08 Março 2019
Dentro de um mundo de múltiplas conturbações, a experiência ascética da ortodoxia constitui um capítulo espiritual extraordinário, uma fonte inesgotável de conhecimento de Deus e do homem: quem enfatiza isso é o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, Arcebispo de Constantinopla, que no discurso catequético para o início da santa e grande Quaresma lembra que "a ascese abençoada, cujo espírito permeia todo o nosso modo de viver, não constitui um privilégio de poucos ou de eleitos, mas um ato eclesiástico, um bem, uma bênção, um apelo comum para todos os fiéis, sem exceção".
A informação é publicada por L'Osservatore Romano, 6 e 7-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
E ele cita a primeira carta aos Coríntios: "Ninguém deve buscar o seu próprio bem, mas o dos outros" (10, 24). Esse é o espírito que predomina ao longo do curso histórico da ortodoxia. Espírito que se exalta no período quaresmal, "o palco de lutas ascéticas, para nos purificarmos, com a colaboração do Senhor, em oração, jejum e humildade, e nos preparar para viver com entusiasmo a Paixão e para celebrar a Ressurreição de Cristo Salvador". Bartolomeu cita o Novo Meterikon (Novos ditados das Madres do deserto) para descrever o “ethos da renúncia do 'meu' em nome do amor". O uso sacrificial da liberdade "é estranho ao espírito de nossa época, que identifica a liberdade com reivindicações pessoais e com o legitimismo".
Em vez disso, na visão ortodoxa, a liberdade "não exige, mas compartilha, não reclama, mas se sacrifica. O crente ortodoxo sabe que a independência e a autossuficiência não libertam o homem do jugo do eu, da autorrealização e da autolegitimação. A liberdade para a qual Cristo nos libertou (Gl 5: 1) ativa as forças criativas do homem, realiza-se como negação da autossegregação, como amor não preestabelecido e comunhão de vida".
O ethos ascético ortodoxo “não conhece divisões e dualismos, não rejeita a vida, mas a transfigura. A visão dualista e a rejeição do mundo não são cristãs. O autêntico ascetismo é luminoso e amigo dos homens" e é "característico de autoconsciência ortodoxa que o período de jejum seja impregnado de alegria da cruz e da ressurreição".
Além disso, continua o patriarca ecumênico, "as lutas ascéticas dos ortodoxos, como também toda a nossa vida espiritual e litúrgica, emanam o aroma e a luz da Ressurreição. A Cruz está no centro da devoção ortodoxa; no entanto, não é o ponto final de referência da vida da Igreja. Este é a alegria inefável da Ressurreição, e a Cruz constitui o caminho para chegar até ela". Portanto, mesmo durante o período da grande Quaresma, "a quintessência vital dos ortodoxos permanece o desejo da ‘Ressurreição comum’". O convite do Arcebispo de Constantinopla é, portanto, rezar "para tornar-se dignos" para percorrer, em obediência à regra da tradição eclesiástica, a "luta comum" do jejum que "suprime as paixões", ajudando aqueles que estão sofrendo e que padecem necessidades, "perdoando-nos uns aos outros" e "em tudo dando graças" (1 Tessalonicenses, 5, 18)”.
O discurso será lido nas igrejas durante o domingo dos laticínios (do perdão), 10 de março, logo após o Evangelho. Esse domingo é assim chamado porque na semana que o precede os ortodoxos não comem carne, mas apenas produtos lácteos, ovos e peixes.
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Patriarca Bartolomeu pela grande Quaresma. A luta comum do jejum - Instituto Humanitas Unisinos - IHU