Lutero e a polêmica das 95 teses

Lutero afixando as 95 teses no castelo de Wittenberg | Foto: reformedholytrinity.org

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17 Outubro 2018

Quem tiver a oportunidade de visitar a cidade alemã de Wittenberg pode ver no portão da igreja do castelo as 95 teses do monge agostiniano Martinho Lutero gravadas em bronze nas duas portas. Também é fácil encontrar grupos de turistas ou peregrinos que param em frente ao portão que protege esse "símbolo" da Reforma.

Nesse local, em 31 de outubro de 1517, Lutero teria afixado suas famosas 95 teses. Mas esse é um fato verdadeiro ou não?

A informação é publicada por katholisch.de e reproduzida por Settimana News, 16-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Há mais de 50 anos vem sendo questionado pela maioria dos historiadores. Por exemplo, Volker Leppin, autor de vários livros sobre Lutero e a Reforma, escreve que as recentes tentativas para salvar historicamente esse gesto da "afixação das teses" não se sustentam.

Entre essas tentativas podemos ressaltar agora aquela de dois historiadores, Mirko Gutjahr e Benjamin Hasselhorn, ambos colaboradores científicos no Stiftung Luthergedenkstätten da Saxony-Anhalt, que, em 9 de outubro passado, durante uma conferência, apresentaram o seu livro recentemente publicado como convidados da evangelisch.de.

Ambos estão convencidos de que a Reforma certamente teria existido mesmo sem essa iniciativa, porque Lutero havia enviado as suas teses por carta também aos seus superiores. As fontes, no entanto, em sua opinião, falariam muito claramente sobre esta afixação. Haveria - eles escrevem - dois testemunhos explícitos. O mais antigo é o do secretário particular de Lutero, Georg Rörer (1492-1557), provavelmente datado do início da década de 1540; o segundo, de Philipp Melanchthon (1497-1560). Além disso, indicam "duas testemunhas potenciais", Johannes Agricola, confidente de Lutero (1494-1566), e o teólogo Georg Major (1502-1574) "que também relatam a afixação".

Hasselhorn e Gutjahr escrevem que o fato ocorreu em 31 de outubro de 1517, um dia antes de ser exposto aos peregrinos o tesouro das relíquias de Frederico III da Saxônia, o Sábio (1463-1525), e teria sido um "ato de protesto". "Com suas teses, Lutero desafiou a Igreja papal da época - embora alguns anos mais tarde ele tenha se expressado de maneira ainda mais radical". Até mesmo a data de 31 de outubro foi para Lutero muito importante porque naquele dia ele mudou seu sobrenome de Luder para Lutero e, numa carta de 1527, indicou aquele dia como o início de sua luta contra as indulgências. A afixação das teses - apontam os dois historiadores - enquadra-se muito bem com a imagem que Lutero tinha de si mesmo.

Mas eles representam uma opinião minoritária entre os historiadores. Em 1961, o estudioso católico de Lutero, Erwin Iserloh (1915-1996) citou muitos fatos para afirmar que a afixação das teses pertence ao reino das lendas. Melanchthon , por exemplo, que escreveu sobre o fato após a morte de Lutero, assumiu um cargo na Universidade de Wittenberg apenas em 1518. Iserloh também é da opinião de que Lutero não queria provocar seus superiores, mas apenas discutir sobre os problemas teológicos e resolver os abusos. A maioria dos pesquisadores concorda com esse seu ponto de vista.

Em 2007, foi descoberto um memorando do secretário particular de Lutero, Rörer, que muitos historiadores consideraram ser a prova da afixação das teses. Mas resulta que Rörer não estava em Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Além disso, nenhuma impressão original das teses foi encontrada até o momento. Stefan Rhein, diretor da Stiftung Luthergedenkstättendiz, afirma que a tipografia "Bei den Augustinern" Rhau Grunenberg de Wittenberg, no outono de 1517 havia sido transferida para outro lugar e somente no mês de novembro teve condições de retomar os trabalhos de impressão. Gutjahr e Hasselhorn indicam agora a tipografia em Leipzig, Jakob Thanner, como aquela em que o manifesto teria sido impresso.

Como pode ser visto nessas posições opostas, a discussão entre os historiadores está provavelmente destinada a durar ainda por muito tempo.

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