22 Mai 2018
No dia 17 de abril, em uma lanchonete do interior de São Paulo, O Holocausto Animal conversou com um agrônomo que rejeita a exploração animal da pecuária. Como condição da entrevista, sua identidade será preservada — aqui, o chamaremos de Alexandre.
A reportagem é publicada por O Holocausto Animal, 18-05-2018.
Quando era criança, seu avô tinha uma pequena fazenda de leite. Alexandre conta que as vacas respondiam pelo nome e sabiam identificar seus filhos. Por conviver com tal realidade, resolveu se formar agronomia. Hoje, com 30 anos, afirma que a indústria do leite “é escravidão”: “A vaca come, bebe, deita e é ordenhada”.
Segundo Alexandre, a crueldade na pecuária de leite começa no nascimento, quando bezerro e vaca são separados “imediatamente”. Após isso, os bezerros são colocados em uma “casinha”, que pode ter ou não a proteção do sol. “Um caminhão passa depois pegando [o bezerro], levando-o para o matadouro ou outra fazenda”, afirma.
Para o agrônomo entrevistado, existem fazendas “organizadas” e “bem gerenciadas”, projetadas “para dar o melhor ambiente para a vaca”. As fazendas “boas” proporcionam um ambiente menos estressante para os animais — ainda assim, Alexandre diz que é errado.
Questionado sobre a alegação de que as vacas deixariam de produzir leite quando estão doentes ou são maltratadas, alega que “mesmo doente, a vaca produz leite”. Caso receba algum chute ou soco, já flagrado em investigações norte-americanas, a suspensão da produção de leite é temporária, apenas “naquele dia”.
Já sobre a fiscalização nas fazendas, o agrônomo diz que “não tem”, tampouco alguma “punição” quando ocorrem maus-tratos. Explica ainda que a condição da fazenda e possíveis melhorias são sugeridas pelas empresas que vendem leite, pressionando “os produtores a terem práticas melhores”.
Uma das formas da empresa avaliar uma fazenda é por meio da “qualidade do leite”. Alexandre informa que “o padrão de qualidade é medido através da quantia de células somáticas”, ou seja, pus — aquela gosma branca que sai da espinha.
Devido à produção intensiva, a vaca desenvolve mastite subclínica, um tipo de inflamação nas tetas que é assintomática. Se o fazendeiro não esteriliza corretamente o equipamento, a chance de infecção é maior.
Alexandre relata que o pus — glóbulos brancos — é uma forma de a vaca combater a infecção. Por ml de leite, a quantia máxima é de 400 mil. “É muita coisa”, disse.
Ao conhecer de perto a exploração animal, o agrônomo tornou-se vegano. No seu meio profissional, é uma exceção surpreendente, mas também uma consequência do que viu e refletiu: “Se as pessoas conhecessem as fazendas, muitas parariam de tomar leite”, finaliza.
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‘É escravidão’, diz agrônomo sobre a indústria do leite - Instituto Humanitas Unisinos - IHU