09 Novembro 2018
A aposentadoria do arcebispo de Kinshasa marca o fim de uma era, mas também sinaliza uma nova época para uma Igreja africana inspirada em seu legado.
O comentário é do padre Donald Zagoré, da Sociedade das Missões Africanas, publicado por La Croix International, 08-11-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, 79 anos, que finalmente se aposentou no dia 1º de novembro, tornou-se o símbolo de uma Igreja africana engajada, que se recusa a permitir que a esperança do povo africano seja sacrificada em nome da política.
Ele é um símbolo de uma Igreja que se recusa a ficar em silêncio, para não se tornar cúmplice daqueles apóstolos do mal que mergulharam o nosso continente no luto. E ele é um símbolo daqueles que se recusam a permitir que a morte tenha a última palavra no continente africano.
Através da sua luta pela justiça e pela igualdade dos povos, o cardeal ressaltou a essência do trabalho fundamental e da vocação primordial da Igreja, que é resolutamente dar voz aos sem voz, lutando pela justiça e pela verdade no nosso continente.
Esses dois princípios fundamentais são a medida da nossa convivência como uma sociedade africana única, unificada e reconciliada, em que os africanos já não agem como lobos em relação aos outros, mas como irmãos e irmãs.
Eles são a medida de uma sociedade africana reconciliada, em que, para tomar emprestadas as palavras do arcebispo emérito de Kinshasa, “o estado de direito, e não a lei da força”, reinará.
Através do seu engajamento, o cardeal Monsengwo mostrou a todos nós que a fé cristã envolve uma dimensão política que obriga todos os homens e mulheres de fé a assumirem um compromisso político em solidariedade com os pobres, os marginalizados e os sem voz.
Esse compromisso político é totalmente antitético à “politicagem”, que consiste em tomar o poder, exercê-lo e lutar para mantê-lo. É esse tipo de perspectiva que continua semeando as sementes do conflito, já que sempre há alguém procurando se tornar o chefe.
A missão da Igreja, através do seu engajamento político, não é lutar para conquistar o poder, seja de que tipo for. O compromisso político requerido pela nossa fé cristã é com uma nova ordem social em que a paz e a justiça reinarão, levadas adiante por homens e mulheres de integridade e de moralidade exemplares.
Foi isso que levou o cardeal Monsengwo a proferir a frase que permanecerá para sempre na memória das pessoas: “Que os medíocres se retirem”.
A aposentadoria do cardeal certamente marca o fim de uma era. Mas marca também o início de uma nova era na qual a Igreja africana, nutrida pelo seu legado, será libertada dos seus receios e estará pronta para se sacrificar para que a justiça e a igualdade para o povo se tornem realidades tangíveis para os pobres e marginalizados na África.
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Cardeal Laurent Monsengwo, símbolo de uma Igreja africana engajada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU