mas deve avançar para um modelo diferente do ocidental. Diferente do falido. Porque justamente o que era criticado pelos chineses era a forma com qual o capital era utilizado durante o governo mundial dos Estados Unidos: submissão de países pelo flagelo da dívida, construção de infraestruturas nas quais as nações tinham pouco ou nenhum controle e políticas agressivas e destrutivas do meio ambiente.
Portanto, o desenvolvimento humano e a proteção ambiental devem ser os eixos gravitacionais do poder chinês, juntamente com a melhoria no cumprimento dos direitos humanos em seu país. Isso não significa, de modo algum, render-se ao liberalismo econômico, que propõe o desmantelamento dos estados como suportes do estado de bem-estar social, mas muito pelo contrário.
Porque, embora seja verdade que a China deve melhorar em questões democráticas e humanitárias, não é menor que deva não somente continuar mantendo a estrutura social que possui atualmente, como também a implemente no resto do mundo. Implementá-la por sedução e exemplo. Mas, implementá-la. Esse deve ser seu verdadeiro arranha-céu, sua verdadeira pirâmide. Sua Rota da Seda. Essa é a sua marca de distinção em relação aos Estados Unidos, um país que tem milhões de pessoas pobres perambulando pelas ruas e dormindo em barracas.
Se uma nova potência quer durar, não deve se basear no capital, mas, sim, no social (cultura, educação, saúde) e no meio ambiente. Humanos mais desenvolvidos, um planeta mais limpo e mais democracia (real) serão as chaves para o futuro. E a sobrevivência do Império Chinês. Nenhum conseguiu até agora, talvez porque nunca foram suficientemente generosos.
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China. A Rota da Seda, o esplendor da economia chinesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU