09 Fevereiro 2019
As pessoas que regularmente frequentam uma casa de culto são mais propensas a serem felizes e engajadas do que as que não o fazem, de acordo com uma nova análise de 35 países realizada pelo Pew Research Center. Se as pessoas ativamente religiosas também são mais saudáveis, isso fica menos claro.
A reportagem é de David Masci, publicada por Pew Research Center, 06-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Conrad Hackett, diretor associado de pesquisa e demógrafo sênior, discute as razões para a realização do estudo, por que o assunto é importante e alguns dos desafios associados à tentativa de determinar se e como a religião afeta o bem-estar das pessoas.
Como surgiu esse estudo?
Tudo começou com uma questão desafiadora de um editor da revista Science. Meus colegas e eu submetemos um artigo à revista que projetava o futuro tamanho das populações religiosamente não filiadas. O editor nos retornou e perguntou por que ele ou alguém deveria se importar se as pessoas se identificavam com uma religião. E, então, eu percebi que, na verdade, não há muita pesquisa sobre como as pessoas com e sem religião variam em questões importantes como saúde, felicidade, voto e voluntariado. É claro, existem pesquisas que relacionam especificamente a participação frequente em cultos com alguns resultados socialmente desejáveis.
Mas, nos Estados Unidos e em outros países semelhantes, a maioria das pessoas não participa regularmente de serviços religiosos. E esses não participantes incluem muitos cristãos e judeus, assim como pessoas que não se identificam com uma religião. Eu percebi que responder à pergunta do editor da Science sobre as consequências da identidade religiosa exigiria um estudo comparativo das pessoas ativamente religiosas, das inativas religiosas e das "nones" em várias medidas de bem-estar em um cruzamento de países. Então, foi isso que nos propusemos fazer.
O que mais há de novo nesse estudo?
Muitos estudos exploraram as ligações entre religião, felicidade, saúde e participação cívica, mas este estudo é muito mais abrangente em dois sentidos importantes. Primeiro, ele não se limita a um país ou a uma fatia da população de um país. Nós analisamos padrões gerais nas populações adultas gerais de 35 países. Segundo, como eu mencionei, nós não observamos apenas como as pessoas “religiosas ativas” são distintas – ou seja, aquelas pessoas que se identificam com uma religião e frequentam cultos pelo menos uma vez por mês –, mas também analisamos como os inativos religiosos e os não afiliados podem ser comparados.
O que você aprendeu sobre a relação entre religião e saúde nos Estados Unidos?
De modo consistente com estudos anteriores, descobrimos que as pessoas ativamente religiosas nos EUA são mais propensas a dizer que são muito felizes, que votam nas eleições nacionais e que estão mais engajadas na vida da comunidade, no sentido de que pertencem a pelo menos uma organização não religiosa. Mas as descobertas acerca da saúde são mais complicadas. Acontece que os ativamente religiosos são menos propensos a beber álcool regularmente ou a fumar. No entanto, eles não são significativamente diferentes dos"nones” em sua frequência de exercícios ou no fato de estarem acima do peso. Também analisamos de perto o estado de saúde subjetivo, que os pesquisadores de saúde descobriram que é uma medida geralmente confiável do bem-estar físico geral. Vemos uma relação positiva significativa entre ser ativamente religioso e ter uma classificação de saúde superior em 11 dos 30 conjuntos de dados que analisamos. Então, nos EUA, a religião está ligada a alguns resultados positivos de saúde, mas não tão consistentemente quanto a ligação entre religião e felicidade.
Quais foram algumas das limitações que os pesquisadores enfrentaram ao estudar a relação entre religião e bem-estar?
Provavelmente, o maior desafio é que, embora os dados coletados em um determinado momento sejam úteis para encontrar associações entre, digamos, religião e felicidade, eles não são adequados para nos dizer por que essa associação existe. Para provar uma relação causal, idealmente teríamos que coletar dados em muitos momentos que nos permitissem medir várias causas possíveis de um resultado. Tais dados nos permitiriam testar, por exemplo, se as pessoas que aumentam sua participação em uma congregação se tornam mais felizes com o tempo, ou vice-versa. E, nesse caso, buscaríamos esses dados em vários países. Infelizmente, não tínhamos esses dados, por isso, compensamos essa falha discutindo explicações plausíveis para as nossas descobertas, além de outros fatores que também poderiam ajudar a explicar os resultados.
Por exemplo, pesquisas anteriores sugerem que as relações sociais que existem em congregações religiosas podem explicar algumas das vantagens da população religiosamente ativa, porque essas relações funcionam como redes de apoio que fornecem assistência para lidar com os desafios da vida, como encontrar um novo emprego ou criar os filhos. Mas outras coisas podem estar em ação também. Por exemplo, pessoas que geralmente têm uma perspectiva positiva e uma boa saúde podem se sentir atraídas para se unir a congregações, enquanto aquelas que têm doenças físicas crônicas podem se distanciar. Em outras palavras, uma parte da explicação que liga a religião e pelo menos alguns benefícios para a saúde pode ser que as pessoas mais saudáveis são mais ativamente religiosas, porque a sua boa saúde permite que elas sejam mais ativas em geral.
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Estudo revela possíveis ligações entre religião, felicidade, saúde e participação social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU