03 Abril 2019
O catolicismo do Papa Francisco e o do cardeal ultraconservador Robert Sarah são tão parecidos como o ovo e a castanha. A última demonstração? Sarah afirmou que “é uma falsa exegese utilizar a Palavra de Deus para promover a migração”, poucos dias antes que o Papa, no Marrocos, qualificasse a dor dos migrantes como “ferida que clama ao céu” e no programa Salvados reiterasse que não entende a “injustiça de quem fecha a porta” aos que fogem de seus países.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 02-04-2019. A tradução é do Cepat.
A defesa dos migrantes é uma má interpretação dos Evangelhos promovida por padres e bispos “enfeitiçados” por questões políticas e sociais, disse Sarah em uma entrevista publicada em Valeurs Actuelles, de acordo com o compilado por Tablet. A conversa com o cardeal foi publicada neste final de semana, durante a visita do Papa Francisco ao Marrocos, onde o Pontífice advertiu que a resposta do mundo, diante da dor dos migrantes, não pode ser “a indiferença e o silêncio”.
“Mais ainda quando se constata que são muitos milhões os refugiados e os demais migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar as vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas. Ninguém pode ser indiferente diante desta dor”, insistiu o Papa. Sentimentos que reiterou no domingo, em entrevista com Jordi Évole, no programa de televisão Salvados, onde disse: “Não entendo a insensibilidade, não entendo a injustiça – injustiça de guerra, injustiça de fome, injustiça de exploração – que faz com que uma pessoa se mude buscando melhorar e a injustiça de quem lhe fecha a porta”.
Clareza do Papa, que coloca em destaque a incoerência da opinião de Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no Vaticano, de que “é melhor ajudar as pessoas a florescer em sua cultura, que lhes animar a vir para uma Europa em plena decadência”. “É uma exegese falsa utilizar a Palavra de Deus para promover a migração. Deus nunca quis estas angústias”, explicou. Pensamento que agrada, entre outros, ao presidente do VOX, Santiago Abascal, que comemorou o fato de Sarah denunciar “a inconsciência daqueles que animam o tráfico de pessoas”.
Os migrantes que chegam à Europa, acrescentou o Cardeal guineense, muitas vezes acabam sem trabalho e sem dignidade. “É isso o que a Igreja deseja?”, perguntou. A Igreja não deve apoiar “esta nova forma de escravidão” porque o Ocidente está em perigo de desaparecer, com sua baixa taxa de natalidade. “Se Europa desaparece, e com ela os valores incalculáveis do Velho Continente, o islã invadirá o mundo e mudaremos completamente de cultura, antropologia e visão moral”, alertou o Purpurado.
São perigos sobre os quais os padres, bispos e até cardeais têm o dever de chamar a atenção, segundo Sarah, mas que diante deles têm medo de proclamar a suposta verdade do catolicismo.
Estes clérigos pró-migração “temem ser desaprovados, ser considerados reacionários. Razão pela qual dizem coisas difusas, vagas e imprecisas para desviar as críticas, e se casam com a evolução estúpida do mundo”, advertiu Sarah.
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Cardeal Sarah afirma que a defesa dos migrantes é uma “falsa exegese” do Evangelho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU