Medellín em gotas. 7ª - Situação de Injustiça

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09 Mai 2018

"Infelizmente, esta situação de “injustiça que clama aos céus”, de que fala a Conferência, persiste ainda hoje e, de alguma forma, parece até que se agravou. Mesmo assim, não podemos perder a esperança, sobretudo os e as que somos cristãos e cristãs", escreve frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG), 02-05-2018.

Eis o artigo.

No documento “Justiça” - que é o primeiro - a II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho de Medellín começa afirmando que, além do texto preparatório da Conferência - que certamente não será o último - “existem muitos estudos sobre a situação do ser humano latino-americano”. E reconhece: “Em todos eles se descreve a miséria que marginaliza grandes grupos humanos em nossos povos. Essa miséria, como fato coletivo, se qualifica de injustiça que clama aos céus (reparem: injustiça que clama aos céus)”.

No entanto - continua a Conferência - “o que talvez não se esclareceu suficientemente é que os esforços que foram feitos, em geral, não foram capazes de assegurar que a justiça seja respeitada e realizada em todos os setores das respectivas comunidades nacionais”.

Entre as situações de injustiça citadas, destaco: as famílias, que “muitas vezes, não encontram possibilidades concretas de educação para seus filhos”; a juventude que “reclama seu direito de entrar nas universidades ou em centros superiores de aperfeiçoamento intelectual ou técnico-profissional”; a mulher que “reivindica sua igualdade, de direito e de fato, com o homem”; e os camponeses (ou, todos os trabalhadores e trabalhadoras) que “pedem melhores condições de vida”.

A Conferência constata: “Não podemos ignorar o fenômeno desta quase frustração universal de legítimas aspirações, que cria o clima de angústia coletiva que já estamos vivendo”.

Declara ainda: “A falta de integração sociocultural, na maioria de nossos países deu origem a superposição de culturas. No campo econômico implantaram-se sistemas que encaram só as possibilidades dos setores com alto poder aquisitivo. Esta falta de adaptação ao que é próprio e às possibilidades de nossa população, origina, por sua vez, uma frequente instabilidade política e a consolidação de instituições puramente formais”.

Fazendo, pois, um juízo ético, afirma: “A tudo isto deve-se acrescentar a falta de solidariedade, que provoca no campo individual e social, verdadeiros pecados, cuja cristalização aparece evidente nas estruturas injustas (reparem: estruturas injustas) que caracterizam a situação da América Latina.”

Referindo-se à condição de injustiça, na qual vivem os trabalhadores e trabalhadoras, a Conferência “dirige-se a todos aqueles que, com o esforço diário, vão criando os bens e serviços que permitem a existência e o desenvolvimento da vida humana” e afirma: “Pensamos muito especialmente nos milhões de homens e mulheres latino-americanos, que constituem o setor camponês e operário. Eles, na sua maioria, sofrem, esperam e se esforçam por uma mudança que humanize e dignifique seu trabalho. Sem desconhecer a totalidade do significado humano do trabalho, aqui o consideramos como estrutura intermediária, enquanto constitui a função que dá origem à organização profissional no campo da produção”.

Com realismo, afirma: “Muitos de nossos trabalhadores/as, se bem que venham adquirindo consciência da necessidade de transformação (para uma economia verdadeiramente humana), experimentam, simultaneamente, uma situação de dependência ante os sistemas e instituições econômicas inumanas, situação que, para muitos deles, aproxima-se da escravidão não apenas física, mas também profissional, cultural, cívica e espiritual”.

Por fim, denuncia: “O sistema empresarial latino-americano e, devido a ele, a economia atual, corresponde a uma concepção errada sobre o direito de propriedade dos meios de produção e sobre a finalidade mesma da economia. A empresa, numa economia verdadeiramente humana, não se identifica com os donos do capital, porque é fundamentalmente uma comunidade de pessoas e unidade de trabalho (reparem: uma comunidade de pessoas e unidade de trabalho) que necessita de capital para a produção de bens. Uma pessoa ou um grupo de pessoas não pode ser propriedade de um indivíduo, de uma sociedade ou do Estado”. Que ideal bonito! A empresa como “comunidade de pessoas e unidade de trabalho” não é a utopia de todos os trabalhadores e trabalhadoras! Lutemos por ela!

A respeito do sistema liberal capitalista e do sistema marxista (o chamado “socialismo real”, que - mesmo tendo contribuído para uma maior igualdade e justiça social - foi, de fato, um capitalismo de estado), a Conferência afirma: “Ambos sistemas atentam contra a dignidade da pessoa humana; um porque tem como pressuposto a primazia do capital, seu poder e sua discriminatória utilização em função do lucro. O outro, embora ideologicamente defenda um humanismo, vislumbra melhor o homem coletivo e na prática se transforma numa concentração totalitária do poder do Estado”.

Infelizmente, esta situação de “injustiça que clama aos céus”, de que fala a Conferência, persiste ainda hoje e, de alguma forma, parece até que se agravou. Mesmo assim, não podemos perder a esperança, sobretudo os e as que somos cristãos e cristãs.

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