20 Março 2019
"É fato que despejar as mais de 70 famílias de suas casas criará um imensurável problema social", alerta a nota publicada pela Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins.
Ainda, a CPT Araguaia-Tocantins esclarece que "as famílias estão estabelecidas na área há cerca de sete anos e já vivem da terra. Crianças e adolescentes estudam nas escolas da região e a produção da comunidade abastece o município".
Comunidade camponesa de Taboca (Foto: Bruno Alface | CPT)
Uma decisão da juíza Wanessa Lorena Martins de Sousa Motta, da Comarca de Wanderlândia, prevê o despejo de mais de 70 famílias da comunidade camponesa Taboca na próxima quarta-feira (20), em Babaçulândia (TO). A ordem de reintegração de posse é favorável a especuladores de terras que nunca exerceram posse naquela região e, inclusive, sequer vivem no Brasil.
As áreas reivindicadas no processo judicial movido por Markus Max Wirth e outros, em desfavor das famílias que ocupam o imóvel há cerca de sete anos, são arrecadadas e matriculadas em nome da União.
A juíza determinou, em outubro de 2018, o despejo das famílias em uma sentença baseada em possíveis provas carregadas de vícios e apenas testemunhas dos requerentes foram ouvidas em audiência de justificação. Ou seja, provas produzidas unilateralmente cerceando a ampla defesa dos agricultores e agricultoras familiares que ali vivem.
Em julho de 2016, a União ingressou no processo manifestando interesse no imóvel com possibilidade de destiná-lo a interesse social para criação de assentamento ou regularização fundiária para as famílias camponesas.
Desde 2014, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) cadastrou parte das famílias e instaurou processo administrativo para criação de Projeto de Assentamento. No entanto, apesar das inúmeras cobranças das famílias e por morosidade do órgão, o procedimento nunca caminhou conforme previsto.
Na sexta-feira (8), o Ministério Público Federal de Araguaína instaurou inquérito civil público para apurar as irregularidades das matrículas da área em litígio.
As famílias da comunidade Taboca já estão completamente estabelecidas na região. Parte da produção de suas roças – arroz, feijão, mandioca, farinha de puba, abóbora entre outros - abastece o município de Babaçulândia; há um projeto de pesquisa na linha da agroecologia da comunidade em parceria com a Universidade Federal do Tocantins há cerca de um ano; crianças e adolescentes estudam nas escolas da cidade e serão diretamente afetadas pela expulsão da comunidade.
Produção da Comunidade camponesa de Taboca (Foto: Bruno Alface | CPT)
Produção da Comunidade camponesa de Taboca (Foto: Bruno Alface | CPT)
É fato que despejar as mais de 70 famílias de suas casas criará um imensurável problema social. Diante de tudo isso, o regional Araguaia-Tocantins da Comissão Pastoral da Terra declara total apoio às famílias da comunidade Taboca que há anos produzem alimentos saudáveis e diversificados, gerando renda e trabalho a partir do campo, criam seus filhos e filhas e vivem pacificamente na área.
Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins
Araguaína, 18 de março de 2019
Criança brinca na comunidade camponesa de Taboca (Foto: Bruno Alface | CPT)
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Decisão judicial prevê despejo de mais de 70 famílias camponesas em Babaçulândia (TO) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU